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Estado de Minas

Única escola de Macacos permanece fechada e alunos ficam sem aula

Próxima do caminho dos rejeitos de duas barragens, única escola de Macacos, onde famílias foram evacuadas às pressas, está fechada. Pais e professores cobram outro lugar para colégio


04/03/2019 06:00 - atualizado 04/03/2019 10:45

No dia seguinte à retirada das famílias, polícia fechou saída de Macacos que passa pela ponte do Ribeirão Macacos, que foi interditada por estar na área de risco (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
No dia seguinte à retirada das famílias, polícia fechou saída de Macacos que passa pela ponte do Ribeirão Macacos, que foi interditada por estar na área de risco (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Traumas e transtornos gerados pelo risco de rompimento da barragem B3/B4 da Mina Mar Azul, em Macacos, distrito de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, tocam num ponto especialmente sensível para a comunidade. Desde a evacuação dos moradores, no último dia 16, a única escola de São Sebastião das Águas Claras, nome oficial da localidade, está fechada.

Embora a Defesa Civil do município tenha considerado segura a área da Escola Municipal Rubem Costa Lima, pais e alunos começaram uma greve há 12 dias exigindo um outro lugar para o colégio, que abriga creche e ensino fundamental 1, funcionar provisoriamente, longe da zona de risco, até a construção definitiva de novo prédio.

Imbróglio envolvendo a prefeitura seria motivo da resistência à mudança. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) foi acionado para fazer uma devassa na situação. Mães e professores de cerca de 200 crianças com idade até 10 anos aguardam manifestação da Promotoria de Defesa da Educação sobre o caso.

A denúncia ao MPMG partiu da professora de inglês da escola e moradora de Macacos, Fernanda Tuna, de 36 anos, cujo filho estudou na instituição até o ano passado. A Rubem Costa Lima ficou fechada dois dias depois da evacuação. No dia 18, postagem em rede social da secretária de Educação, Viviane Matos, informava que a medida duraria enquanto “as estradas alternativas passavam por obras emergenciais para garantir a segurança dos alunos e professores”. Acrescentou que as aulas seriam normalizadas no dia 20. No próprio dia 18, os docentes se opuseram à retomada das atividades e, no dia 20, as mães começaram a paralisação.

Isso porque a escola fica a 40 metros da mancha de risco da barragem de Capão da Serra e a 250 metros da barragem B3/B4, o que gera medo e insegurança nos pais de mandarem seus filhos à aula. A demanda feita à promotoria é de que a escola funcione no espaço do antigo Instituto Kairós, no Bairro Jardim Amanda, situado longe de qualquer mancha de risco. Mas um impedimento judicial pode estar atrapalhando as negociações.

“O instituto estaria pedindo uma indenização à prefeitura e não devolveram ainda o espaço adequado. Nem retiraram todo o material. Mas, o espaço é público e, ainda mais numa situação emergencial, tem que ter a destinação adequada”, afirma Fernanda. O fato de o Kairós ter funcionado durante muitos anos na comunidade criou uma raiz afetiva das crianças com o espaço, o que facilitaria a mudança. “As mães fizeram uma caminhada para reconhecer o trajeto, que não passa por qualquer pare e siga nem zona de risco. Qualquer evento que ocorra, os alunos estarão a salvo.”

Mesmo em local seguro, ela chama a atenção para a necessidade de orientação sobre o que fazer em caso de tragédia, para evitar corre-corre e desespero dos estudantes. “Além da questão do espaço, é grave o fato de nenhum profissional de qualquer escola de Nova Lima localizada próximo a alguma barragem ter recebido treinamento nem da Defesa Civil nem dos Bombeiros para evacuação”, relata Fernanda. Para ela, há uma tentativa clara da prefeitura de instalar a escola provisoriamente em outro espaço, onde o trajeto exige margear Macacos e passar por uma rota em que as crianças gastariam uma hora e meia no transporte escolar para chegar.

Com o novo local, a expectativa é resolver um antigo problema. “Pôr fim à insalubridade da creche, que é pequena para o tanto de crianças que atende”, ressalta. A nova escola, a ser construída no bairro Capela Velha, tinha previsão de entrega no fim do ano passado. Fernanda lembra que a Vale se dispôs a arcar com os custos das instalações provisória e definitiva em assembleia com moradores no último dia 21.

