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Com apenas uma similar no mundo, estátua na Serra do Cipó tem proteção pedida

Associação das Cidades Históricas de Minas pede tombamento da estrutura de três metros imortalizando o ermitão Juquinha, que se tornou uma espécie de embaixador da Serra do Cipó


postado em 02/05/2019 06:00 / atualizado em 02/05/2019 16:06

Símbolo da região, obra da artista Virgínia Ferreira, nascida em Conceição do Mato Dentro, pode ganhar proteção oficial. Processo está em análise pelo Iepha(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A PRES)
Símbolo da região, obra da artista Virgínia Ferreira, nascida em Conceição do Mato Dentro, pode ganhar proteção oficial. Processo está em análise pelo Iepha (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A PRES)

Santana do Riacho – Viajantes a caminho do Serro e de Diamantina, passando pela Serra do Cipó, têm sempre um personagem muito simpático para “cumprimentar” na região dominada por montanhas, rios e pela vastidão verde. Em um descampado, a alguns metros da estrada, as boas-vindas ficam por conta da figura do Juquinha, uma homenagem esculpida em argila, há 32 anos, pela artista plástica Virgínia Ferreira, cenário ideal para guardar na memória e na galeria do celular.

A fim de preservar o monumento, a Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais, que reúne 30 municípios, encaminhou um dossiê ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG) para tombamento da peça de três metros de altura.

“O Juquinha está bem maltratado, com um dedo quebrado, por isso será fundamental a ação do estado para protegê-lo, evitar maiores danos e garantir a manutenção. O prefeito de Santana do Riacho, em cujo território fica a escultura, apoia a ideia”, disse, ontem, o presidente da Associação das Cidades Históricas e prefeito de Conceição do Mato Dentro, José Fernando Aparecido de Oliveira.

Filho do ex-ministro da Cultura e ex-embaixador do Brasil em Portugal José Aparecido de Oliveira (1929-2007), José Fernando lembra bem, quando criança, de ver o pai parando o carro para conversar com o ermitão que inspirou o monumento, conhecido, entre outras práticas, por colher e oferecer sempre-vivas a quem passava. “Numa tarde bem fria na Serra, ele tirou o casaco do corpo e o entregou ao Juquinha”, conta o prefeito, destacando a “importância cultural, plasticidade artística, referência histórica e representatividade popular” da escultura.

De fato, o prefeito de Santana do Riacho, André Ferreira Torres, entusiasta da proposta, quer aliar o futuro tombamento estadual à desapropriação da área que recebeu a escultura em 1987, três anos após a morte, aos 70 anos, do homem batizado José Patrício. André explicou que há uma disputa entre herdeiros em torno da propriedade particular na região do Juquinha, mas disse já ter conversado com um deles, dono de restaurante, pedindo para não vedar a visitação dos turistas. “Ele garantiu que não haverá problemas, mas acho oportuna a desapropriação, para melhor conservação”, informou o prefeito.

Escultura tornou-se parada obrigatória para visitantes, como o casal Caetano Venturim e Adma Camilo(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A PRES)
Escultura tornou-se parada obrigatória para visitantes, como o casal Caetano Venturim e Adma Camilo (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A PRES)


HOMEM DO MUNDO A imagem do Juquinha, com seu sorriso inconfundível, também está bem viva na cabeça da escultora Virgínia Ferreira, nascida em Conceição do Mato Dentro, moradora de Belo Horizonte e formada na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA/UFMG). “Era um homem do mundo, um andarilho, por isso a escultura foi instalada num ponto de intercessão entre Santana do Riacho, Conceição do Mato Dentro e Morro do Pilar”, conta Virgínia, que via em Juquinha uma pessoa ingênua. Para ela, não há estragos na escultura. “O que tem lá é excesso de admiração, pois as pessoas abraçam, chegam perto, enfim, interagem”, afirma.

Ideia, na década de 1980, dos então prefeitos de Conceição do Mato Dentro, Sebastião Soares dos Santos, e de Morro do Pilar, Clério Lima, a escultura ganhou forma pelas mãos de Virgínia, então recém-formada e com especialização em escultura. “Recebi o convite e fiquei um ano trabalhando na Serra do Cipó. Para modelar, foram necessários dois caminhões de argila, doados pelas prefeituras, e foi usada uma forma de gesso com 26 partes. A montagem foi no próprio local”, recorda-se a artista plástica, certa de que “o tombamento deverá impedir que a escultura se torne um objeto de exploração econômica e financeira”.

