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Estado de Minas

'O errado fui eu': entregador que bateu em carro procura dono para se desculpar

Ciclista a serviço de aplicativo busca motorista de carro no qual bateu em uma fria noite de domingo em BH. Rapaz faz questão de pedir desculpas e pagar por estragos


postado em 13/07/2019 04:09 / atualizado em 13/07/2019 08:29

Warley de Oliveira Franco, entregador, de 25 anos:
Warley de Oliveira Franco, entregador, de 25 anos: " Fiquei com raiva de mim mesmo e não parei nem para conversar com a pessoa. Somente na manhã de segunda-feira é que refleti e coloquei uma mensagem nas redes sociais, perguntando se alguém tinha reclamado da batida" (foto: Gustavo Werneck/EM/D.a press)

Agir é bem melhor do que criticar – acredita piamente Warley de Oliveira Franco, de 25 anos, nascido e criado em Belo Horizonte e consciente de que “trabalho e honestidade” devem sustentar a sociedade, tanto em tempos de prosperidade como indefinidos, a exemplo de agora. Na noite do último domingo, depois de pedalar o dia inteiro como entregador de alimentos por aplicativo, o jovem morador do Bairro Alpes (Vila Leonina), na Região Oeste da capital, se envolveu em um pequeno acidente e agora procura ansiosamente a “vítima” para pedir desculpas e, se for necessário, pagar pelo reparo de eventuais danos. Em resumo, quer agir em nome do respeito e da verdade.
 
Com fome e sentindo muito frio, e doido para chegar em casa por volta das 21h30 do último domingo, Warley trafegava na Avenida Mário Werneck, no Bairro Buritis, na mesma Região Oeste, quando um carro o ultrapassou, deu seta e virou na Rua Henrique Furtado Portugal. “O motorista ou a motorista, não sei ao certo, fez tudo direitinho. O errado fui eu”, reconhece, com sinceridade. Na hora, o freio da bicicleta, em alta velocidade, traiu o condutor e ele acabou esbarrando na lateral do veículo. “Fiquei com raiva de mim mesmo e não parei nem para conversar com a pessoa, que não percebeu o ocorrido. Também não olhei para trás. Somente na manhã de segunda-feira é que refleti e coloquei uma mensagem nas redes sociais, perguntando se alguém tinha reclamado da batida ou se conhecia um morador se queixando da bicicleta”, contou o rapaz. “Não sei se quebrou a lanterna traseira, só mesmo conversando para saber. Foi um esbarrãozinho de leve em um carro cinza”, detalhou ele, ainda sem sucesso em sua busca.
 
“Quero muito encontrar a pessoa, acho isso importante demais”, conta o ex-estudante de administração em um centro universitário de Belo Horizonte, que foi obrigado a deixar o curso ainda no primeiro período, por total falta de dinheiro. “Está curto, só dá mesmo para comprar comida e umas roupas”, resume. Brincando com o estado civil – “Solteiro sim, sozinho nunca”, o terceiro mais novo de uma família de oito irmãos se declara tímido, e, mesmo sorrindo, não esconde no rosto uma sombra de tristeza. Órfão de pai há 20 anos, ele perdeu a mãe, Vera Lúcia, de 58, em abril: “Hoje 'sou' eu e Deus. E tenho certeza de que Ele está me guiando”.

DOAÇÃO A conquista da bicicleta para trabalhar, há três semanas, trouxe a oportunidade de trabalho e abriu caminhos. Também usando uma rede social, Warley perguntou se alguém poderia lhe alugar uma bike. “Apareceram duas, e o dono de uma fez a doação”, revela. Morando com quatro irmãos, o jovem cita as mudanças na vida nos últimos anos, sempre norteada pelos ensinamentos de Vera Lúcia: trabalhar e ser honesto. “Quando minha mãe ficou doente, eu trabalhava como auxiliar administrativo, mas tive que sair do emprego para cuidar dela. Morreu em consequência de um aneurisma. Desde criança, eu a escutava dizer que o nome é muito importante para o cidadão, e que devemos preservá-lo sempre”, recorda. Por isso, aos políticos e demais envolvidos em corrupção país afora, o menino da bicicleta indica a trilha: “Basta se espelhar nas pessoas de bem”.
 
Determinado a pautar os dias pela coragem e esperança, Warley diz que, a partir do momento em que passou a agir antes de criticar, “as coisas melhoraram”. Afinal, confessa, era daqueles internautas que comentam de tudo, o tempo todo, sem muita reflexão. Nestes tempos de altas taxas de desemprego, o rapaz agora sonha em continuar os estudos, conseguir um trabalho e, no futuro, se casar e viver em sua casa. E, claro, encontrar a “vítima” do acidente de domingo para ficar com a consciência tranquila.  “O mais difícil mesmo é dar o primeiro passo. Mas, com as lições recebidas da minha mãe, aprendi a andar na linha”, define.


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