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Estado de Minas

Burle Marx, 110 anos: navegue por jardins que mantêm vivo o arquiteto da paisagem

No aniversário do paisagista que deixou sua marca em vários espaços de BH, com destaque para a Pampulha, prefeitura anuncia 'usina de mudas' para preservar seu legado


postado em 03/08/2019 06:00 / atualizado em 03/08/2019 07:59

Confira nesta matéria o roteiro do legado do mestre paisagista na capital mineira(foto: Reprodução da internet/Google Maps/Jair Amaral/EM/DA Press)
Confira nesta matéria o roteiro do legado do mestre paisagista na capital mineira (foto: Reprodução da internet/Google Maps/Jair Amaral/EM/DA Press)


Neste primeiro fim de semana de agosto, reserve um tempo, caro leitor, para visitar um jardim. No perfume das flores, na exuberância das folhagens e nos caminhos entre verde e água, há um grande brasileiro para ser lembrado – e reverenciado. Se estivesse vivo, o paisagista e artista plástico Roberto Burle Marx (1909-1994) completaria amanhã 110 anos. Junto da obra espalhada pelo país e pelo mundo, ele deixou como legado a paixão pela natureza, a defesa das plantas brasileiras e a arte de criar espaços com harmonia, beleza e ciência. “Arquiteto da paisagem”, conforme destacam os discípulos, Burle Marx assinou diversos projetos em Belo Horizonte, especialmente os do Conjunto Moderno da Pampulha que, há duas semanas, completou três anos de reconhecimento como Patrimônio da Humanidade pela Unesco, e é tombado em âmbitos federal, estadual e municipal.

Para celebrar o aniversário do paisagista, a Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica (FPMZB) anuncia a reativação do viveiro de mudas do Parque das Mangabeiras, na Região Centro-Sul da capital – o projeto paisagístico de Burle Marx na unidade de conservação municipal, do início dos anos 1980, no qual se destaque a Praça das Águas, ganhou a preferência dos visitantes para fotos e contemplação. Segundo o titular da fundação, biólogo Sérgio Augusto Domingues, a iniciativa se associa a outra inédita na cidade: a criação do Viveiro Burle Marx, no Jardim Botânico, sob coordenação da paisagista Laura de Moraes Mourão. Diretora de Gestão e Educação Ambiental da FPMFZ, Laura fala com paixão sobre profissional em cujo escritório, no Rio, começou como estagiária. “Foi um pai, meu mestre, aprendi tudo com ele. Sério no escritório, divertido fora dele, era um homem com imenso respeito pelo meio ambiente.”

Com produção inicial de 40 mil mudas e equipe de jardineiros, o viveiro do jardim botânico fornece as plantas usadas, agora, na manutenção do jardim do Museu de Arte da Pampulha (MAP), com aprovação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Na sequência, adianta a gerente do Conjunto Moderno da Pampulha/Fundação Municipal de Cultura, Janaína França da Costa, serão contemplados os da Casa do Baile e da Igreja São Francisco de Assis, a ser reaberta em 4 de outubro. O objetivo é consolidar os formatos históricos, evitando intervenções constantes como ocorreu ao longo das décadas. Para futuro, Janaína vislumbra um roteiro turístico pelos jardins concebidos pelo paulista, talentoso também em outros campos: pintura, tapeçaria, criação de joias e até canto lírico.



Também em clima de celebração, fica em cartaz, até o fim do mês, na Casa do Baile, atual Centro de Referência de Urbanismo, Arquitetura e Design da Fundação Municipal de Cultura, na Pampulha, a exposição Moderno Jardim Brasileiro, com foco na obra de Burle Marx e apresentando fotografias, maquetes e projetos para BH e outras cidades. A entrada é gratuita.

Manutenção


Um patrimônio de tal grandeza é fundamental, explica o arquiteto, urbanista e paisagista Ricardo Lana, autor do livro Arquitetos da Paisagem – Memoráveis Jardins de Burle Marx e Henrique Lahmeyer de Mello Barreto – Década de 1940, sobre o período fértil em que o paulista trabalhou com o botânico carioca Henrique Lahmeyer de Mello Barreto (1892-1962) e ganhou projeção internacional.

