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Estado de Minas MUSEU DA INCONFIDÊNCIA

Joia da arquitetura doada a Ouro Preto

Museu recebe exemplar da obra "Perspectiva Pictorum et Architectorum", que circulou em Minas no século 18 e pode ter influenciado o trabalho de Aleijadinho


29/07/2022 04:00 - atualizado 29/07/2022 06:37

O livro (em primeiro plano) é apontado como um dos mais importantes para artistas e arquitetos do século 18: 'É uma 'bíblia'', explica o professor e pesquisador Dornelles Dangelo
(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)

 

Ouro Preto – Um tesouro escrito no século 17, na Europa, está agora disponível aos olhos e atenção dos mineiros. O Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, na Região Central do estado, recebe, hoje (29/7), uma doação importante para enriquecer ainda mais seu precioso acervo. No ano em que o país comemora o Bicentenário da Independência, o monumento na Praça Tiradentes, no Centro Histórico, recebe o livro “Perspectiva Pictorum et Architectorum” (do latim, Pintura e Perspectiva em Arquitetura), de autoria do irmão leigo jesuíta Andrea Pozzo (1642-1709). A obra circulou em Portugal, no litoral do Brasil e na região de Minas Gerais na segunda metade do século 18.

 

“Trata-se de um dos livros mais importantes para os artistas e arquitetos que atuavam nas vilas do ouro, em Minas, no século 18. Na verdade, é uma ‘bíblia’, obra de referência e fonte de inspiração para muitos especialistas, conforme dissertações e teses já publicadas”, explica o professor e pesquisador da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), André Guilherme Dornelles Dangelo. Com a Associação de Apoio ao Patrimônio Cultural e Ambiental Brasileiro, sediada em Barbacena e presidida por Alex Guedes dos Anjos, André Dangelo intermediou o processo de doação da obra ao museu. Ele informa que, no Brasil, só há outro exemplar, na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro (RJ).

 

Pozzo publicou, entre os anos de 1693 e 1700, os dois volumes do “Perspectiva Pictorum”, que compõem um tratado único de arquitetura, geometria, perspectiva e de modelos artísticos ligados à arte contrarreformista, sobretudo no que diz respeito aos modelos usados pela Ordem Jesuíta, da qual fazia parte. Conforme documento divulgado pelo Museu da Inconfidência, vinculado ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), a obra é reconhecida por expor as técnicas de perspectiva para a arquitetura e pintura sacra de forma clara e, por isso, foi muito consultada ao longo do século 18. No formato retangular, com 60 centímetros de altura por 40cm de largura, reúne texto e desenhos. Segundo o diretor do Museu da Inconfidência, Alex Calheiros, o livro ficará na biblioteca da instituição, disponível para pesquisa.

 

BARROCO Os estudos mostram que Pozzo apresentou recursos arquitetônicos e ornamentais profundamente usados nas composições do barroco romano, a partir dos anos finais do século 17, e que teriam grande influência em todo o mundo onde ainda imperava a arte barroca. O tratado teve várias reedições ao longo do século 18 por toda a Europa, principalmente na França, Alemanha, Inglaterra e Itália. O que está sendo doado é uma edição da primeira metade do século 18.

 

Vista do Museu da Inconfidência que vai abrigar o livro raro, doado por um colecionador particular desejoso de que o manuscrito ficasse em instituição pública sediada em Minas
(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

 

Com base em pesquisas recentes de mestrado e doutorado na UFMG e em outras universidades brasileiras, foi atestada a “presença” do tratado de Andrea Pozzo no rol de bens de artistas do século 18 residentes em Minas. Entre eles, o pintor Caetano Luís de Miranda, de Diamantina, que possuía o “Perspectiva Pictorum” em sua biblioteca.

 

O mesmo tratado aparece arrolado nos livros de arquitetura do importante entalhador lisboeta atuante em Ouro Preto, Caeté e Mariana, José Coelho de Noronha, e consta ainda que cópias manuscritas estiveram na posse de outros oficiais envolvidos na produção artística e arquitetônica local. Os especialistas destacam que o tratado de Pozzo possivelmente influenciou a obra de arquitetura e talha de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, apontado pelo crítico Germain Bazin como discípulo de Coelho de Noronha.

 

DOAÇÃO O tratado doado ao Museu da Inconfidência foi adquirido de um colecionador particular desejoso de que o manuscrito ficasse em instituição pública sediada em Minas. A aquisição foi feita via recurso de fundo internacional captado por meio da Associação de Apoio ao Patrimônio Cultural e Ambiental Brasileiro, sediada em Barbacena, na Região Central do estado, e presidida por Alex Guedes dos Anjos, advogado e historiador. A única restrição da Associação doadora é que o precioso documento fique guardado na sede do Museu da Inconfidência, não podendo estar abrigado em outro estado, salvo em situações específicas que envolvam saída para restauração, caso necessária, e/ou exposição de curta duração.

 

MANIFESTO A importância da aquisição do livro foi destacada em um “manifesto” pelos professores Magno Moraes Mello (Escola de Arquitetura da UFMG), Aziz de Oliveira Pedrosa (Uemg), Marcos Tognon (Unicamp) e Rodrigo Baeta (Universidade Federal da Bahia). A cerimônia de doação será às 15h, no auditório do Anexo do Museu da Inconfidência, no Centro Histórico de Ouro Preto. 


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