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Estado de Minas OPERAÇÃO CAMAROTE

Cartão de vacina encontrado pela PF tem erros graves, diz especialista

Documento apreendido não informava o nome da vacina, além do lote e data de vencimento. Ausência das informações impedem rastreio do imunizante


31/03/2021 18:55 - atualizado 31/03/2021 20:09

Cartão de vacina encontrado por policiais federais possui vários erros no registro da suposta vacina aplicada(foto: Divulgação/Polícia Federal)
Cartão de vacina encontrado por policiais federais possui vários erros no registro da suposta vacina aplicada (foto: Divulgação/Polícia Federal)
Os mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal (PF) nessa terça-feira (30/03), na casa da mulher que aplicou supostas vacinas contra a COVID-19 em empresários de Belo Horizonte, resultaram em vários objetos apreendidos, entre eles, um cartão de vacina.

O documento, no entanto, apresenta erros graves, como a ausência do nome da vacina, do lote e da data de vencimento. A avaliação foi feita por uma especialista ouvida pelo Estado de Minas.

De acordo com a especialista, a ausência de informações impede o rastreio do imunizante administrado, caso haja algum evento adverso após a vacina. O procedimento faz parte da farmacovigilância, que é um conjunto de ações que avaliam, detectam e previnem reações adversas de um medicamento.

A reportagem comparou o cartão de vacina recolhido pela Polícia Federal e um cartão regular de uma pessoa que foi imunizada em um posto de saúde de Belo Horizonte. As diferenças são muitas. A primeira delas é a informação do lote e a data de validade, além do nome da vacina. Há, também, a assinatura de quem aplicou a dose.

Já o cartão apreendido pela Polícia Federal estava apenas com uma identificação: "Vacina COVID Pfizer", além de duas datas: 24 de março de 2021 (com rasura no mês) e 18 de março de 2021. Além da ausência das informações citadas no começo da matéria, a mulher que aplicou as doses não chegou a colocar sua assinatura no cartão.

Na comparação, é possível perceber a discrepância de informações entre os cartões(foto: Divulgação/Polícia Federal e Arquivo pessoal)
Na comparação, é possível perceber a discrepância de informações entre os cartões (foto: Divulgação/Polícia Federal e Arquivo pessoal)


Outros elementos

A Polícia Federal também apreendeu seringas, agulhas e frascos de soro no cumprimento dos dois mandados. A especialista consultada pelo Estado de Minas analisou as imagens e destacou que as seringas estavam sem o rótulo de identificação.

A especialista também constatou que as seringas com a base roxa tratam-se das embalagens da vacina Fluarix Tetra – influenza tetravalente –, fabricada pela indústria farmacêutica GSK. Ela é indicada para a imunização de adultos e crianças a partir de 6 meses para a prevenção da influenza dos tipos A e B.

As imagens também mostraram frascos de soro, o que levantou a hipótese de as vacinas aplicadas nos empresários serem falsas. O cloreto de sódio 0,9% recolhido pela polícia, segundo a fonte ouvida pela reportagem, é utilizado para preparo de soluções endovenosas, não recomendado para a reconstituição de soluções aplicadas via intramuscular.

Em vacinas liofilizadas, que são reconstituídas com um diluente estéril, o procedimento mais comum é o uso da água bidestilada, que é disponibilizado pelas fabricantes dos imunizantes, na maioria das vezes.

Mulher está na Penitenciária Estevão Pinto

Também nessa terça-feira, após ser levada para a Superintendência da Polícia Federal junto com o seu filho e um outro homem para prestar depoimento, a mulher que aplicou a vacina dentro de uma garagem de ônibus, na Região Noroeste de BH, foi presa.

Ela foi autuada no Artigo 273 do Código Penal, que trata de falsificação e adulteração de produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais.

Os materiais apreendidos na casa e na clínica onde os agentes da PF cumpriram mandados de busca e apreensão estão sendo periciados para identificação da substância exata.

