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Estado de Minas

PM e Uber discutem parceria para aumentar a vigilância em Minas Gerais

Objetivo é tornar serviço de transporte por aplicativo mais um olho nas ruas do estado e repassar situações suspeitas. Proposta é dar a largada neste ano


postado em 06/05/2019 06:00 / atualizado em 06/05/2019 07:39

O motorista Anderson José Seferino acredita que a medida é bem-vinda e que ajudará a reduzir também os riscos da profissão(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A PRESS)
O motorista Anderson José Seferino acredita que a medida é bem-vinda e que ajudará a reduzir também os riscos da profissão (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A PRESS)
Rio de Janeiro – Olhos capazes de testemunhar crimes em mais de 20 mil pontos de Belo Horizonte podem começar a ajudar o trabalho da polícia. O aplicativo Uber, de mediação de transporte entre motoristas parceiros e passageiros, pretende estender a Minas Gerais e à capital um programa de estreitamento de relações com as autoridades de segurança pública para disponibilizar o contato e até as imagens gravadas por condutores que estiveram em locais de crimes, para ajudar a inibir as atividades ilegais.

Além disso, o rastreio do aplicativo ajudará, também, a localizar foragidos ou criminosos que usarem o serviço para se deslocar e até mesmo parceiros que estejam sendo procurados. Atualmente, esse apoio já foi oferecido a alguns estados, tendo ajudado a polícia a encontrar suspeitos em São Paulo, por exemplo. A informação foi repassada ao Estado de Minas durante a LAAD Defence & Security 2019, a maior feira de defesa e segurança da América Latina. No evento, o aplicativo anunciou, também, que firmou parcerias com o governo federal para melhorar a verificação da idoneidade de seus motoristas parceiros.

A oferta dos serviços do aplicativo Uber deverá ser feita ainda neste ano, prevê a gerente de Relacionamento com Autoridades Policiais para o Brasil da startup, Karin Lopes. “Seguimos regras e critérios legais que permitem a divulgação dessas informações para as autoridades. É tudo também seguindo o marco civil da internet”, conta. O contato inicial com as autoridades serve para esclarecer quais as possibilidades de crimes poderiam receber a colaboração dos parceiros da Uber.

Em seguida, uma cartilha é distribuída para as autoridades, bem como mensagens aos parceiros, o que os torna mais alertas e aptos a colaborar mais ativamente, caso testemunhem crimes no transcorrer de suas funções. “Distribuímos para as autoridades uma cartilha que indica quais os tipos de informações a Uber pode fornecer e como isso pode ser requisitado. Outras informações, a gente precisaria de autorização judicial. Temos todo o interesse de contribuir com as autoridades nessa questão”, afirma a gerente.

Ainda de acordo com Karin Lopes, vários casos em São Paulo foram solucionados utilizando informações de motoristas parceiros. Um dos mais conhecidos foi a prisão, no ano passado, da chamada quadrilha da marcha a ré. A organização utilizava carros roubados para invadir estabelecimentos comerciais em São Paulo. Eles posicionavam a traseira dos veículos de frente para as lojas, engatavam a ré e invadiam o estabelecimento com o carro, para roubar mercadorias e equipamentos. Seis pessoas acabaram presas em Mogi das Cruzes (SP), depois que os motoristas parceiros colaboraram com informações que levaram aos suspeitos.

Outro caso célebre ocorreu depois do atentado terrorista em Londres, na Ponte de Westmister, quando um motorista atropelou cinco pessoas intencionalmente e depois esfaqueou outras na multidão, matando um policial. “Por meio de imagens de motoristas parceiros que verificamos estarem passando pelo local devido ao horário e o seu posicionamento geográfico, foi possível obter até imagens de fotos e filmagens de celular que levaram a testemunhas-chave do ocorrido e a prisões de envolvidos”, conta Karin Lopes.

BASE DE DADOS
O aplicativo Uber anunciou também uma parceria com o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), que é a maior empresa pública de prestação de serviços em tecnologia da informação do Brasil. Por meio desse acordo, o sistema da startup poderá acessar diretamente as bases de dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), para poder fazer a conferência dos documentos dos motoristas em tempo real. “Antes, pelo nosso sistema, o motorista é que tirava uma foto dos documentos e os agentes faziam a conferência. Agora, com o número da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), conseguimos ter exatamente as informações originais. A foto da carteira tem de bater com a que está armazenada no Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Essa integração para conferir a identidade dos motoristas será fundamental para evitar fraudes”, afirma Márcio De Meo, gerente de comunicação para assuntos de segurança da Uber.