(foto: Arte/Quinho)
(foto: Arte/Quinho)


A convite do Estado de Minas, Ricardo Lana, que já trabalhou em projetos nos jardins de Burle Marx, percorreu as criações do paisagista em espaços públicos e privados da capital e afirmou que “manutenção permanente e cuidado” se tornam fundamentais para evitar deterioração e perda da identidade dos conjuntos. Diante do jardim da sede da Usiminas, no Bairro Engenho Nogueira, na Região da Pampulha, ele não escondeu o encantamento: “Maravilha! Assim deveriam estar todos os jardins da cidade”. Já na Praça Alberto Dalva Simão, na orla da Lagoa da Pampulha, não escondeu o espanto, pois, sem vida, o lugar não conseguiu ser adotado e apropriado pela população. Em outros, como o do Iate Tênis Clube, sentiu falta de um frondoso mulungu – espécie de árvore encontrada no cerrado, na mata atlântica e na amazônia –, e, ao ver algumas plantas do projeto original, no Pampulha Iate Clube (PIC), confidenciou: “Burle Marx passou por aqui”.

Tour pela herança do mestre

Museu de Arte da Pampulha (MAP)(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press - 28/4/19)
Museu de Arte da Pampulha (MAP) (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press - 28/4/19)

A luz da manhã, o aconchego da paisagem e o entusiasmo da juventude animam um grupo de sete amigas – “todas solteiras”, como fazem questão de dizer –, no passeio ao Parque Municipal das Mangabeiras, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Curtindo as férias, elas posam para fotos diante do espelho d'água, olham as carpas e respiram o ar puro da unidade de conservação com 2,4 milhões de metros quadrados. O objetivo era fazer uma trilha na mata, mas, diante da interdição, seguiram para a tirolesa no mirante. Na portaria, na quarta-feira ensolarada, as garotas cantaram parabéns para os guarda-parques, pelo seu dia (31 de julho), pelo aniversário de uma das meninas e, de forma antecipada, pelos 110 anos de nascimento de Roberto Burle Marx (1909-1994), o autor do projeto paisagístico do maior parque da capital e também de um dos maiores parques urbanos da América Latina.

Segundo o arquiteto, urbanista e paisagista Ricardo Lana, autor do livro Arquitetos da Paisagem – Memoráveis Jardins de Burle Marx e Henrique Lahmeyer de Mello Barreto – Década de 1940, há no local plantas vindas do sítio do paisagista em Barra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, hoje Centro Cultural Sítio Burle Marx, doado pelo proprietário ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1985, quando o local se tornou Patrimônio Cultural Brasileiro.

O arquiteto, paisagista e urbanista Ricardo Lana nos jardins a Usiminas: 'Uma maravilha. Todos deveriam estar assim'(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
O arquiteto, paisagista e urbanista Ricardo Lana nos jardins a Usiminas: 'Uma maravilha. Todos deveriam estar assim' (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)


A turma de belo-horizontinas bate palmas para o projeto do parque. E cada uma procura a melhor palavra para defini-lo. “Traz conforto”, diz a advogada Júlia Prado, enquanto a engenheira ambiental Ana Flávia Fioratto sente “tranquilidade”. A designer de moda Carolina Novaes acha “incrível” e, ao lado, Fernanda Barros, dentista, encontra “paz”. Se Isabela Machado, engenheira ambiental, destaca a “leveza”, Larissa Maia, administradora, gosta do clima de “fuga da cidade” e Júlia Lima, engenheira ambiental e aniversariante, considera o lugar ideal para “quebra de rotina”.

Segundo o presidente da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica de BH, Sérgio Augusto Domingues, a reativação do viveiro dessa unidade de conservação se torna fundamental para exemplares típicos de altitude, como as quaresmeiras, árvore símbolo da capital. Com o Viveiro Burle Marx, em funcionamento no Jardim Botânico, na Pampulha, que tem produção inicial de 40 mil mudas, o município quer garantir plantas para manutenção dos jardins projetados pelo “mestre do paisagismo” na cidade e também para os que não levam a assinatura dele. O Viveiro Burle Marx resulta da parceria entre Fundação de Parques, Fundação Municipal de Cultura, Secretaria Municipal de Cultura, Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura/Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) e Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Um dos ganhos importantes está na formação de uma equipe de jardineiros e oferta de cursos de capacitação na área.

