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Estado de Minas

Chuva constante faz subir risco de dengue. PBH facilita a entrada forçada em imóveis

Precipitação frequente dá boa vida ao Aedes aegypti, ao aumentar número de criatórios e dificultar controle. Portaria do município flexibiliza vistorias em locais abandonados


postado em 03/03/2020 06:00 / atualizado em 03/03/2020 07:48

Trabalho de agentes é prejudicado pelo prolongamento da estação chuvosa, que aumenta número de criatórios e reduz velocidade de evaporação da água empoçada(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 2/8/19)
Trabalho de agentes é prejudicado pelo prolongamento da estação chuvosa, que aumenta número de criatórios e reduz velocidade de evaporação da água empoçada (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 2/8/19)
 

Os estragos provocados pelos temporais ainda são visíveis por toda a Belo Horizonte, e continuam a ocorrer a cada pancada mais forte, mas a constância das precipitações e o prolongamento da estação chuvosa vem alimentando na cidade um outro risco real, mas bem mais silencioso e menos evidente. O volume de chuvas, que superou as médias históricas em Minas Gerais, deixando rastro de destruição e morte, em especial na capital, faz aumentar entre autoridades de saúde e pesquisadores o alerta quanto à dengue. As condições tornam-se mais favoráveis à proliferação do Aedes aegypti transmissor da virose que já provocou quatro grandes epidemias no estado e em BH desde 2010, incluindo os mais de 480 mil casos em território mineiro do ano passado.
 
Segundo o último balanço municipal, atualizado na quinta-feira da última semana, a capital acumulava nos primeiros 58 dias deste ano 2.130 casos prováveis da doença, sendo 362 confirmados e 1.768 investigados. De olho nos riscos, a Secretaria de Saúde de Belo Horizonte publicou no Diário Oficial do Município (DOM) a Portaria 73/2020, que flexibiliza regras para a entrada forçada de agentes de Zoonoses em imóveis abandonados para combater focos do mosquito. Publicada no sábado, a medida sinaliza que o poder público intensificará os cuidados no controle ao vetor da dengue, que também transmite a chikungunya e a zika.
 
O virologista Flávio da Fonseca, pesquisador do Centro de Tecnologia em Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acredita que haverá dificuldade no combate ao Aedes aegypti neste ano, por dois aspectos: o tempo úmido, que prolonga a duração das poças de´água formadas pela chuva e o volume da precipitação, acima de médias históricas, que multiplica os locais em que o mosquito pode se reproduzir.
 
Coordenador de pesquisa para desenvolver uma vacina contra a dengue, o virologista enfatiza que essas condições fazem com que a água acumulada esteja disponível por mais tempo, favorecendo a multiplicação do vetor. “Com tempo úmido, a evaporação diminui e as poças tendem a durar mais. O mosquito, que está mais adaptado a pontos de acúmulo de água que secam rápido fica em situação vantajosa”, diz.
 
A disponibilidade de mais criatórios potenciais pode ser ainda pior caso não haja colaboração da população para checar nas casas locais onde há água parada – providência que também é dificultada pela chuva contínua. “O volume de chuva acaba aumentando o número de pontos de reprodução do mosquito”, conclui. O Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti (LIRAa) na capital aponta que 82% dos focos estão dentro das casas, em pratos de vaso de planta e utensílios domésticos.
 
Com os cuidados redobrados, a Prefeitura de Belo Horizonte monitora possíveis focos da doença, que podem ser favorecidos pelos volumes históricos de precipitação deste ano. “A chuva frequente favorece o ciclo biológico do mosquito, não tanto pelo volume, mas pela regularidade. Chove todos os dias, a água da calha, que não escorre, é uma possibilidade de o mosquito se reproduzir por período muito maior”, diz o chefe da Diretoria de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde, Eduardo Viana.
 
