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Estado de Minas SEM FOLIA

Como vivem os catadores de latinhas e recicláveis, em um ano sem carnaval?

Em 2020, foram recolhidas 49,3 toneladas de material durante a folia em BH, que garantiram o sustento. Neste ano, eles estão dependendo da solidariedade


16/02/2021 18:17 - atualizado 16/02/2021 19:59

Valdete Luiz Ferreira arrecadou R$ 100 por dia no carnaval de 2020; neste ano, está faturando 10 vezes menos(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Valdete Luiz Ferreira arrecadou R$ 100 por dia no carnaval de 2020; neste ano, está faturando 10 vezes menos (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
A falta do carnaval é sentida por muitos. Há quem sinta mais saudade das músicas, dos bloquinhos ou, ainda, dos dias de festa. De tudo isso, é a falta de dinheiro para se sustentar a mais difícil de ser superada. Essa é a situação dos catadores de latinhas e recicláveis, que vivem da venda desses materiais, muitos deles coletados durante o período da folia. 
 
Carina Pereira dos Santos tem 35 anos e há 28 está na Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável (Asmare). Ela, os irmãos e a mãe sempre trabalharam como catadores de recicláveis e atualmente sobrevivem de doações de cestas básicas e do que arrecadam com os poucos quilos de material que conseguem catar. 
 
“A dificuldade é grande. Minha mãe está com o carrinho vazio, ela tem 70 anos. Meus irmãos também estão tentando, mas os carrinhos sempre ficam vazios. Estamos pegando com Deus e na fé, vivendo da cesta básica da prefeitura e da ajuda dos que ainda têm coração e são solidários com a associação”, ela diz. E completa: “Somos vulneráveis, né?”.
 
Uma das fundadoras da Asmare, Maria das Graças Marça – mais conhecida como Dona Geralda – diz que a queda na arrecadação foi muito grande, já que os catadores faturam mais no Natal e no carnaval.

Com o comércio fechado e poucas celebrações, eles não conseguiram quase nada. “Para quem não tinha quase nada, ficou pior”, afirma Dona Geralda.

Mesmo com os prejuízos, ela diz ter ‘esperança para todos’ e recomenda que a prevenção à COVID-19 seja priorizada, para que a situação se normalize mais rapidamente.

Diferença na renda


Em época de carnaval, a arrecadação de materiais recicláveis alcançava toneladas.

“Todos os anos, o carnaval é o momento em que a gente mais recolhe. Os caminhões vinham com três ou quatro toneladas e demorávamos de sete a 15 dias para limpar. Agora, está com 900 ou 1.000 quilos. Em dois ou três dias limpamos o caminhão todo”, conta Carina.

De acordo com a Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat), entre os dias 15, 16, 21 a 25, e 29 de fevereiro de 2020 foram arrecadadas 49,3 toneladas de materiais recicláveis somente em Belo Horizonte.

Desse montante, 29,7 toneladas eram de plástico, 11 toneladas de alumínio e 8,6 toneladas de papelão. 
 
O carnaval sempre foi importante para os catadores, pois com a festa eles conseguiam sustentar a reciclagem por muito tempo.

A diferença, por isso, foi sentida, afirma Roberto Laureano, presidente da Ancat: “O faturamento triplica ,e isso contribui para o resto do ano. Pode garantir pelo menos os próximos seis meses”.  
 
Alguns catadores não são ligados a nenhuma associação e trabalham sozinhos, como Valdete Luiz Ferreira, de 38. Ele diz que cada dia está mais difícil, já que a quantidade de catadores aumentou e a demanda diminuiu bastante.

No carnaval, diz, consegue arrecadar, em média, R$ 100 por dia ficando somente no Centro de BH. Atualmente, sem carnaval, fatura de R$ 10 a R$ 20, trabalhando dia e noite, e na cidade toda.

Sem auxílio financeiro, ele consegue alimentos de doações. Às vezes, conta com a solidariedade de bares, que garantem o marmitex.

O material que ele arrecada, é vendido para ferros-velhos no Centro de BH.

Eduardo Pereira, que gerencia um depósito de ferro-velho, conta que recebia três toneladas de reciclável em outros carnavais. Neste ano, foram apenas 200 quilos até agora (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Eduardo Pereira, que gerencia um depósito de ferro-velho, conta que recebia três toneladas de reciclável em outros carnavais. Neste ano, foram apenas 200 quilos até agora (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

 
Um desses locais é o depósito de recicláveis que Eduardo Pereira gerencia. Segundo ele, há cerca de cinco anos começou a receber latinhas. 

Costuma funcionar da sexta-feira de carnaval à quarta-feira de cinzas, período em que há muito movimento em seu negócio. Mas, neste ano, não está valendo muito a pena ficar aberto: “Normalmente, dava umas três ou quatro toneladas de material. Neste ano, o depósito também está aberto desde sexta-feira e consegui só 200kg”. 
 

Reajuste de preços

 
Em anos anteriores, o quilo de alumínio era comprado por R$ 3,30, enquanto as garrafas pets saíam a R$ 0,80. Agora, com a pandemia de COVID-19, os recicláveis estão mais escassos, e o preço de compra foi reajustado.

São R$ 5 para latinhas e R$ 1,50 para garrafas.

Como há pouco material para os catadores, o faturamento não aumenta, apesar da elevação do valor.
 
Eduardo lamenta a queda no movimento: “Em torno de 20 pessoas, por dia, entram na loja atualmente. Em outros carnavais, havia de 80 a 100 pessoas para vender material diariamente. No ano passado, foram mais de 300, havia fila o tempo todo”.
 
A Ancat informou que está na terceira fase de uma campanha de solidariedade aos catadores, na qual são arrecadadas cestas básicas e doações.

Várias empresas contribuíram, mas, especificamente no carnaval, a Ambev entrou em contato com a associação para fazer uma doação financeira a 2.800 catadores que trabalharam cadastrados no carnaval do ano passado. 
 
*Estagiária sob supervisão da subeditora Kelen Cristina


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