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Estado de Minas CORONAVÍRUS

O sofrimento de quem foi deixado em Portugal e viu o sonho desmoronar

As dificuldades são muitas. Morar de favor, custeado pelo governo português, e comer recebendo doações


postado em 03/05/2020 17:46 / atualizado em 03/05/2020 18:29

Edimir Alves, de Colina. Ele ex-vereador de Frei Lagonegro(foto: Arquivo Pessoal)
Edimir Alves, de Colina. Ele ex-vereador de Frei Lagonegro (foto: Arquivo Pessoal)
A sensação é de abandono por parte do governo brasileiro. A moradia, um hostel, em Lisboa, pago pelo governo português, através do Serviço de Segurança Social do país. A alimentação, têm de pegar na Santa Casa de Misericórdia, uma doação feita pela entidade, que, por sua vez, só consegue fazer esse serviço de utilidade pública graças às doações que recebe das famílias lusitanas.

É assim que está vivendo um grupo de 12 brasileiros - eram 16 até ontem, mas quatro conseguiram vaga num voo de retorno da Latam –, depois de ficarem de fora do último voo de repatriação do Itamaraty, no início da semana.

Um desses brasileiros é o mineiro Edimir Alves, de 45 anos, que vive em Coluna e é ex-vereador da cidade de Frei Lagonegro, no Vale do Rio Doce. Edimir, que no Brasil é motorista, foi para Portugal no início do ano, sonhando em melhorar de vida. Conseguiu emprego numa obra.

“Era um bom emprego, mas com a crise a obra parou e fui demitido, como os demais trabalhadores. Não havia mais sentido em ficar aqui. Por isso, já há mais de um mês estou tentando, sem sucesso, retornar para o Brasil, para minha casa, junto da família”, conta Edimir.

Ele ficou uma semana dormindo no aeroporto, pois não tinha para onde ir. “Recebi, na semana atrasada, um email do Consulado Geral do Brasil, de que eu estava no voo do dia 26. Vim para o aeroporto, assim como outros brasileiros. Mas, na hora do embarque, disseram que eu não estava na lista. Inacreditável.”

"Agora estou à espera de uma solução. Não é possível ser abandonado como está acontecendo com a gente", acrescenta. No grupo em que Edimir está, também se encontram outros quatro mineiros.

Recordista de sobras

No grupo de Edimir está o mato-grossense Ilker Batista, de 33, formado em direito. Ele foi para Portugal a passeio, mas esticou a sua estada no país, trabalhando como motoboy. O seu caso é peculiar, pois esteve em seis listas de repatriamento e acabou sobrando em todas.

“A primeira vez foi em 19 de abril. Mandaram que viesse para cá, no aeroporto Humberto Delgado, mas não consegui embarcar. Depois fui chamado para outros seis voos, mas não conseguir embarcar em nenhum deles”, conta Ilker.

Ele reclama que o descaso para com os brasileiros é grande e que isso acontece pelo fato de terem sido abandonados pelo Consulado brasileiro. “Estávamos no aeroporto e a pedido do cônsul brasileiro, fecharam todas as entradas. Isso impediu que os portugueses que vinham nos ajudando, trazendo comida, chegassem até nós. Estava chovendo. Tivemos de sair na chuva para conseguir comprar alimento.”

O descaso, segundo ele, vai além. “Olha, a maioria das pessoas que estão no grupo, não têm mais dinheiro. Eles pagaram aluguel e o dinheiro que sobrou, compraram passagem para voltar, mas nunca embarcamos. Tem gente que estava passando fome. Agora tem essa doação da Santa Casa. A gente é obrigado a comprar passagem e aí cancelam o voo. Dão-nos crédito para trocar a passagem, mas o voo nunca que sai. Estamos abandonados pelo consulado brasileiro, pelo nosso governo", lamenta.


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