Outra hipótese investigada pela instituição é de as doses terem sido desviadas do Ministério da Saúde. A importação ilegal dos imunizantes também não está descartada.

A mulher foi encaminhada para a penitenciária Estevão Pinto, na Região Leste de Belo Horizonte. Se condenada, ela poderá cumprir até 15 anos de reclusão.

Os dois homens foram liberados e voltarão a ser ouvidos. Também haverá oitiva das pessoas que teriam sido vacinadas pela mulher e demais que a teriam indicado para terceiros.

Empresários confessam

Em depoimento à Polícia Federal (PF) nessa segunda-feira (29/3), os empresários Rômulo e Robson Lessa admitiram que compraram as doses da vacina contra a COVID-19. Uma garagem de ônibus, na Região Noroeste de Belo Horizonte, foi utilizada como ponto de encontro para a aplicação dos imunizantes

Ainda segundo a PF, os empresários prestaram depoimento de forma espontânea. “Os empresários da empresa de transporte de passageiros admitiram, em depoimentos prestados de forma espontânea, na segunda-feira (29), a aquisição dos medicamentos de procedência ilícita”, disse, em nota, a instituição.

Entenda o caso


Na quarta-feira (24/3) da semana passada, uma reportagem da "Revista Piauí" mostrou que políticos e empresários de Minas teriam tomado a primeira das duas doses da vacina da Pfizer contra a COVID-19.

Eles teriam contrariado lei, aprovada neste mês, que determina a doação ao SUS de todas as doses compradas pela iniciativa privada enquanto grupos de risco estão sendo vacinados.

Em 25 de março, a Justiça Federal em Brasília considerou inconstitucional essa lei, mas a decisão é provisória e ainda deve ser avaliada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

Um dos que teriam recebido a dose do imunizante foi o ex-senador Clésio Andrade, ex-presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT).

"Estou com 69 anos, minha vacinação (pelo SUS) seria na semana que vem, eu nem precisava, mas tomei. Fui convidado, foi gratuito para mim", disse à Piauí.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, Andrade negou ter sido vacinado pelo grupo. "Desconheço. Estou em quarentena aqui no Sul de Minas. Tive COVID", afirmou.

Seis vídeos obtidos pela reportagem do Estadão mostram pessoas sendo vacinadas na noite de 23 de março, na garagem da empresa mineira.

O vaivém ocorreu após as 20h, quando já estava em vigor o toque de recolher determinado pela prefeitura de BH.

As imagens exibem uma aglomeração de carros em volta da entrada do local. Uma mulher de jaleco branco vai até o porta-malas de um veículo, retira a vacina e aplica nos motoristas.

Alguns descem do carro para receber sua dose. Outros são vacinados dentro do próprio carro.

Uma outra pessoa anota nomes em uma ficha, como se estivesse confirmando cada vacinação dada.

O Ministério Público Federal também investiga o caso. A empresa nega.

Segundo boletim de ocorrência feito à Polícia Militar (PM), até mesmo crianças foram vacinadas – a Pfizer só começou agora os estudos de segurança do imunizante para quem tem menos de 18 anos.

Em nota, o grupo empresarial Saritur afirma que o assunto tratado na reportagem é de total "desconhecimento" da diretoria da empresa.

"O Grupo Empresarial Saritur esclarece que os nomes citados na reportagem 'Empresários tomam vacinas às escondidas' não fazem parte do corpo societário do Grupo. Esclarece ainda que o assunto tratado na matéria é de total desconhecimento da Diretoria da empresa".

Também por meio de nota, à qual o Estado de Minas teve acesso nessa sexta-feira, um dos proprietários da Saritur nega relação com o caso.

"O empresário Rubens Lessa, em nota, afirma que o endereço da empresa mencionada na reportagem não pertence ao Grupo Empresarial Saritur, esclarece que os nomes citados na reportagem não fazem parte da direção do Grupo e que o assunto tratado na matéria era de total desconhecimento da Diretoria da empresa."

Com informações de Cristiane Silva


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