O mosquito precisa de oferta de água e altas temperaturas para se reproduzir, condições encontradas no verão, que vai até dia 20. “É o período mais crítico do ano. Independentemente de situações extremadas, o verão é favorável, biologicamente, para o Aedes. O aumento natural das chuvas eleva a oferta de água. Temos também o aumento de temperatura, condições que favorecem o ciclo biológico desses vetores. Dessa forma, o risco para doenças também aumenta”, pontua Eduardo Viana.
O virologista reforça que a prevenção é a forma mais eficaz de barrar a dengue. “A população tem que ficar de olho em goteiras, em locais onde água pode estar empoçando e, nas condições atuais, isso pode ocorrer com mais frequência”, diz. Ele reforça que a vacina disponível no mercado privado não tem grau de eficácia tão elevado e por isso não foi incluída no programa nacional de imunizações.

Locais abandonados


A Prefeitura de BH elabora anualmente o Plano de Contingência contra a Dengue. Nesta semana, o grupo de mobilização social da Secretaria Municipal de Saúde, Mobiliza SUS-BH, intensifica as ações de combate à proliferação do Aedes aegypti na região Leste da capital. A regional é a que concentra o maior número de casos de dengue em 2020: 436 dos 2.130 casos suspeitos na cidade.
 
Em toda cidade são colocadas 1,8 mil armadilhas para quantificar a proliferação do mosquito e ocorrência de casos. Essa medição é feita a cada 15 dias. Nesse sentido, uma ação importante, considerados esses dados, são as visitas feitas por agentes municipais.
 
O diretor de Zoonose lembra que esse controle é feito de maneira integrada entre as secretarias municipais de Saúde e de Educação e a Defesa Civil. “Trabalhamos com a Defesa Civil para contatar moradores nas casas que não conseguimos acesso na hora de trabalho do agente de Zoonoses. Eles atuam no período noturno”, diz. A parceria é essencial para debelar focos do mosquito, que, muitas vezes, se multiplica sem que o morador tome ciência. O ciclo de procriação leva de sete a 10 dias para se completar, o que é muito rápido. Qualquer objeto de uso doméstico esquecido pode se tornar um criadouro.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)


Entrada facilitada


Mesmo com a colaboração da Defesa Civil, alguns imóveis permanecem inacessíveis. Para esses casos, a Portaria 73/2020 flexibiliza as regras de ingresso forçado em casos de situação de abandono, ausência ou recusa de pessoa de permitir acesso de agente público. Eduardo Viana lembra que essa prerrogativa é prevista pelo Ministério da Saúde, desde 2016, mas só poderia ser adotada em casos de epidemia.
 
A nova portaria municipal agora permite que os agentes entrem nesses ambientes de forma preventiva, antes mesmo de a epidemia se instalar. “A partir de agora, abertura forçada é uma prerrogativa preventiva, quando está caracterizada situação de risco”, diz. Para a prefeitura, o acesso agora se dará de forma mais ágil e menos burocrática. “Agora, a regra se adequou à real necessidade. Se o imóvel é problemático, podemos intervir antes do fenômeno epidemiológico. Por exemplo, um imóvel tenha uma caixa d'água destampada e cujo morador ou proprietário não conseguimos encontrar”, exemplifica.
 

O que diz a lei


A Portaria 73/2020, da Secretaria de Saúde de BH, prevê o ingresso forçado de agentes de Zoonoses em imóveis em situação de abandono, assim como de ausência ou recusa de alguém que possa permitir a entrada do servidor para controle do Aedes aegypti, após duas visitas notificadas, em dias e períodos alternados, no intervalo de 10 dias. Essa entrada vai ocorrer em terrenos localizados em áreas de infestação do mosquito, verificada pelo monitoramento da Saúde municipal. A inspeção ocorrerá em dia útil, das 6h às 20h, com a presença mínima de dois agentes públicos devidamente identificados. A Secretaria Municipal de Saúde será responsável pela reparação das fechaduras que eventualmente sejam danificadas na ação, mas o proprietário deve ressarcir o poder público das despesas para as ações de prevenção, além de poder ser multado.


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