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Estado de Minas

PBH vai avaliar risco em obra no antigo Hospital Hilton Rocha

Com trincas se espalhando pelo prédio encravado aos pés da Serra do Curral e ruptura de canos de gás e água, fundação obtém na Justiça ordem para que Defesa Civil vistorie a estrutura, sob temor de ameaça a pacientes e funcionários. Danos são atribuídos à construção da Oncomed


postado em 13/11/2018 06:00 / atualizado em 13/11/2018 07:37

Instalações do novo centro oncológico são erguidas diante do prédio da unidade especializada em oftalmologia, construída na década de 1970 no Bairro Mangabeiras, pela qual hoje circulam 1,5 mil pessoas diariamente (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
Instalações do novo centro oncológico são erguidas diante do prédio da unidade especializada em oftalmologia, construída na década de 1970 no Bairro Mangabeiras, pela qual hoje circulam 1,5 mil pessoas diariamente (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
 

A Defesa Civil de Belo Horizonte, com apoio de outros órgãos de fiscalização da prefeitura, faz hoje vistoria nas obras do centro de oncologia da Oncomed, que está sendo construído no terreno do Hospital Hilton Rocha, aos pés da Serra do Curral, no Bairro Mangabeiras, Região Centro-Sul da capital. O órgão municipal cumpre ordem da Justiça, que concedeu à Fundação Hilton Rocha tutela de urgência, pedida sob argumento de risco a pacientes e funcionários da instituição de saúde, depois do rompimento da tubulação do gás de cozinha e de canos de água, há cerca de 10 dias, supostamente associado à construção vizinha. O imóvel tem rachaduras espalhadas pelo teto, paredes e piso, que seriam decorrentes das obras.

Uma das rachaduras, na pilastra de um corredor que dá acesso à portaria, está sendo monitorada desde o último dia 24. Ela segue ao longo de toda a altura da parede e continua perpendicularmente, por toda extensão do piso. Desde o dia 5 deste mês, quando a abertura já media 0,4cm, são feitas medições diárias, anotadas na parede. Na quinta-feira passada, houve nova alteração – 0,6cm às 15h30 e, no dia seguinte, às 8h30, 0,9cm. Como essas, há medições com acompanhamento em várias outras rachaduras espalhadas pela estrutura do prédio.

Ontem à tarde, técnicos e engenheiros da empresa responsável pelas obras, a GND Construções, se reuniram com diretores e funcionários do hospital, que estão apreensivos com a movimentação do terreno e as rachaduras. A equipe técnica informou que está monitorando a estrutura até que seja instalado um equipamento de última geração, capaz de detectar movimentação “de centésimos de milímetros”. Mas os representantes da empreiteira, que não falaram com a equipe do Estado de Minas, admitiram diante dos funcionários do Hospital Hilton Rocha que ainda não havia um diagnóstico.

Diante da situação, o advogado e presidente da Associação de Moradores do Bairro Mangabeiras, Rodrigo Beldran, pediu a imediata interdição das obras, até que as causas sejam apuradas. “Não se pode trabalhar nessa situação em um hospital que atende 700 pacientes por dia”, disse. Ele considera “prudente” a interdição até que se estabilize o terreno e que as obras só sejam retomadas depois de um diagnóstico que leve a medidas capazes de garantir a segurança de todos. Circulam pelo hospital em média 1.500 pessoas diariamente, entre pacientes, acompanhantes e funcionários.

A diretora da Fundação Hilton Rocha/Soebrás, Ariadna Muniz, afirma que comunicou problemas à construtora responsável pelas intervenções desde o último dia 22. Na quarta-feira passada, houve rompimento da tubulação do gás da cozinha. Bombeiros foram ao local, indicaram a necessidade de refazer a estrutura e interditaram o espaço para uso. Na sexta, foi um cano de água que se rompeu. Segundo Ariadna, o bloco cirúrgico ficou inundado. A cozinha continua fechada até que se identifique a origem do problema.

A entrada do segundo andar do prédio também foi afetada, o que dificultou o atendimento a pacientes, que ficaram temerosos, descreve. “Chamamos os bombeiros e comunicamos à construtora. Não acharam que era por causa da obra, mas pelo fato de o prédio ser mais antigo”, diz a representante da fundação. “Entramos com a ação na Justiça, porque técnicos que trabalham em outras unidades da instituição avaliaram que o problema é devido à movimentação de terra”, acrescenta.

