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Estado de Minas RECUPERAÇÃO

A incrível história da peça sacra que, após 34 anos, voltou misteriosamente ao altar

Santana Mestra do século 17 foi devolvida à comunidade de Aiuruoca, no Sul de Minas, mas retorno misterioso envolve sigilo de confissão


postado em 16/11/2019 06:00 / atualizado em 16/11/2019 14:02

Comunidade comemorou retorno da Santana Mestra, que fazia parte da memória afetiva local e voltou em circunstâncias misteriosas. Peça do século 17 foi restaurada(foto: GILBERTO FURRIEL/ARQUIVO PESSOAL - 22/7/19)
Comunidade comemorou retorno da Santana Mestra, que fazia parte da memória afetiva local e voltou em circunstâncias misteriosas. Peça do século 17 foi restaurada (foto: GILBERTO FURRIEL/ARQUIVO PESSOAL - 22/7/19)

O silêncio de 34 anos foi quebrado, o objeto de fé já está no altar, mas o mistério sobre o furto não tem fim. Moradores de Aiuruoca, na Região Sul de Minas, a 370 quilômetros de Belo Horizonte, ainda festejam a volta da imagem de Santana Mestra, do fim do século 17, levada, em abril de 1985, da Capela Senhora Santana da Guapiara, no bairro rural de Guapiara, a 15 quilômetros da sede municipal.
 
Mas devido ao “sigilo de confissão”, um sacramento da Igreja Católica, o titular da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, padre Marco Antônio Iabrudi Filho, não pode dar muitos detalhes sobre a devolução espontânea da imagem, com 80 centímetros de altura, de madeira, totalmente restaurada com recursos da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, vinculada à Diocese de Campanha.
 
Por questão de segurança, a peça foi entronizada na Matriz Nossa Senhora da Conceição, no Centro de Aiuruoca. Na capela primitiva, há uma de gesso. O pároco diz que a peça sacra foi entregue por uma pessoa de identidade não revelada, embora tenha passado de mão em mão durante mais de três décadas. “Pelo que sabemos, foram muitas pessoas”, observa.
 
(foto: GILBERTO FURRIEL/ARQUIVO PESSOAL - 22/7/19)
(foto: GILBERTO FURRIEL/ARQUIVO PESSOAL - 22/7/19)
Enquanto isso, no município vizinho de Serranos, os moradores não perdem a esperança de ter de volta a imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso, furtada há 25 anos, em 14 de julho de 1994. “Estamos sempre esperando pela peça sacra portuguesa, de 1,20 metro de altura, do século 18, esculpida em cedro e toda filetada a ouro. Todo 8 de setembro, dia da padroeira, há festa na cidade e pedimos pelo retorno e por providências”, afirma a professora aposentada de Serranos Maria do Carmo Vilela Bastos,  residente em Belo Horizonte. No altar, está hoje uma réplica da imagem feita em São João del-Rei, na Região do Campo das Vertentes.


Investigação

 
Levantamento do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) mostra que 734 peças sacras desaparecidos ao longo de décadas são procuradas pelas autoridades mineiras. Como resultado das ações desenvolvidas em conjunto por diversas instituições, 269 peças já foram devolvidas (o número não inclui a de Aiuruoca) à sociedade, com retorno a igrejas, capelas e museus, e 250 objetos de devoção, principalmente imagens de santos, estão sub judice, portanto aguardando decisão judicial quanto a seus destinos.

O sumiço da Santana Mestra de Aiuruoca ainda se encontra nebuloso, mas tem como base uma lenda, conta o pároco depois de quatro anos ocupando o cargo na cidade. “Diziam que a imagem estava recheada de ouro, como naquelas histórias de santo do pau oco, o que não era verdade.” Na mesma época, foi furtada a imagem de São Joaquim, cujos dedos de madeira foram cortados. “Falavam que o santo tinha uma bengala de ouro”, acrescenta, explicando que o bem, depois de desaparecido durante muito tempo, possivelmente “escondido” em alguma residência para proteção, foi restaurado e levado para a matriz. São Joaquim era casado com Santana (Santa Ana), pais da Virgem Maria e avós de Jesus. Na imagem de Santana Mestra, ela ensina as primeiras letras à filha.