O certo é que, a toda hora, o Juquinha recebe visita. O casal de namorados Caetano Venturim, analista de tecnologia da informação, e Adma Camilo, dentista, de Belo Horizonte, tem motivos de sobra para curtir o passeio. “Quando começamos a namorar, viemos aqui. O mesmo aconteceu um ano depois e, agora, com quatro anos de relacionamento”, disse Caetano sobre a figura do ermitão. Adma acrescentou: “O lugar é muito tranquilo, bom para a saúde mental... Dá vontade de meditar”. A exemplo de outros visitantes, os dois fizeram pilhas com pedrinhas garimpadas na área – ao logo do caminho, são muitas, como um símbolo das rochas que brilham ao sol de outono. Com o tombamento estadual, acreditam, haverá proteção permanente contra a degradação do monumento.

Pela primeira vez no “território” do Juquinha, o engenheiro Bruno Augusto Lorenzato, de BH, e a namorada, Lorraine Belz Silva, professora, de Ipatinga, fizeram muitas fotos e selfies. “Vi uma foto, uma vez, com uma amiga, e gostei demais. Então, tinha que vir”, disse Lorraine. “Passeando na Serra do Cipó, não poderíamos perder a oportunidade”, afirmou Bruno. Da estrada à estátua, o visitante passa por um portão, que está aberto durante o dia, e depois caminha por um passeio também de pedra.

 

Memória

Depredação


Há pouco mais de dois anos, o Estado de Minas mostrou a situação do Juquinha, a estátua que homenageia o eremita em Santana do Riacho, na Serra do Cipó, na Região Central. Conforme constatou a reportagem, a peça de três metros de altura estava bem degradada, com partes se desprendendo e trincas. Nas costas do Juquinha, uma pessoa chegou a fazer pichação com spray preto. Mesmo assim, o monumento continua a ser um dos principais pontos de visitação ao longo da rodovia MG-010. Diante do Juquinha, nota-se, agora, a necessidade de restauro, já que há manchas na superfície e algumas partes arranhadas. Os visitantes chamam a atenção para o braço direito, que, diante de tanto contato para fotos, está muito liso. Também exigindo trato, há um dedo da mão esquerda quebrado.

(foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS - 31/03/2017)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS - 31/03/2017)

O homem comum que virou ícone

 

De acordo com o dossiê enviado ao Iepha, Juquinha é um patrimônio mineiro e uma das imagens “mais icônicas e inusitadas de Minas”, estando instalada no mesmo local em que o “lendário personagem” viveu às margens da rodovia MG-10, a 120 quilômetros de Belo Horizonte.

Conforme as pesquisas baseadas em depoimentos de quem conheceu José Patrício, tratava-se de alguém “simples, amável e cordial”. O documento entregue ao Iepha registra: “Passeava pelos caminhos da Serra do Cipó distribuindo flores e gentileza, e se tornou uma espécie de guardião da Serra do Cipó quando o lugar não era tão conhecido como destino turístico. Juquinha foi, com toda certeza, uma das primeiras figuras a povoar o imaginário popular quanto aos atrativos que começavam a ganham fama dentro do destino turístico da Serra do Cipó”.

Localizado na Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço e um dos atrativos do Circuito Turístico da Serra do Cipó, a imagem do Juquinha tem, de acordo com pesquisas, apenas um monumento com características semelhantes no mundo, que fica na Espanha. Em meio à natureza exuberante do Cipó, ao ar livre e longe de construções e praças, a escultura já se tornou uma referência para quem segue viagem para outras cidades da Região Central e do Vale do Jequitinhonha.

No dossiê que defende o tombamento da escultura, a equipe da Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais ressalta que a figura do ermitão se encontra presente em vídeos, campanhas publicitárias, sites, redes sociais e outros meios de comunicação: “Pode-se dizer que a história do Juquinha da Serra do Cipó ganhou o mundo, recheada por fatos inusitados e até folclóricos. Incrustada no maciço do Espinhaço, a escultura, vale a pena ressaltar, se integrou perfeitamente ao cenário da Serra do Cipó, dando outra dimensão à beleza natural daquele pedaço abençoado das Gerais”.

Na expectativa do tombamento estadual, o prefeito de Conceição do Mato Dentro observa que “Juquinha representou bem os valores de nossa mineiridade, e deverá ser uma referência para as futuras gerações sobre o que realmente é a alma de Minas”. De acordo com a direção do Iepha, o dossiê passa atualmente por análise técnica, ainda sem definição.

 


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