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Estado de Minas COVID-19

Após 2 anos de pandemia, vacinação é grande desafio no Brasil

Desde o primeiro caso de contaminação pelo coronavírus no país, em fevereiro de 2020, a ciência aprendeu, mas imunização ainda é baixa, segundo a Fiocruz


26/02/2022 04:00 - atualizado 26/02/2022 07:39

 Movimento na Praça Sete, no Centro de BH
Para infectologista da Fiocruz, vacinação de reforço tem de alcançar ao menos metade da população, e sobretudo o grupo de idosos, para o controle da doença (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press - 13/12/21)
O Brasil completa, hoje, dois anos de uma batalha ainda a ser vencida contra a COVID-19, e, agora, marcada pelo dilema da cobertura vacinal. Após atrasos no acesso à vacina, um balanço superior a 640 mil mortes provocadas pela doença respiratória – número que representa ao redor de 11% dos óbitos no mundo –, negacionismo e fake news sobre a infecção viral, o desafio é fazer com que ao menos 50% da população seja imunizada com a dose de reforço.

A despeito do recente avanço da cepa Ômicron, com alto poder de contágio, os indicadores da infecção viral voltaram a recuar. A expectativa é de que a partir de março a ciência, que tanto aprendeu sobre o coronavírus, possa discutir a mudança de status de pandemia para endemia.

Ao Estado de Minas, o infectologista Julio Croda, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), explicou que num cenário de endemia, ondas sazonais de contaminação não deixarão de existir, mas o impacto delas será menor, tanto em internações hospitalares quanto na forma de casos graves que levam à morte.

Outra consequência de um novo patamar de caracterização da COVID-19 será a progressiva liberação de protocolos sanitários e medidas mais restritivas ao funcionamento das atividades econômicas, como toque de recolher, lockdown, fechamento de atividades não essenciais e, inclusive, o uso de máscara.

Ainda assim, preocupam as possibilidades de novo recrudescimento de contaminações depois do carnaval e a possibilidade de surgimento de outra cepa altamente transmissível do coronavírus. No entanto, Julio Croda considera uma perspectiva mais positiva.

“Pode diminuir a velocidade de queda da curva de casos, de hospitalizações e óbitos, mas se não houver uma nova variante que tenha maior transmissibilidade, teremos uma retomada da onda epidêmica”, afirma o pesquisador, que é também presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT).
 
Croda alerta que o país precisa avançar na cobertura vacinal da dose de reforço, chegando, pelo menos, a 50% de toda a população imunizada com a 3ª dose. A maioria desse público deve ser de idosos, ressalta o pesquisador da Fiocruz. “Os idosos precisam de mais doses de reforço, para se protegerem ainda mais em hospitalização e óbito porque são o grupo ainda mais vulnerável. Das pessoas não vacinadas, é a população em geral com risco extremamente elevado”, destaca.

Na avaliação de Croda, o Ministério da Saúde deve abraçar duas estratégias nessa nova etapa de enfrentamento à doença, ambas ligadas à cobertura vacinal. Além de dar continuidade à imunização da população em geral, será preciso intensificar a aplicação das doses de reforço no público acima de 50 anos. As estimativas são de que 79,8% dos brasileiros com mais de cinco anos se vacinaram com a primeira dose de imunizante e 73% foram protegidos com a segunda injeção.

O placar em Minas Gerais supera a média nacional, com 85,8% da população acima de 5 anos imunizada com a primeira dose e 80,8% receberam a segunda injeção. O reforço foi aplicado em 41,6% dos mineiros, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). A vacinação, como observa o infectologista Julio Croda, garante proteção, principalmente, de reposta celular que previne hospitalização e óbitos.

“À medida que avançamos na vacinação, a letalidade associada à doença deve diminuir, assim como o risco de hospitalização e óbito e, portanto, menos impacto terá a doença na sociedade”, afirma o pesquisador da Fiocruz. Ele acredita que a partir de março já será possível pensar em tornar o status de pandemia para endemia, quando se manifesta em determinada região e os serviços de saúde já estão preparados. “É possível, mas ainda precisamos ter uma queda na média móvel de hospitalização. Estamos na queda da média móvel de casos, internações e a próxima média móvel que deve cair é a hospitalização.”

Fake news 

Em 26 de fevereiro de 2020, o Brasil confirmou o primeiro caso de COVID-19, em São Paulo, com a contaminação de um homem de 61 anos que havia viajado para a Itália. A grande preocupação das autoridades públicas de saúde é de uma nova onda da infecção após o feriado de carnaval. Embora as festividades nas ruas tenham sido canceladas, pelo segundo ano, para evitar a disseminação do vírus, ainda geram alerta.