No domingo, a Defesa Civil de BH esteve no local para avaliar o prédio. Por meio de sua assessoria, a instituição informou que, por enquanto, os níveis de segurança da edificação não se encontram afetados de modo a indicar restrição de uso. A vistoria prevista para hoje será feita por técnicos da própria Defesa Civil em conjunto com a Associação Brasileira de Mecânica de Solo (ABMS) e Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece). A previsão é de que seja feita uma sondagem no terreno para avaliar o tamanho e as origens do problema.

Por meio de nota, a Oncomed informou que monitora “de forma continua o edifício da Fundação Hilton Rocha, a fim de preservar de forma integral a edificação, se certificando de que a obra do hospital não interfira ou prejudique a operação do local”. Acrescentou que, de acordo com pareceres técnicos e posicionamento da Defesa Civil, não foi constatado risco à segurança da edificação.

Em corredores e pilares é possível notar fissuras e abalos, assim como anotações de datas de monitoramento das estruturas, que preocupam comunidade hospitalar (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
Em corredores e pilares é possível notar fissuras e abalos, assim como anotações de datas de monitoramento das estruturas, que preocupam comunidade hospitalar (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)

(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)


(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
VIZINHANÇA Além do impasse causado pelos abalos ao prédio do Hilton Rocha, vizinhos da obra do hospital Oncomed reclamam da intensa movimentação de caminhões pelas ruas do bairro e do barulho fora do horário permitido. A médica Cristiane Veiga Pinto Azzi disse que costuma passear com seu cachorro pelas imediações por volta das 6h30 da manhã e atesta “a intensa movimentação de caminhões carregados de terra retirada da encosta da Serra do Curral”. Segundo a moradora, a preocupação é também com o impacto ambiental. “Estamos encontrando em nossos quintais animais silvestres, como gambás e quatis”, afirmou.

O empresário Leonardo Magalhães disse que algumas moradias no entorno também apresentam rachaduras, e que o barulho começa antes das 6h da manhã, continuando após as 20h. Segundo Leonardo, a empresa construtora não apresentou nenhum relatório de impacto à vizinhança.

Mudanças em leis permitiram obras


A polêmica em torno da construção do Hilton Rocha aos pés do maciço que se tornou área de preservação e símbolo de Belo Horizonte começou no fim do regime militar, com o então ministro-chefe da Casa Civil (1974/1981), general Golbery Couto e Silva. O militar sofreu um deslocamento de retina em 1976 e foi operado pelo oftamologista Hilton Rocha, na época um dos principais especialistas do país na área. Foi quando o médico revelou a Golbery o desejo de construir um hospital de olhos ao pé da Serra do Curral.

Satisfeito com o resultado da cirurgia, o general interveio junto ao então prefeito de Belo Horizonte, Luiz Verano, por meio do governo do estado, para que criasse legislação específica para atender ao desejo de Hilton Rocha. Foi assim que surgiu o prédio erguido em uma área tombada pela União desde 1960 e posteriormente protegida por legislações estadual e municipal. Depois de construído, o hospital passou a ser administrado pela Fundação Hilton Rocha, então formada por um grupo de amigos e familiares do médico.

Em 2005, a Fundação Hilton Rocha foi incorporada à Associação Educativa do Brasil (Soebrás). No fim de 2009, o hospital foi vendido por R$ 16 milhões ao grupo Oncomed, especializado no tratamento de câncer, depois de uma alteração na legislação municipal. O texto previa que o local fosse destinado apenas à construção de hospital oftamológico.

Na alteração, a palavra “oftalmológico” foi substituída pela palavra “geral”, o que possibilitou a negociação da Fundação Hilton Rocha com o grupo Oncomed, que está construindo um hospital de prevenção e atendimento ao câncer. O Hilton Rocha, sob administração da Soebras, continua a funcionar no antigo prédio construído nos anos 1970, e, segundo a diretora da Fundação Hilton Rocha/Soebras, Ariadna Muniz, atende 700 pacientes por dia, sendo 95% pelo Sistema Único de Saúde (SUS).


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