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Estado de Minas PANDEMIA

Coronavírus em BH: 'Não estamos confortáveis', diz infectologista

Apesar do bom desempenho da cidade no controle da COVID-19, especialista afirma que isolamento ainda é necessário e que volta às atividades exige planejamento


postado em 01/05/2020 04:00 / atualizado em 04/05/2020 19:05

Praça do Papa, um dos cartões-postais de BH, fechada ao público: capital adota medidas de isolamento social desde o rastreamento dos primeiros casos na cidade (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press %u2013 10/4/20)
Praça do Papa, um dos cartões-postais de BH, fechada ao público: capital adota medidas de isolamento social desde o rastreamento dos primeiros casos na cidade (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press %u2013 10/4/20)

Em situação aparentemente confortável em relação às demais capitais do Brasil, o volume de casos confirmados do coronavírus em Belo Horizonte dá a entender que as medidas de prevenção vêm sendo acertadas. Porém, o infectologista Carlos Starling alerta para as consequências de um relaxamento do distanciamento social. “Se isso for feito sem planejamento ou de forma aleatória, sem respeito nenhum às regras, com certeza vamos ter problemas semelhantes aos dos lugares que romperam essas medidas. Estamos em plena batalha, não estamos de forma nenhuma confortáveis. Se você relaxou hoje, em uma ou duas semanas vamos colher esse fruto, que é o tempo de incubação da doença”, desmistifica Starling. Para ele, o baixo volume de testes também é problema.
 
A título de comparação, de acordo com dados do Ministério da Saúde e das secretarias municipais e estaduais da área, entre as 50 cidades com mais casos do Brasil (comparação justa para uma cidade do porte de BH), a capital mineira é a penúltima em volume de diagnósticos comparados à sua população, com 21,7 diagnósticos confirmados por 100 mil habitantes. Quanto à mortalidade pela COVID-19, BH é a quarta capital com menos óbitos, com uma taxa de 2%.
 
De acordo Starling, a incidência do coronavírus em Belo Horizonte e até em Minas Gerais como um todo é de fato menor que a maioria dos estados e capitais do país. “A gente observa isso pela baixa taxa de ocupação dos leitos, e isso é um bom sinal de que a epidemia está se comportando melhor do que a gente esperava. O isolamento social e as medidas tomadas a tempo resultaram em uma redução brutal nos caso que esperávamos”.
 
O infectologista acredita que o isolamento social também foi – e continua sendo – importante para que o próprio sistema de saúde se preparasse, com a chegada de equipamentos e a abertura de mais leitos, diferente da China e da Itália, que foram pegos de surpresa. De acordo com o médico, Belo Horizonte tem aproximadamente 32% dos leitos destinados ao tratamento da COVID-19 ocupados. Ele alerta que, apesar de parecer tranquilo, o fato de a doença crescer em progressão geométrica faz com que, caso a contaminação saia do controle, sejam necessárias apenas 72 horas para o sistema entrar em colapso.
 
Starling aponta o baixo volume de testes como principal lacuna do sistema de saúde(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Starling aponta o baixo volume de testes como principal lacuna do sistema de saúde (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
A respeito da flexibilização proposta pelo governo estadual, por meio do programa Minas Consciente, que orienta os prefeitos municipais que optarem por retomar as atividades econômicas, o infectologista considera eficiente a metodologia estabelecida para avaliar se a incidência do coronavírus está aumentando. “De acordo com os resultados que estamos obtendo, podemos acelerar ou pisar no freio. A metodologia é eficiente,  analisamos todos os dias indicadores como a velocidade de ocorrência de casos, a média dos últimos sete ou 10 dias para ver essa tendência, além da medição da velocidade e expansão da epidemia”, explica.
 
Porém, Starling aponta como principal lacuna do sistema de saúde o baixo volume de testes, que resulta em uma subnotificação. “Temos que fazer mais testes, construir um sistema de vigilância epidemiológica mais ágil porque esta não é a primeira e nem será a última epidemia. Precisamos fazer a informatização desde o posto de saúde até o centro de terapia mais sofisticado, tudo interligado. Infelizmente esse investimento foi interrompido por governos anteriores e estamos pagando um preço alto”, lamenta.
 
Starling elogia o isolamento social adotado por Belo Horizonte e considera que seja o bastante para passar pela epidemia com o mínimo de sofrimento. Ele considera o lockdown uma medida extrema, e acredita que não estamos nesse momento. O infectologista também comenta a angústia comum pela chegada do pico epidemiológico do coronavírus e afirma que a batalha de quem pensa a Saúde é justamente não ter esse pico. “O pico de uma epidemia é muito doloroso, muito penoso para toda a população. Não queremos só evitar o pico, mas propiciar tratamentos cientificamente comprovados, além de alcançar uma imunidade de rebanho, ponto em que o vírus passa a circular com menos agressividade”.
 
O infectologista atribui o bom resultado obtido até mesmo a aspectos culturais da população. “Belo Horizonte tem essa tradição desde a epidemia de 1918 (a gripe espanhola), quando registrou um número bem menor de casos que outras regiões do Brasil. Está certo que naquela época tínhamos uma menor densidade populacional do que agora. Mas, em comum entre essas duas epidemias, está a característica do mineiro ser cuidadoso, atender às determinações das autoridades sanitárias. É uma consciência mesmo. É uma marca nossa. O nosso conservadorismo se expressa também na conservação da própria vida” 
 
 


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