Julio Croda considera que, em um cenário favorável, a velocidade da transmissão vai ser reduzida e vai levar mais tempo para atingir indicadores pré-Ômicron. “Com as coberturas vacinais similares às da Europa, com 50% a 60% da população com dose de reforço e com indicadores de casos e hospitalizações, que já estão em queda, mas principalmente de óbitos, que deve iniciar a queda antes do carnaval, a partir do meio de março, se esses indicadores forem similares ao período pré-Ômicron com elevada cobertura de doses de reforço, podemos pensar em diminuir medidas restritivas”, avalia.

A liberação pode começar a ser feita pelo fim do uso de máscaras ao ar livre, com risco menor em locais de baixa transmissão do vírus, e, depois, pela retirada de máscaras em locais fechados. O passo seguinte será avaliar o isolamento ainda recomendado, e o isolamento em casos confirmados da doença.

Contudo, ele pondera que, para isso, as iniciativas do governo federal devem privilegiar comunicação mais assertiva com a população. “É importante que o Ministério da Saúde faça esse contraponto, principalmente no que diz respeito à dose de reforço. A gente tem cobertura muito baixa de doses de reforço no Brasil. Precisamos avançar – existe vacina disponível, é importante uma comunicação assertiva, uma busca ativa, e do combate à disseminação de informações falsas através de aplicativos de mensagem e de redes sociais”, conclui.

* Estagiário sob supervisão da subeditora Marta Vieira


BALANÇO
Infectados
» Brasil 28.578.647
» Minas Gerais 3.181.947

Mortes
» Brasil 647.390
» Minas Gerais 59.539
 
 

Proteção essencial contra novas cepas


O avanço da variante Ômicron do coronavírus impressionou entre janeiro e meados deste mês, com escalada de casos de contaminação. Segundo os dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), nos 853 municípios mineiros o governo registrou 489.596 diagnósticos da COVID-19, ao todo, em janeiro, o que representa pouco mais de 65% de todos os casos registrados da doença em 2021. Quanto às mortes, foram confirmadas 655 vidas perdidas.

Neste mês, até quarta-feira, foram registrados 446.177 casos de contaminação e 1.993 óbitos em decorrência da infecção viral. Com o triplo de mortes por COVID-19 registradas em janeiro, fevereiro preocupou as autoridades de saúde.

O infectologista Dirceu Greco, professor da Faculdade de Medicina da UFMG e presidente da Sociedade Brasileira de Bioética, recomenda cautela. “Se temos 80% de vacinados, temos 20% não vacinados que não completaram a segunda dose. Isso são cerca de 4 milhões de pessoas que estão em risco e isso é um problema. Essas pessoas, evidentemente, vão facilitar para que todos os outros entrem em contato com o vírus”, observa.

Sem vacinação universalizada, Greco diz que novas variantes encontram campo aberto para se desenvolver. “Até hoje não se sabe a durabilidade da resposta vacinal, por isso é melhor que todos continuemos com muita prudência. Enquanto tiver pessoas não vacinadas, podem aparecer novas variantes mais ou menos graves do que a atual”, completa.

A expectativa é de que assim como alguns países da Europa, que há algum tempo sofriam com uma alta nos casos da doença, o número de contaminados no Brasil comece a cair cada vez mais. Para efeito de comparação, em 21 de janeiro, os Estados Unidos alcançaram a marca de 822.963 contaminados em um período de 24 horas. Na última terça-feira, aquele país teve 99.820 novas ocorrências da doença.  
 

Memória

Dias dramáticos

Sem oxigênio suficiente, foi necessária a transferência de pacientes do Amazonas para outros estados
Em Manaus, crise de oxigênio provocar corrida a cilindros e mortes de pacientes (foto: Sandro Pereira/Estadão Conteúdo %u2013 14/1/21 )

Momentos graves de falta de leitos hospitalares para atender pacientes com a COVID-19 chocaram o Brasil durante o enfrentamento da pandemia, em meio à crise política e ao conflito aberto pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), que manteve posturas negacionistas e contrárias às medidas restritivas como prevenção contra a doença adotadas pelos governadores. Em janeiro do ano passado, a falta de oxigênio medicinal em Manaus, que levou à disputa de cilindros pelos familiares de pacientes tratados até mesmo em casa (foto), representou um dos dramas mais marcantes no combate à doença. A falta de oxigênio provocou mortes no Amazonas e a remoção de dezenas de contaminados para outros estados. Quando a crise foi noticiada, em meados de janeiro, a escassez de gás já era do conhecimento dos governos federal e estadual e da empresa responsável pelo fornecimento do insumo.



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