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'Tive medo de morrer bebendo barro', diz morador de Macacos que perdeu fábrica

Um ano depois da evacuação de 125 famílias por aumento de risco em barragem da Vale, maior queixa é sobre falta de perspectiva e prazo para reparação de danos


16/02/2020 04:00 - atualizado 16/02/2020 10:12

PM bloqueia entrada do distrito um dia após a sirene soar determinando a evacuação: corre-corre e prejuízos no povoado turístico às vésperas do carnaval(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press %u2013 17/2/19)
PM bloqueia entrada do distrito um dia após a sirene soar determinando a evacuação: corre-corre e prejuízos no povoado turístico às vésperas do carnaval (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press %u2013 17/2/19)

 

O toque da sirene que há um ano expulsou 125 famílias de seus imóveis em Macacos, como é mais conhecido o distrito de São Sebastião das Águas Claras, em Nova Lima, na Grande BH, ganhou, para alguns, o apelido de “toque do terror”. Ainda mais por soar 22 dias após a maior tragédia humanitária do país, o rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão, também da mineradora Vale, em Brumadinho, com o dramático saldo de 259 mortos e 11 ainda considerados desaparecidos. “Estava vendo tevê na hora do alarme. Chovia demais. Fiquei com medo de morrer bebendo barro, pois a imagem, naquele momento, era a de Brumadinho”, diz Carlos Alberto de Melo, conhecido como Xuru, que amarga muitos prejuízos.

 

Dono de uma fábrica de bala delícia famosa na região, hoje fechada, Xuru traz há meses um “não engasgado”. Após ajuizar ação contra a empresa para receber indenização, ouviu a negativa de um advogado. O caminho agora será via conciliadores, para acelerar o processo. “Tenho vontade de ir embora daqui com a família, mas, antes, preciso resolver essa questão”, resume.

 

Morando com a mulher, Paloma, e o filho Raphael, de 11, em casa alugada pela mineradora, Xuru foi na quarta-feira, com o Estado de Minas, à frente do empório comandado pela mulher e em cujo subsolo funcionava a fábrica, então com sete empregados fixos e quatro indiretos. “A sirene tocou às vésperas do carnaval, então estava com 300 potes de bala prontos e 900 em produção para o período da folia. Em média, fazíamos de 24 a 26 quilos de bala por dia.”

 

Na porta do empório, vê-se a placa da Defesa Civil informando que o imóvel se encontra em área de risco. “No início, foi um terror. Agora, já estamos mais calmos”, conta Xuru, enquanto guia a equipe cortando caminho, como ocorre muito no interior, pelos quintais de amigos e familiares. Uma das paradas é na casa de dona Aurília, mãe de Paloma. Do forno, ela tira roscas caseiras e oferece aos visitantes, com suco de frutas. Felizmente, nesta residência, a família pode continuar respirando aliviada e curtir todos os encantos que Macacos oferece, já que a moradia não fica em área de risco.

 

DANOS MORAIS Residente há alguns anos em Macacos, uma mulher que prefere não se identificar conta que perdeu o emprego, e diz não concordar com os métodos da Vale no trato com a comunidade de maneira geral. “Há muita falta de informação”, afirma, “e a última delas diz respeito a uma 'nova mancha', de onde foram evacuadas mais famílias”, sustenta.

 

Criticando a falta de isonomia quanto aos acordos no escritório da mineradora com os desalojados e demais prejudicados, a mulher reclama da morosidade nas negociações. “O prazo entre uma reunião e outra, para definir as indenizações, é dilatado demais”, indigna-se. Na sua pauta estão os prejuízos pela perda do emprego (lucro cessante) e danos morais. “São muitos os absurdos”, resume.

 

 

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

"Estava vendo tevê na hora do alarme. Chovia demais. Fiquei com medo de morrer bebendo barro, pois a imagem, naquele momento, era a de Brumadinho"

Carlos Alberto de Melo, o Xuru, que teve de fechar a fábrica de bala delícia localizada em área de risco

 

Resposta em nota

 

O Estado de Minas enviou uma série de perguntas à Vale, com base nas queixas e denúcnias de moradores de Macacos. Recebeu de volta um texto com considerações sobre um ano do alerta. Veja os principais trechos:

 

» Assistência

“A Vale segue empenhada em prestar assistência às 125 famílias que foram acomodadas, com segurança, em hotéis, pousadas, casas de parentes ou moradias alugadas pela empresa. Em 28 de janeiro deste ano, outras duas famílias também foram realocadas em caráter preventivo, levando em consideração o termo de compromisso firmado com o Ministério Público de Minas Gerais para revisão do dam break (projeção de impacto real em caso de vazamento dos rejeitos da barragem) de todas as barragens em Minas. Resultados preliminares sugeriram uma mancha de inundação próxima do horizonte que considera 100% do carreamento de rejeitos em um cenário extremo de rompimento, o que implicou na realocação.”

 

» Doações e indenizações

“Os moradores da zona de autossalvamento ou aqueles que possuem imóveis e/ou atividades comerciais nas áreas evacuadas receberam doações financeiras no valor de R$ 5 mil para despesas emergenciais. Desde março, cada um tem direito também a vouchers-alimentação no valor de R$ 40 por dia, que podem ser usados em 63 estabelecimentos do vilarejo. Uma família de quatro pessoas, por exemplo, recebe R$ 4,8 mil por mês com o benefício.”

 

» Danos morais e materiais

Para “uma solução célere e justa para danos individuais”, a Vale firmou com a Defensoria Pública de Minas Gerais um termo de compromisso para indenização de danos materiais e morais, referente ao rompimento da Barragem I, da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. “Esse termo serve de parâmetro para indenizações referentes à evacuação das barragens Sul Superior, em Barão de Cocais, e B3/B4, em Macacos. No total, a Vale já celebrou mais de 5 mil acordos, indenizando integralmente as pessoas. Nessas ações, já foram destinados recursos superiores a R$ 2,8 bilhões. As indenizações por danos materiais e morais são negociadas individualmente.”

 

» Plano de desenvolvimento 

“Em setembro do ano passado, a Vale lançou o Plano de Desenvolvimento de Territórios Impactados, cujos recursos ultrapassam R$ 190 milhões, contemplando ainda Barão de Cocais e Itabirito. O conjunto de iniciativas foi construído com base nas demandas, carências e vocação de cada uma das localidades. Em Macacos, já foram entregues a escola provisória Rubem Costa Lima, a reforma da Associação Comunitária e a revitalização do Espaço do Produtor.”

 

» Turismo

“A Vale está apoiando, oficialmente, o pré-carnaval e o carnaval em Macacos, com infraestrutura e financiamento de blocos e outras atrações.” O texto diz que “dados da Secretaria de Turismo de Nova Lima apontam ocupação próxima de 100% nas pousadas e hotéis durante o período, o melhor indicador, ao longo do último ano, da retomada do turismo na cidade”.

 

» Segurança da barragem 

“A barragem B3/B4 é monitorada 24 horas por dia por meio de vídeo, radar e satélite. Também possui estações robóticas capazes de detectar movimentações milimétricas. Entre as melhorias, estão a instalação de piezômetros, o rebaixamento do nível de água dos reservatórios, a limpeza dos canais de drenagem e a perfuração de poços e construção de canais de cintura para evitar a contribuição de água da chuva para o interior da estrutura.” 


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