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Estado de Minas

Manejo das capivaras da Pampulha é passo importante contra a febre maculosa em BH

Hospedeiras do ácaro, elas foram esterilizadas e receberam carrapaticida. Trabalho durou um ano


postado em 31/10/2018 06:00 / atualizado em 31/10/2018 08:23

Capivara passa por cirurgia de esterilização dentro do processo de manejo, que durou um ano. Monitoramento deverá ser contínuo na área da Lagoa da Pampulha (foto: PBH/Divulgação)
Capivara passa por cirurgia de esterilização dentro do processo de manejo, que durou um ano. Monitoramento deverá ser contínuo na área da Lagoa da Pampulha (foto: PBH/Divulgação)


Depois de um ano de trabalho, a Prefeitura de Belo Horizonte concluiu o manejo para esterilização das capivaras que habitam a Lagoa da Pampulha, um dos principais cartões-postais da cidade. Restringir a reprodução desses animais, que são considerados hospedeiros primários da bactéria causadora da febre maculosa, traz duas situações para a população de BH. Primeiro, a prefeitura destaca que os moradores não estão livres da doença, já que existe circulação da bactéria comprovada e por isso é importante que a população tome alguns cuidados quando for visitar parques e áreas verdes da cidade. Segundo, a expectativa é que, com o controle da população e monitoramento contínuo para novos manejos caso seja comprovada a chegada de outras capivaras, o número de carrapatos contaminados ou não diminua, deixando a população mais protegida ao longo dos anos.

O trabalho de manejo durou um ano e foram contabilizadas 65 capivaras durante a fase de censo desses animais, realizada em fevereiro de 2018. A partir do momento em que se iniciou o manejo, 53 animais foram capturados e esterilizados. O gerente de Defesa dos Animais da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Leonardo Maciel, destacou que podem ter ocorrido mortes naturais, por predação de jacarés e até saída dos locais de moradia no entorno da orla. Mas como as capivaras são territorialistas e costumam morar nos lugares onde foram contabilizadas, o mais provável é que os 12 animais não capturados tenham morrido. O ponto que mais concentrou os exemplares é uma área interna do Parque Ecológico da Pampulha, que não é aberta à visitação. Outros lugares também foram mapeados, como o entorno do Museu de Arte da Pampulha e outros pontos turísticos em volta da lagoa. Uma das coisas que mais impressionaram a equipe no trabalho é que apenas quatro animais morreram após as cirurgias, feitas com o mesmo padrão para ligar as trompas das fêmeas ou realizar a  vasectomia nos machos.

Leonardo Maciel destaca que, no trabalho de esterilização das capivaras, também houve a aplicação de carrapaticidas de longo prazo, usados justamente para fazer a eliminação dos carrapatos de forma controlada e progressiva. “Se houvesse uma retirada abrupta das capivaras da lagoa, como ocorreu em outras cidades, poderia ocorrer uma dispersão de carrapatos, que é o que não acontece hoje”, afirma. Já existe uma renovação do contrato de manejo desses animais na cidade, o que significa que novas capivaras que aparecerem serão monitoradas e passarão pelos mesmos procedimentos de individualização e esterilização das demais.

Grupo de roedores na orla: 53 passaram pelos tratamentos aplicados pela prefeitura, mas o Executivo alerta: risco de contaminação ainda existe (foto: Cristina Horta/EM/DA Press - 23/1/14)
Grupo de roedores na orla: 53 passaram pelos tratamentos aplicados pela prefeitura, mas o Executivo alerta: risco de contaminação ainda existe (foto: Cristina Horta/EM/DA Press - 23/1/14)


Segundo o secretário de Meio Ambiente de BH, Mário Werneck, o objetivo é desenvolver uma política pública permanente de controle desses animais, para manter a população cada vez mais longe da febre maculosa e respeitando os bichos. “As pessoas têm que se conscientizar de que o carrapato não está totalmente extirpado. É um trabalho contínuo. A segurança existe, mas as pessoas têm que tomar cuidado ao passear com os filhos”, diz Werneck, que destaca a importância de cuidados básicos, como observar a presença de carrapatos após o passeio em um parque, por exemplo, e uso de roupas brancas para facilitar a observação desse tipo de animal.

Diretor de Zoonoses da Prefeitura de BH, Eduardo Vieira Gusmão destaca que, uma que vez passado o período de transmissão da bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da maculosa, a capivara se torna imune pelos anticorpos que ela mesmo produz. “Então ela para de transmitir a bactéria para o carrapato”, afirma o diretor. O próximo passo é garantir o controle dos próprios carrapatos, a partir da diminuição de capivaras e também controle rigoroso em outros animais, como cavalos. Com isso, a expectativa é deixar a população cada vez mais segura contra a febre maculosa.

