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Estado de Minas

União Europeia vai exigir visto para turista em 2021

Fluxo que fez explodir procura por formas de migrar para o Velho Continente enfrentará mais barreiras a partir de 2021, com exigência de visto para ingresso na União Europeia


postado em 04/08/2018 06:00 / atualizado em 04/08/2018 07:57

A brasileira Marcelle Oliveira se mudou com o filho Heitor e o marido Pedro Hermones para a Espanha, e agora a família segue para a Itália(foto: Arquivo pessoal)
A brasileira Marcelle Oliveira se mudou com o filho Heitor e o marido Pedro Hermones para a Espanha, e agora a família segue para a Itália (foto: Arquivo pessoal)
Se a nova onda migratória para a Europa vem levando embora “endinheirados” do Brasil, há também quem embarque em busca não só de qualidade de vida, mas também de oportunidades de trabalho. E nesse meio estão os ilegais. Somente em Portugal, oficialmente, estima-se em 50 mil o número de pessoas que entraram como turistas e ficaram. Um freio nesse fluxo, que muitos acreditam perdurar pelos próximos cinco anos, pode vir já em 2021, quando será preciso visto para entrar em território europeu.

O Parlamento Europeu aprovou no início do mês passado um novo sistema de autorização de viagens para turistas de países que não precisam atualmente de visto para entrar nos países da União Europeia, incluindo o Brasil. A autorização prévia para viagem passará a ser exigida em três anos, e o pedido será feito em um formulário on-line. Em Portugal, por exemplo, um dos destinos mais procurados dos brasileiros, as instituições oficiais estimam em 150 mil a população de brasileiros, sendo 100 mil com visto direito de residência. Entre quem já está em território europeu, a conta é bem maior: pelo menos 500 mil.

“Para cada avião, há duas ou três pessoas que viajam com a documentação legalizada. O restante entra como turista para tentar a sorte”, afirma o professor universitário e consultor Gerson Freire, de 45 anos. Ele se mudou com a família para Portugal no início de 2015, depois de dois anos de planejamento. As filhas saíram de uma tradicional escola particular da capital mineira para estudar em escola pública. “Quando vim, a crise ainda não tinha tomado conta, mas o Brasil já dava indícios de que viveria um choque sociopolítico, o que se concretizou. Tomei a decisão em 2013, depois de ver uma estatística de que BH tem 23 assassinatos todo fim de semana”, lembra. Ele foi com emprego garantido em uma empresa de importação e exportação e, em Lisboa, montou a Consultoria Portugal, para assessorar famílias que estão buscando aquele país como novo projeto de vida.

Lusobrasileiro, deu entrada no processo de cidadania ainda na fase de planejamento. “Houve uma onda migratória para Portugal nos anos 1980 e outra no fim dos anos 1990, quando Portugal entrou para a União Europeia. Na crise de 2008, os brasileiros voltaram quase todos. Agora, vemos uma terceira onda. Percebi esse movimento e vi nele uma oportunidade de negócio”, afirma. Sua consultoria já atendeu a mais de 300 famílias, das quais 15% de Minas Gerais. São Paulo ainda é o estado que mais exporta brasileiros. Atualmente, a empresa atende 48 famílias que estão em fase final do processo de legalização e mudança.

“Estamos falando de um público classe AA, que pode comprar um imóvel de 500 mil euros. Mas tem as pessoas que entram como turistas e buscam a legalização por um contrato de trabalho, o que é moroso e doloroso. A pessoa fica num limbo jurídico, não pode sair de Portugal e corre o risco de ter problemas numa blitz de imigração. Mas as pessoas fazem dessa forma, porque todo mundo está querendo sobreviver.”

OPORTUNIDADE


E, chegando ao Velho Continente, nem tudo são flores. O designer João Paulo Dias Figueiredo, de 33 anos, se mudou em 2013 para a cidade do Porto para estudar. Ao longo desse tempo, renovou visto e agora procura trabalho. A situação do Brasil pesa na decisão de permanecer em terras lusitanas, embora ele tenha consciência de que, sem algo estável, não tem condições de ficar.

A ideia é tentar a cidadania pelo tempo de residência e, depois, procurar oportunidades em outros países europeus. “A única possibilidade de trabalho é ser contratado por uma empresa que arque com os custos burocráticos. Tendo a cidadania, ela não tem que cobrir esses custos, o que facilita tudo”, afirma. Apesar da expansão econômica de Portugal, João Paulo diz que ainda é difícil conseguir emprego, dentro ou fora da área. “Achei que as coisas seriam um pouco mais fáceis quando saí do Brasil, que era um ambiente ideal onde oportunidades aparecem e a demanda dos empregos vêm, mas é o contrário: você tem que procurar. E é difícil ter respostas, principalmente quando se encaminham currículos por e-mail, e a tentativa não ocorre pessoalmente”, relata.

A quem pensa trilhar o mesmo caminho, o designer recomenda prudência e cautela. “Não dá para saber como cada um vai se sentir em outro país. As culturas não são distantes, mas há uma diferença perceptível. É muito difícil ter tudo programado antes de vir, mas vale a pena tentar. Ao mesmo tempo que parece haver certo interesse do país em aceitar estrangeiros, não está muito claro para mim qual é o peso maior: o de aceitar a vinda, facilitar ou não.”

ITÁLIA
A modelo Marcelle Marques de Oliveira, de 24, e o marido, o jogador de handebol Pedro Henrique Hermones, de 25, também viajaram com tudo em dia. Pedro foi contratado por um time na Espanha, onde o casal morou por dois anos, e, agora, eles se mudam para a Itália. Voltaram ao Brasil para visitar a família com o pequeno Heitor, de 1 ano e 6 meses, e estiveram no Consulado italiano em Belo Horizonte em busca do visto de trabalho. Por causa da ascendência familiar, o jogador tem direito à cidadania e dará entrada no processo por meio do novo clube, para garantir a tranquilidade da família. “Fomos por causa do trabalho dele, mas, se não fosse isso, escolheríamos ficar na Europa, mesmo gostando muito daqui. A qualidade de vida é outra, ainda mais com filho pequeno. Essa é a maior herança que podemos deixar para o Heitor: a possibilidade de ganhar o mundo.”

De férias em Estrela do Indaiá, no Centro-Oeste de Minas, Marcelle fica angustiada só de pensar em ir ao Rio de Janeiro, onde mora sua mãe, que também está de malas prontas para Portugal. “Tenho um irmão pequeno e ela busca qualidade de vida para ele. Ela não aguenta mais fazer a dura escolha de andar com o filho solto no carro, em vez de preso à cadeirinha, pois tem medo de ser parada e não ter tempo de retirá-lo.”


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