Uma das preocupações do aplicativo sempre foi a verificação da idoneidade dos motoristas parceiros que levam os usuários em seus carros. O gerente admite que fraudes já ocorreram no passado e que a startup tenta evoluir constantemente para evitar que isso ocorra. “Essa será mais uma camada de segurança para prevenir fraudes. Assim, vamos criando camadas para ajudar a mitigar fraudes e garantir um serviço seguro”, afirma a gerente.

Cartilha que a empresa de transporte disponibilizará para o motorista parceiro(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A PRESS)
Cartilha que a empresa de transporte disponibilizará para o motorista parceiro (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A PRESS)

 

Opiniões divididas

 

Os motoristas parceiros do aplicativo Uber em Belo Horizonte se mostraram divididos pela parceria com a polícia. Uns acham válido colaborar para reduzir a criminalidade, mas outros temem ser reconhecidos, sofrer retaliação ou ser arrolado pela Justiça para testemunhar. Anderson José Severino, de 41 anos, trabalha há três transportando passageiros pelo aplicativo. Ele conta que, nesse trabalho, rodando na capital mineira e na Grande BH, já se deparou com situações estranhas, que poderiam ser crimes, mas que, por falta de certeza, suas informações acabaram não chegando à polícia. “Uma vez, deixei um passageiro em Ribeirão das Neves (na Grande BH) e vi um motorista que me parecia de aplicativo com uma cara muito assustada. Tinha três homens dentro do carro, todos mal-encarados e em atitude suspeita. Se o aplicativo me acionasse dizendo que era um crime, poderia tê-los descrito e ajudado a polícia a resolver o caso”, afirma.

Anderson gostou da ideia de poder contribuir com informações para as autoridades, sobretudo por entender que isso pode se refletir em mais segurança para ele mesmo. “Já passei por situações de risco. Uma vez, indo buscar uma passageira em Venda Nova, fui parado por traficantes que apontaram pistolas para minha cabeça. Revistaram meu carro e, graças a Deus, não encontraram nada suspeito para eles. Disseram que um colega tinha morrido e por isso estavam revistando todos os carros”, conta. Se o novo sistema estivesse operante, os motoristas poderiam denunciar esses desmandos, tornando a comunidade mais segura para a própria circulação dos condutores de aplicativos. “Tudo o que traz segurança para todos, traz para nós também. Achei uma ideia muito boa e pretendo colaborar quando for implantada em BH”, garante.

SEM ESTÍMULO Mas nem todos estão dispostos a fornecer informações e testemunhos. “Uma vez, eu estava circulando na Região Leste e a polícia perseguiu dois motociclistas. Um bateu na viatura e foi parar no chão. Parei para ajudar e os policiais atiraram no outro. Resultado da minha ajuda: me pegaram para ser testemunha e estou enrolado com depoimentos e pressão até hoje. Quando você entra no radar da polícia acabou o seu sossego. Vê se vou me meter nisso de graça para ajudar no trabalho dos outros (polícia)”, diz um condutor parceiro do Uber, de 30, e que concordou em dizer como se sente a respeito dessa parceria com a condição de não revelar sua identidade. “Para mim, isso não vai trazer nenhum benefício. Tanto faz”, declara.

Outro que também não se sentiu estimulado a participar com informações para ajudar a polícia é o condutor Hugo Leonardo Dias, de 26. “Essa é uma parceria que importa pouco para os motoristas. Todos os dias ouvimos histórias de pessoas sendo assaltadas, passando por situações de violência. Mas, em vez de o aplicativo e a PM criarem formas de nos ajudar, ainda querem que a gente os ajude. Aí é demais”, considera o condutor. “Podia ter feito para nós alguma coisa do tipo da Rede de Vizinhos Protegidos da PM. O que a gente tem feito é criar grupos de redes sociais onde a gente se comunica e tem códigos para quando estamos em situações perigosas, com gente suspeita”, conta. De acordo com o motorista, enquanto ele era entrevistado, um motorista de aplicativo tinha acabado de ser roubado na estrada para Sabará, na terça-feira (9). Ficou sem o carro e foi abandonado num local ermo. “A nossa segurança, atualmente, é mais urgente do que levar informações para a polícia”, diz.
 


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