 

 

Cuide-se


O trabalho de manejo das capivaras é importante para a proteção contra a febre maculosa. Os animais servem de hospedeiros para o carrapato-estrela, transmissor da doença. Neste ano, já foram registrados sete casos da moléstia em Minas Gerais, sendo que dois pacientes morreram. Em 2017, foram 34 confirmações, e 18 óbitos no estado.O período seco, compreendido entre junho e novembro, concentra o maior número de casos da enfermidade.  A Secretaria de Estado de Saúde (SES/MG) recomenda que as pessoas façam inspeções no corpo em intervalos curtos de tempo quando estiverem em áreas favoráveis à presença de carrapatos. Quanto antes os carrapatos sejam identificados e retirados do corpo, menor a chance da transmissão da febre maculosa. Os sintomas comuns da doença são febre, dor de cabeça, dores musculares, mal-estar, náuseas e vômitos. Em alguns casos, pode ocorrer uma erupção cutânea, frequentemente com pele escurecida ou incrustada no local da picada do carrapato.

 

Cronologia do caso


O alerta para a necessidade de manejo dos animais na Pampulha foi ligado em 2011, quando, em Campinas (SP), quatro funcionários de um parque foram diagnosticados com febre maculosa. Mas foi em 2012, quando houve aumento significativo da população desses roedores na Pampulha, com a destruição dos jardins de Burle Marx, que a administração de BH começou a se mobilizar em torno do tema. Nesse momento teve início a discussão sobre a inviabilidade da convivência dos animais no espaço urbano.

2013
» A polêmica em torno das capivaras da Pampulha teve início em julho, depois que os animais começaram a atacar os jardins do paisagista Burle Marx, na orla da lagoa. O então vice-prefeito de BH, Délio Malheiros, propôs ao Ibama um plano de manejo para a retirada dos roedores

2014
» Empresa responsável pela captura dos animais só foi contratada em março. Somente depois de ajustes impostos pelo Ibama a PBH começou o isolamento, em setembro
» Em novembro, exames realizados nas capivaras capturadas detectaram a contaminação pelo causador da febre maculosa, o que acendeu o alerta entre moradores

2015
» Em março, denúncia de maus-tratos contra os animais que estavam isolados levou o MP a pedir a soltura dos roedores. Dos 52 capturados, 20 morreram. A Justiça rejeitou o pedido do MP

2016
» Após um ano de discussão, a Justiça Federal deferiu pedido do Ministério Público e determinou a soltura dos animais em 4 de março. Apenas 14 sobreviveram
» A morte de um garoto de 10 anos contaminado por febre maculosa reacendeu o alerta
» A pedido da Associação de Moradores do Bairro Bandeirantes, o desembargador federal Souza Prudente, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, determinou que os animais fossem novamente isolados, mas não estipulou prazo
» Como a decisão não foi cumprida, em 11 de novembro o desembargador determinou que o isolamento ocorresse em cinco dias
» Prazo para isolamento das capivaras se encerrou em 24 de novembro 

2017 
» Em fevereiro, foi assinado termo de ajustamento de conduta (TAC) entre a Secretaria de Meio Ambiente e o Ministério Público, a fim de encerrar a controvérsia envolvendo as capivaras. Pelo acordo, a secretaria teria dois anos para fazer o controle dos animais e acabar com o problema.
» Em outubro, um homem de 42 anos, morador de Contagem, morreu por febre maculosa. Ele visitou a Pampulha antes de manifestar os sintomas. Diante da situação, o secretário Municipal de Meio Ambiente, Mário Werneck, anunciou que o início do manejo das capivaras ocorreria na mesma semana
» Alguns dias depois, técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente começaram a fazer o trabalho de dedetização da área externa, capina e limpeza de contêineres onde serão realizadas as cirurgias
» Em novembro, O Ibama deu sinal verde para os trabalhos de esterilização das capivaras que vivem no entorno da Lagoa da Pampulha.

2018
» Depois de atingir 50% do manejo no início do ano, em julho, a Prefeitura de Belo Horizonte começou uma nova fase do trabalho. Foram instalados três novos bretes para captura das 30 capivaras restantes do lado de fora do Parque Ecológico para que fossem esterilizadas.
» Ontem, a prefeitura anunciou que o manejo das capivaras que vivem na orla da Lagoa da Pampulha foi concluído. Mais de 50 animais foram esterilizados e nos próximos anos a área continuará sendo monitorada

 


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