 A imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso, que foi furtada há 25 anos de Serranos: desde 14 de julho de 1994 moradores mantêm a esperança(foto: GILBERTO FURRIEL/ARQUIVO PESSOAL - 22/7/19)
A imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso, que foi furtada há 25 anos de Serranos: desde 14 de julho de 1994 moradores mantêm a esperança (foto: GILBERTO FURRIEL/ARQUIVO PESSOAL - 22/7/19)


Devolução

Na época do desaparecimento das imagens da capela em Guapiara não foi lavrado o boletim de ocorrência policial, e havia poucas fotos da imagem de Santana Mestra. Passados 35 anos, alguns moradores se lembravam da história e da peça, o que facilitou a identificação, informa o padre Marco Antônio. Nos últimos anos, o caso do furto veio à tona, mobilizando a comunidade até que uma pessoa, “que não mora no município, mas em Minas”, decidiu entregá-la.
 
Satisfeito com o desfecho do caso, o historiógrafo Gilberto Furriel conta que participou dos festejos da volta da imagem de Santana, protetora dos avós, incluindo peregrinação. “Tinha 6 anos quando ela foi furtada, minha família morava no bairro. Os mais velhos se recordam de tudo e reconheceram a peça como sendo a original.” Ele explica que a Paróquia Nossa Senhora da Conceição nasceu em 1717 (a construção do templo primitivo é do fim do século 17), sendo a “primaz”, ou mais antiga da diocese de Campanha. Já a Capela de Santana da Guapiara foi edificada em 1730 pela família Rego Barros, originária de Pernambuco.
 
Estudioso da região, Furriel explica que a palavra Guapiara vem do tupi-guarani e significa “ouro na serra” ou ainda “caminho para a enseada”, por meio da junção dos termos kûá (enseada) e piara (caminho para). Fundada no início do século 18, é o mais antigo bairro de Aiuruoca, “para onde afluíram os primeiros garimpeiros, principais povoadores daquela região, fulgurando como o mais importante núcleo histórico do município”. A imagem foi devolvida em 25 de julho, véspera do Dia de Santana, e houve festa na cidade. “O povo ficou feliz demais”, lembra o padre Marco Antônio. Santana tem uma legião de devotos no estado, desde os tempos do auge da mineração de ouro.


Serranos

 
No dia do furto da imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em 14 de julho de 1994, em Serranos, no Sul de Minas, foi visto um veículo Gol, preto, com placa de São Paulo (SP), no qual estava um casal de forasteiros. Conforme depoimentos à polícia, os dois conversaram com o sacristão da Igreja Matriz, procurando sutilmente dados da igreja e suas peças. Um rapaz até forneceu detalhes. “No dia seguinte, o trono de nossa padroeira estava vazio e a porta da igreja, arrombada”, disse, em entrevista ao Estado de Minas, a professora aposentada Maria do Carmo Vilela Bastos, que guarda um verdadeiro dossiê sobre o desaparecimento da escultura, incluindo reportagens de jornais, fotos e outros documentos de época.



PARA DENUNCIAR

Canais para quem tiver informações sobre peças desaparecidas e quiser fazer denúncias:

» Ministério Público de Minas Gerais
E-mail: cppc@mpmg.mp.br e telefone (31) 3250-4620. Pode-se também enviar correspondência para Rua Timbiras, 2.941, Bairro Barro Preto, Belo Horizonte – CEP 30.140-062. Também está disponível o blog patrimoniocultural.blog.br.mpmg


» Iphan
Para obter ou dar informações, basta acessar o site www.iphan.gov.br e verificar o banco de dados de peças desaparecidas. Denúncias anônimas podem ser feitas pelos telefones (61) 2024-6342/2024-6355/2024-6370, do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização (Depam), e pelo e-mail depam@iphan.gov.br


» Iepha/MG
Pelo site www.iepha.mg.gov.br ou pelo telefone (31) 3235-2812 ou 2813



memória
 
 
(foto: AUREMAR DE CASTRO/Arquivo EM - 3/1/05 )
(foto: AUREMAR DE CASTRO/Arquivo EM - 3/1/05 )
 
Segredo de confissão

Sacramento da Igreja Católica, o segredo de confissão impede que um sacerdote torne pública uma informação que lhe foi passada de forma sigilosa. Assim, o padre de Aiuruoca, no Sul de Minas, não pode dar maiores detalhes sobre quem lhe entregou a imagem de Santana Mestra. Em Nova Era, na Região Central do estado, houve situação semelhante. Em 5 de janeiro de 2005, conforme publicou o Estado de Minas, uma pessoa devolveu ao padre da Matriz de São José da Lagoa três crucifixos e uma imagem de São Sebastião, todos do século 18. As peças estavam desparecidas havia 50 anos e foram incorporadas ao patrimônio da paróquia.



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