“O vice-prefeito e a secretária se comprometeram nessa data a transferir para o espaço do Kairós e deram para trás no dia seguinte, quando haviam ficado de apresentar a documentação do município autorizando a Vale a mexer”, afirma. “Quatro dias depois, pais e amigos da escola se reuniram para se organizar novamente. A Viviane ligou para uma professora dizendo que tinha autorização de cessão de espaço para abrigar a escola provisória. Ela não veio e, à tarde, um representante da defesa civil disse que a Rubem Costa Lima está boa e as aulas deveriam voltar imediatamente”, diz. A sugestão da prefeitura é que a escola provisória vá para uma outra área cuja entrada está dentro do bloqueio na estrada.

Insegurança

A neta da doméstica Rosângela da Silva Rodrigues, de 47, é uma das alunas sem escola. A família está abrigada num hotel na Pampulha, em Belo Horizonte, sem saber quando terão casa novamente nem a vida escolar normalizada. “Qual a segurança oferecem para tirar 200 crianças da escola?”, questiona.

A van oferecida pela Vale para levar e trazer a meninada passa por duas áreas de risco. A menina teria de sair às 6h para chegar ao colégio e voltaria por volta das 14h. “Não ficaríamos sossegados aqui pensando que no trajeto pode ocorrer algo a ela. E mais, se uma barragem rompe, mesmo estando dentro da escola, elas ficarão lá ilhadas esperando resgate?”. Segundo ela, a neta não para de perguntar quando poderá ir à aula. “Ela tem problemas de saúde e tudo o que avançou em oito anos regrediu agora. Ela ficou em pânico com tudo isso. Ouvir a sirene ensurdecedora, o corre-corre e a saída de casa foram um caos para todos, mas para as crianças é pior ainda”, diz.

Os filhos do músico Leonardo Diniz Avelar, de 37, também estão sem aula. Isaac, de 10, e Natan, de 7, estão num hotel na Savassi, sem previsão de voltar à vida normal. Alunos da Escola Municipal Rubem Costa Lima, eles passam o tempo trancados no quarto. A família foi autorizada a voltar para casa, mas se recusou, uma vez que a área de risco passa no terreno do imóvel, interditado pela Defesa Civil de Nova Lima.

A Vale chegou a oferecer à família matrícula em colégios renomados do entorno. Com o ano letivo já em curso, a mãe das crianças, Camila Marques Trindade de Oliveira, de 31, conseguiu vaga em instituição no Bairro Cidade Jardim, em Belo Horizonte. Ela pagou R$ 100 pelo teste de seleção – os meninos passaram na prova – e ainda obteve 50% de desconto. “Me falaram que o teste mostrou que meu filho mais novo é extremamente inteligente, que tem o QI acima do normal”, conta.

Mas, ao receber a conta, a Vale enviou resposta protocolar: “A Vale está priorizando atendimento de hospedagem, alimentação e transporte aos atingidos. A definição de critérios para indenização das atividades econômicas potencialmente impactadas estão sendo discutidas com os órgãos competentes e serão comunicadas assim que definidas. Medidas de apoio financeiro emergencial serão discutidas pela Vale e informadas oportunamente”. Apesar da orientação para procurar escola para os filhos, a empresa acrescentou que entende que a escola onde estudavam está funcionando.

Reunião agendada

A assessoria da mineradora informou ontem que a empresa tem se reunido regularmente com representantes do Ministério Público, Defensoria Pública, Prefeitura de Nova Lima, Conselho Tutelar e associações de pais e mães da comunidade de Macacos para definir o início do ano letivo no distrito. Ainda segundo a assessoria, uma nova reunião está agendada para a próxima semana, “visando a resolução da situação e o retorno às aulas com tranquilidade para toda a comunidade escolar do distrito”.

A secretária de Educação de Nova Lima, Viviane Matos, também foi procurada, mas até o fechamento desta edição não havia respondido a mensagem enviada por rede social. O Estado de Minas tentou em contato ainda com o Instituto Kairós para se posicionar sobre a questão, mas nenhum representante deu retorno.

 


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