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Estado de Minas SABIA NÃO, UAI!

Um país dentro de Minas: a história da República de Manhuassu

A derrota política pela Prefeitura de Manhuaçu que levou a uma invasão armada e à criação de um país que teve até moeda própria, o boró


19/11/2021 07:00 - atualizado 20/12/2021 15:55

coronel Serafim em cima do cavalo
10 de maio a 03 de junho: os 123 anos da República Manhuassu (foto: Secretaria de Comunicação Social de Manhuaçu/Divulgação )

Você sabia que já existiu um país dentro de Minas Gerais? Essa história ocorreu em Manhuaçu, na Zona da Mata. Em 1896, o coronel Serafim Tibúrcio da Costa liderou um grupo de aproximadamente 800 homens armados na invasão da cidade. O bando decretou a região como um país independente: a República de Manhuassu. O país durou 22 dias, tempo que decorreu entre ocupação e a retomada da cidade mineira pelo Exército, e teve até moeda própria, o boró.

Além de delegado, o coronel era famoso na cidade por sua atividade de coletor de impostos. De acordo com pesquisa da Secretaria de Comunicação Social de Manhuaçu, durante o período em que morou lá, Serafim também acumulou denúncias de assassinato e outros crimes. Mesmo assim, chegou a ser prefeito, no fim do século 19.



A reviravolta ocorreu quando ele tentou se reeleger, mas foi derrotado. Serafim Tibúrcio não se conformou com o resultado e partiu para a capital mineira para falar com o Governador do Estado, Crispim Jaques Bias Fortes, que não deu ouvidos à reclamação do derrotado.

Ao retornar, Serafim encontrou a região do Bairro Coqueiro completamente desabitada pelo então Coronel Nicolau da Costa Matos (Ex-chefe do Executivo, o 3º Prefeito), nomeado delegado de polícia pelo novo prefeito, o Vigário Odorico Dolabela. Os moradores do bairro seguiram Serafim Tibúrcio para fora do município, em entendimento que o coronel se mudaria para Caratinga de vez, dando término à sua vida política.

foto antiga de coronel Serafim em cima do cavalo
10 de maio a 03 de junho: os 123 anos da República Manhuassu (foto: Secretaria de Comunicação Social de Manhuaçu/Divulgação )


O coronel ficou fora de Manhuassu – na época o nome era escrito com "ss" – por mais de um ano, até retornar em fevereiro de 1896, acompanhado de mais de 20 cavaleiros.

reprodução em preto branco de uma cédula de 1000 borós, a moeda criada na República de Manhuassu
Cédula de 1.000 borós, a moeda criada nos 22 dias de existência da República de Manhuassu (foto: Reprodução)


“Ele se apresentou à prisão a fim de ser submetido a julgamento em processo que contra ele tinha sido instaurado e em que fora pronunciado por crime de morte. Submetido o processo a julgamento, foi absolvido e relaxado da prisão. Permaneceu então na cidade, com os indivíduos que tinham vindo em sua companhia e fez entrar na cidade avultado número de capangas recrutados nas matas de Caratinga e Peçanha. Com este séquito, ameaçou e afrontou as autoridades da comarca fazendo passear armados de carabina e garrucha seus companheiros e amigos”, diz um texto da prefeitura da época.

Controle das "fronteiras"

Com a cidade sob domínio do coronel, as fronteiras foram fechadas e o território tomado por capangas. O Governador do Estado, Crispim Jaques Bias Fortes, “enviou força policial de 25 praças que não chegaram a alcançar a região de Rio Casca, pois foi rechaçada. Mais tarde, novo contingente de cem homens foi enviado. Estes também não conseguiram penetrar, e, acabaram se deslocando para Carangola, onde tiveram a notícia de que Serafim Tibúrcio havia dominado a cidade e feito se aclamar governador ou presidente", relatou o texto da prefeitura.

Retrato do coronel Serafim em preto e branco
Coronel Serafim Tibúrcio teria retornado raras vezes a Manhuaçu, aparecendo de vez em quando, por ocasião das eleições municipais (foto: Secretaria de Comunicação Social de Manhuaçu/Divulgação)


O governador então pediu ao Presidente da República, Prudente de Moraes, o auxílio para derrotar as forças do Coronel Serafim. O presidente enviou soldados do Exército e houve mortes nos conflitos.

Ciente de que o número de soldados das tropas federais era bem maior que o de pessoas envolvidas com sua causa, “o coronel desiste de lutar e ordena aos revoltosos que partam em direção ao Estado do Espírito Santo”. Com isso, a República Manhuassu terminou em 3 de junho de 1896.

A morte de Serafim

O coronel Serafim Tibúrcio da Costa faleceu em 19 de novembro de 1919, de causas naturais, aos 68 anos, em Espera Feliz, a cerca de 70 quilômetros de Manuaçu. O caixão foi transportado por trem de ferro e, jornais da época, registram que o cortejo foi acompanhado por um grande número de pessoas.

Em 1977, ano do centenário de Manhuaçu, foi esculpido um busto em homenagem à memória do coronel, mas a obra ficou guardada durante muito tempo aos cuidados da Casa de Cultura.

busto do coronel Serafim na Praça
Busto do coronel Serafim foi instalado na Praça Carlos Alberto de Castro (foto: Secretaria de Comunicação Social de Manhuaçu/Divulgação)


Há alguns anos, o busto foi instalado na Praça Carlos Alberto de Castro, entre a Avenida Salime Nacif e a Rua Capitão Luiz Quintino de Souza, próximo ao Palácio da Cultura e à EE Antônio Wellerson, e lá permanece.

Atualmente, a Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura de Manhuaçu, juntamente com o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, prepara o inventário para tombar como patrimônio histórico o busto do ex-chefe do Executivo Municipal. Também no Bairro Coqueiro, está situado a rua que recebeu o nome do coronel, segundo informações da Secretaria de Comunicação Social de Manhuaçu.
 

Sabia Não, Uai!

O Sabia Não, Uai! mostra de um jeito descontraído histórias e curiosidades relacionadas à cultura mineira. A produção e apresentação são feitas pela repórter Déborah Lima, que conta com o apoio do vasto material disponível no arquivo de imagens do Estado de Minas, que inclui ainda as publicações dos extintos Diário da Tarde e revista O Cruzeiro.

O conteúdo oferece um olhar único e com propriedade sobre a história de Belo Horizonte e de Minas Gerais desde a década de 1920.

*Estagiário sob supervisão do subeditor Rafael Alves


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