Do Parque das Mangabeiras, a equipe do EM segue em direção à Praça Carlos Chagas, conhecida como Praça da Assembleia, no Bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul. “Belo Horizonte só tem motivos para homenagear Burle Marx e se orgulhar dos seus jardins. Foi o arquiteto da paisagem, um mestre em organizar ambientes para atender às necessidades do homem. A obra dele é de reconhecimento internacional”, explica Ricardo Lana, destacando as principais características do trabalho: as manchas de flores, isoladas no meio da grama, o contraste de cores, linhas sinuosas, formas orgânicas e vegetação do jeito que se apresenta na natureza. E mais: o espelho-d’água, sempre na forma amebóide, com seus contornos irregulares. Além de BH, o paulista encontrou solo fértil para seu talento em Ouro Preto e Congonhas, na Região Central, Cataguases, na Zona da Mata, e Araxá, no Alto Paranaíba.

Praça Alberto Dalva Simão(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Praça Alberto Dalva Simão (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)


De acordo pesquisa da Fundação Municipal de Cultura, da PBH, “Burle Marx determinava a vegetação nativa para a concepção artística usando 191 espécimes vegetais da região. Em companhia do botânico Mello Barreto, fez expedições para estudos e coletas em diferentes formações da flora típica de Minas, a exemplo de capoeiras, cerrados, campos rupestres e matas de galeria, e introduziu, nos projetos, plantas coletadas nas serras do Cipó, da Piedade e do Curral e do Vale do Rio Doce. Assim, o projeto paisagístico para o conjunto da Pampulha revestia-se de intenso caráter didático, científico, cultural e artístico”.

Até Burle Marx se tornar referência no paisagismo modernista, com cerca de 3 mil projetos em vários países, todos os jardins públicos e de grandes residências no país eram inspirados nos modelos inglês e francês. Ao romper com o padrão vigente, ele criou um estilo brasileiro, valorizando plantas nativas, como o coqueiro-macaúba, muito comum no estado, e outras variedades rústicas. Muito desse conhecimento e respeito pelas plantas nacionais ele adquiriu em Minas, com o botânico Henrique Lahmeyer de Mello Barreto (1892-1962), que também é enfocado no livro de Lana.

Pampulha


Na Pampulha, que há pouco mais de três anos ostenta o título de Patrimônio da Humanidade e figura como marco das primeiras soluções modernas de Burle Marx, há exemplos que, sem dúvida, deixariam o paisagista de cabelo em pé. Lá, em 19 de maio de 1992, na última visita a BH, conforme registrou o EM, ele tornou pública sua tristeza diante da descaracterização, desumanização e abandono. E deixou para a posteridade: “Eu sei que jardim é uma coisa frágil, suscetível a modificações. Mas o que mais me irrita é ver a fragilidade de um jardim nas mãos dos improcedentes”.

Na região, o visitante poderá comprovar a concretização de alguns temores do mestre. Se os 12,5 mil metros quadrados, particulares, do jardim da sede da Usiminas, na Avenida Carlos Luz, no Bairro Engenho Nogueira, estão “uma maravilha”, alvo de elogios de uma equipe de especialistas ingleses, conforme destaca Lana, a Praça Alberto Dalva Simão, na orla da lagoa, não tem o menor sinal de apropriação pela comunidade. Parece triste. “Veja só, no lugar do espelho d'água, há lixo”, lamenta o arquiteto sobre a situação do lugar no qual foi usada canga de minério. A PBH reconhece a pouca apropriação do espaço, para o qual há estudos de requalificação. Burle Marx fez um primeiro projeto para o local entre 1942 e 1943, quando o nome ainda era Praça Santa Rosa, e um segundo, 30 anos depois.

