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Estado de Minas ESTRAGOS EM BH

O perigo depois da chuva para motoristas e pedestres

Ruas e avenidas se transformaram em obstáculos com destruição deixada pelas fortes chuvas. Segundo a Sudecap, problemas só serão sanados quando o solo secar e puder receber pavimentação


postado em 02/02/2020 06:00 / atualizado em 02/02/2020 07:52

O casal Fernando Mello Vianna, de 86 anos, e Maria Tereza, de 74, tem que se desviar de buracos e fios caídos no passeio ao caminhar na Praça Marília de Dirceu, no Bairro Lourdes(foto: Paulo Filgueiras/em/d.a press)
O casal Fernando Mello Vianna, de 86 anos, e Maria Tereza, de 74, tem que se desviar de buracos e fios caídos no passeio ao caminhar na Praça Marília de Dirceu, no Bairro Lourdes (foto: Paulo Filgueiras/em/d.a press)

Com pavimentos remendados que variam da lama nas chuvas para a poeira quando o sol esquenta e o movimento se intensifica, as áreas mais devastadas pelas chuvas do fim de janeiro em Belo Horizonte estão como canteiros de obras paralisados. Têm o mínimo para se circular sem pavimento e estão repletas de perigos para pedestres e motoristas.

Nos passeios e nas ruas, buracos, falhas estruturais, caixas de serviços subterrâneas sem tampas, conexões e drenagens descobertas, detritos, vergalhões de ferro, garrafas de vidro quebradas e tudo mais que as enxurradas arrastaram são obstáculos que exigem a atenção e só poderão ser sanados, de acordo com engenheiros da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) quando o solo encharcado secar e puder receber pavimento. Há previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) de pancadas de chuvas em BH até a próxima quarta-feira.

Entre as áreas mais perigosas para se circular estão a região da Praça Marília de Dirceu, em Lourdes, na Região Centro-Sul, e a Avenida Teresa Cristina, no Barreiro, na Região Oeste. Os dois quarteirões da Rua Marília de Dirceu, entre a Avenida do Contorno e a Rua Professor Antônio Aleixo, concentram vários obstáculos que trazem perigo, sobretudo por ser uma área habitada por muitos idosos que fazem caminhadas e pessoas que aproveitam a via plana para a corrida matinal.

Ontem, o local amanheceu com muito lixo na rua, embalagens PET, papelão molhado. As crateras abertas pela fúria do Córrego do Leitão, que corre em leito subterrâneo, foram tapadas por pedras e britagem de minério, pois o material não levanta muita poeira e assim se pode liberar o tráfego. Um dos acessos à rua está fechado por cones, restringindo o ingresso de veículos a uma só pista.

No cruzamento vindo da Prudente de Morais, o tráfego constante faz a lama secar mesmo depois da chuva, trazendo de volta uma fina poeira que se levanta em nuvens com a passagem de veículos. O local é muito perigoso para pedestres por causa de buracos nos passeios e na pista, emaranhados de fios e cabos de aço derrubados dos postes pelas árvores que caíram na terça-feira. Mesmo depois de podadas, as árvores deixaram buracos grandes onde suas raízes romperam a calçada.

“Moramos aqui há 42 anos e nunca vimos uma enxurrada desse porte. Foi uma coisa horrorosa, uma catástrofe. Agora está até bom em vista de como esteve, mas realmente é preciso cuidado para que ninguém venha a se ferir, pois as vias não estão ainda seguras”, disse a professora Maria Tereza Mineiro de Mello Vianna, de 74 anos. Ela e o marido, o administrador e fazendeiro Fernando Mello Vianna Neto, de 86, procuram ser cuidadosos ao caminhar pelos destroços deixados no seu caminho. “Os reparos para que o tráfego voltasse a circular foram muito rápidos e importantes, porque este eixo é importante para trabalhadores de todas as regiões. Mas é mesmo preciso muito cuidado. Não dá para passar por aqui sem tomar cuidados”, observa Fernando.

Para os veículos, os perigos são os grandes buracos no asfalto, quinas de placas onde o asfalto resistiu podem cortar pneus e amassar rodas, cacos de garrafas também são armadilhas enfiadas nas britagens de minério de ferro e por elas camufladas. Muita água ainda jorrava dos encanamentos que desembocam na rua, sinal de que no interior das garagens e de outros prédios a limpeza continua.
 
Avenida Prudente de Morais com Rua Engenheiro Zoroastro Torres, no Bairro São Bento, que foi destruída pelas chuvas(foto: Paulo Filgueiras/em/d.a press)
Avenida Prudente de Morais com Rua Engenheiro Zoroastro Torres, no Bairro São Bento, que foi destruída pelas chuvas (foto: Paulo Filgueiras/em/d.a press)
 

LAMA ACUMULADA

Numa edificação de dois pavimentos para locação, a faxineira Roseli Sampaio de Paula, de 39, e outras duas pessoas lutavam para remover toda a lama acumulada até hoje. “A loja estava fechada desde as enchentes. A gente vai jogando água e raspando o chão com rodo, vassoura e baldes. É trabalho para o dia inteiro. Vai ter de pintar, porque encardiu paredes e rachou os marcos das portas. A lama chegou na altura de um palmo. E olha que a loja é alta em relação à calçada”, disse.

O faxineiro José dos Santos, de 54, que limpava com um compressor de jato de água outra loja para aluguel, não se espanta com a destruição, pois as histórias e dramas de cheias são algo que fez parte de sua vida, uma vez que foi criado na Avenida Vilarinho, em Venda Nova, onde as enxurradas e tragédias após tempestades são frequentes. “Digo que aprendi a nadar na Avenida Vilarinho. Já perdi roupas, móveis, eletrodomésticos. Nessas horas, o que importa é não perder a vida. E isso aqui conseguiram”, disse.

Na Avenida Prudente de Morais com Rua Joaquim Murtinho, que ficou coberta por mais de um palmo de lama, as vias e passeios já estão completamente limpos. Na parte sob a drenagem da Barragem Santa Lúcia ainda há muita lama. Uma enorme cratera segue aberta, impedindo o trânsito na esquina com a Rua Engenheiro Zoroastro Torres. Sob o barramento que deveria impedir as cheias mais intensas do Córrego do Leitão, mas não suportou as chuvas intensas, 27 funcionários de limpeza pesada a serviço da Prefeitura de Belo Horizonte removem lama e barro do pavimento e do passeio com o auxílio de dois caminhões.



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