Praça Carlos Chagas (Praça da Assembleia)(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Praça Carlos Chagas (Praça da Assembleia) (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)


Outro bom exemplo está no Museu Casa Kubitschek, onde o ex-presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) passava os fins de semana. Antes residência, hoje sob administração da prefeitura, o equipamento cultural recebe visitantes para visitas mediadas no último sábado de cada mês, às 10h. Mas, para admirá-lo, basta chegar bem perto, nem precisa entrar.

Nos ícones do Conjunto Moderno – o Museu de Arte da Pampulha (MAP), com seus 12 mil metros quadrados de jardins, a Casa do Baile e a Igreja São Francisco de Assis, a prefeitura trabalha para a manutenção. Na manhã de quarta-feira, lá estava sob sol pleno, com sua equipe, a diretora de Gestão e Educação Ambiental da FPMFZ, a paisagista Laura de Moraes Mourão. Ela explicou que as mudas estão sendo trazidas do Viveiro Burle Marx, estando prontos os primeiros canteiros, em um trabalho que envolve paciência e técnica para a terra ser revolvida, adubada, enfim, tratada. “São 8 mil metros quadrados de gramado e 4 mil de canteiros. Serão necessárias milhares de mudas, só aqui.” Depois, a equipe segue para a Casa do Baile e para a Igreja São Francisco de Assis.

Na “rota Burle Marx”, nossa próxima parada é no Pampulha Iate Clube (PIC), construído em 1961, em uma parte mais alto do bairro, de onde se tem uma bela vista da lagoa e Serra do Curral. Mais uma vez, o artista trouxe das matas os coqueiros, que, por não darem muita sombra, garantem sol para quem gosta de um “bronze”. Os volumes de lírios, a leveza da bela-emília, as massas de folhagem e os gramados amplos se complementam até encontrar o painel modernista Peixes, de Cândido Portinari (1903-1962). Ao ver a topiaria (poda de plantas em formas ornamentais), perto da entrada, Lana, embora admire a conservação do espaço, torce o nariz e diz que Burle Marx não gostaria, pois admirava a natureza mais livre, apenas com a poda normal.

No Iate Tênis Clube, fundado em 1943 e que abriga uma tela do paisagista e artista plástico, o projeto original do jardim foi “desvirtuado”, mas o arquiteto reconhece que está bem preservado. Ele percorre o terreno, e recomenda a supressão de algumas árvores que impedem a visão da Casa do Baile. Um dos jardineiros conta que é um prazer trabalhar ali, ainda mais nos dias bem claros. E é nessa manhã de sol de inverno que termina o passeio, com a vista da Lagoa da Pampulha e, lá do outro lado, o prédio do antigo cassino.

Muitas histórias


Na década de 1930, antes de chegar a BH e impor o seu estilo, Burle Marx criou o Parque do Grande Hotel de Araxá, encomenda do governador mineiro Benedito Valadares (1892-1973), trazendo variedades de plantas da Amazônia, mata atlântica e cerrado e misturando tons, como o amarelo das acácias e o roxo das quaresmeiras. “As plantas iam de trem, era uma grande dificuldade. Mas valeu a pena, pois o de Araxá é um dos parques mais bonitos do Brasil”, revela Lana. Na mesma época, o paisagista trabalhou em Cataguases e no Grande Hotel de Ouro Preto, projeto de Niemeyer. Na década de 1960, esteve em Congonhas para atuar no adro do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Em BH, assinou também os jardins internos do Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governador, o jardim do Aeroporto da Pampulha, o Golf Clube, hoje área da Fundação de Parques, a Praça Carlos Chagas, e outros projetos.

Um berçário para eternizar a obra


Com seu chapelão, óculos escuros e muita energia para lidar com as plantas e a terra, a paisagista Laura de Moraes Mourão enfrenta sol e chuva para cuidar dos canteiros, preparar as mudas e colocá-las no lugar mais apropriado: um jardim. Com extenso currículo na sua área, que inclui curso de biologia com especialização em ecologia e mestrado em conservação em Londres, Inglaterra, e desenvolvimento e execução de projetos, Laura está à frente da Diretoria de Gestão e Educação Ambiental da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica. Nos últimos dois meses, coordena o Viveiro Burle Marx, criado no Jardim Botânico, na Pampulha, para manter vivo o legado do homem a quem chama de “mestre”.

Diretora de Gestão e Educação Ambiental, Laura Mourão coordena o Viveiro Burle Marx, que preservará legado em BH(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Diretora de Gestão e Educação Ambiental, Laura Mourão coordena o Viveiro Burle Marx, que preservará legado em BH (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)


Discípula do paisagista paulista, a belo-horizontina não esconde o brilho nos olhos e vibração na voz ao falar do criador de tantos jardins em BH. No escritório do Jardim Botânico, diante de projetos, documentos, reportagens de jornal e fotografias, ressalta a responsabilidade de restaurar ou requalificar jardins históricos como os da Pampulha. “O maior legado foi o conhecimento e a compreensão no processo de crescimento das plantas, da cor, do ritmo, da justaposição e de proporção de pequenos e grandes volumes. Composição é sempre um jogo, uma luta constante entre luz e sombra”, explica. Para ela, “os jardins são feitos para serem vividos, para entreter os amigos, e, por isso, é necessário a criação de ambientes e situações encantadoras”.

Laura conheceu Burle Marx em BH, quando era uma jovem estudante, durante um simpósio no qual o mestre falava sobre paisagismo e problemas ambientais. “Fiquei impressionada com cada palavra, com a alegria, que depois vi na prática, de transformar ciência em obra de arte.” No fim do simpósio, a belo-horizontina se apresentou ao palestrante, com a determinação de quem descobrira naquele momento o que queria na vida. Para começar, seguiu numa expedição por Minas, Goiás e Bahia, capitaneada pelo paisagista e com mais de 40 pessoas, algumas estrangeiras. “Foram 55 dias de viagem. Depois, fui para para o Rio, pois ele me convidou para ser estagiária não remunerada. Morei num sótão do escritório”, conta.

Usiminas(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Usiminas (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)


Satisfeita com o trabalho, e na companhia dos jardineiros, alguns mais experientes, a exemplo de José Augusto de Melo filho, de 58, há 23 no ofício, e Leonardo Luchese Rocha de Souza, de 33, Laura fala do “repertório” de Burle Marx como poesia que se traduz nas plantas usadas nos jardins da Pampulha: para se multiplicar, uma parte passa pelo pelo berçário, enquanto outras, demandando cuidados, pela enfermaria e CTI.

Na frente dos canteiros, a paisagista fala nome por nome: coração-magoado, camarão-azul, orelha-de-onça, barba-de-serpente, lírios amarelo e laranja, cana-da-índia, crino, ave-do-paraíso, íris-brasileira e muitas outras. Depois, caminhando ao lado da botânica Míriam Pimentel Mendonça, Laura reafirma seu compromisso com o mestre: respeito pela natureza e relação harmoniosa com as plantas. E mãos à obra, pois há muito trabalho pela frente, uma montanha de esterco das baias dos animais, plantas para serem cuidadas e a meta de produzir mudas “infinitamente”.


Trajetória


Burle Marx nasceu em São Paulo, em 4 de agosto de 1909. Faleceu no Rio de Janeiro, há 25 anos, completados em 4 de junho, vítima de câncer no estômago. Era o quarto filho da pernambucana Cecília Burle, exímia pianista, e do alemão Wilhelm Marx, dono de um curtume, homem culto, amante da música erudita e da literatura europeia. Desde cedo, o menino demonstrou afeto pelos jardins, ao acompanhar Cecília no trato diário com os canteiros da casa. Em 1913, a família se mudou para a capital fluminense. De 1928 a 1929, estudou pintura na Alemanha, tendo sido frequentador assíduo do Jardim Botânico de Berlim. Em 1949, comprou sítio de 365 mil metros quadrados em Barra de Guaratiba, ondeorganizou uma grande coleção de plantas. Em 1955, fundou a empresa Burle Marx & Cia. Ltda., sob direção do ex-sócio e amigo de longa data, o arquiteto Haruyoshi Ono (1943-2017). Entre seus principais projetos paisagísticos estão o do Parque do Ibirapuera (SP), do Museu de Arte Moderna (RJ), do Eixo Monumental de Brasília (DF), do Aterro do Flamengo (RJ) e da Embaixada do Brasil em Washington (EUA).


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