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Estado de Minas A COPA PASSOU POR AQUI

Donos de bares e restaurantes avaliam legado da última Copa em BH

Às vésperas do Mundial de futebol, o Estado de Minas volta às ruas que reuniram torcedores e turistas na capital mineira em 2014 para mostrar os impactos dos investimentos


postado em 10/06/2018 06:00 / atualizado em 10/06/2018 07:28

Comerciantes da Savassi lamentam o esvaziamento da região e a queda no movimento de bares e restaurantes(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Comerciantes da Savassi lamentam o esvaziamento da região e a queda no movimento de bares e restaurantes (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

Parece que foi ontem, mas já se vão quatro anos desde que Belo Horizonte e outras cidades do país sediaram a Copa em 2014. O Mundial chegou em ambiente de tensão social, com críticas feitas aos gastos para viabilizar as exigências da Fifa, mas é inegável que aos primeiros apitos e desembarque das federações em território nacional o encantamento roubou a bola e conduziu o jogo. Ainda há quem suspire de saudades das ruas e bares tomados por turistas. Quatro anos depois, donos de bares e restaurantes analisam o que ficou de legado para o setor e o que não foi pra frente ou naufragou nas promessas não viabilizadas. O mesmo ocorreu na infraestrutura da cidade. Enquanto alguns projetos saíram do papel, caso do BRT, outros nem a Copa conseguiu deslanchar, como a despoluição da Pampulha.

No setor de bares e restaurantes, dados de arrecadação dos estabelecimentos, feitos na época do Mundial pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel/MG), mostram que o faturamento ultrapassou a casa dos R$ 12 bilhões. Muitos bares da capital registraram crescimento de mais de 300% no movimento quando comparado com dias normais, especialmente nas regiões da Savassi e Pampulha. Só em BH, a entidade estimou mais de R$ 70 milhões em faturamento nos bares durante o mundial.

Ricardo Rodrigues, presidente da Abrasel/MG, acredita que a tempestade econômica que se seguiu ao Mundial foi responsável por deixar um gosto amargo na boca dos comerciantes. “Após a Copa, o governo ainda estava segurando a economia, mas logo depois veio o ponto alto da crise. A gente passou a não ter muito o que comemorar”, afirma.
Quem concorda com essa análise é Rosângela Souto, proprietária do bar e restaurante Rococó, na Savassi. O quarteirão fechado da Rua Antônio de Albuquerque, onde está o estabelecimento, foi um dos mais movimentados na época dos jogos, mas, segundo ela, os reflexos da crise posteriormente ao Mundial foram muito impactantes. “A gente trabalhou horrores na época. Na Savassi, o movimento foi uma coisa atípica, estrondosa. Mas a economia degringolou e tudo o que a gente ganhou acabou indo embora depois”, lamenta.

A Savassi, especialmente, sofreu com a saída de alguns dos bares que se tornaram point durante a Copa. O quarteirão abaixo da Antônio de Albuquerque, por exemplo, está cheio de espaços vazios e alguns bares acabaram fechando, caso da Status. O quarteirão, inclusive, é marcado por placas de aluga-se.

Para o presidente da Abrasel, se os comerciantes fossem consultados sobre a possibilidade do retorno do Mundial a BH, ele acredita que muitos iam rechaçar a ideia. “A experiência pós-Copa não foi boa. Ela não foi a vilã, mas ficou como pai da criança (a crise), sem ser. Se a gente buscar o meio hoteleiro eles vão excomungar também. Mas, ao mesmo tempo, os equipamentos públicos que ficaram trazem benefícios até hoje”, analisa.

Contudo, Ricardo Rodrigues considera que, além da infraestrutura, o serviço prestado pelos estabelecimentos ainda repercute e qualifica o atendimento. A visibilidade do Mundial contribuiu para isso. “O mercado se preparou muito na época, principalmente para o turismo externo. Os bares tiveram que se qualificar, investindo em treinamento dos funcionários, por exemplo. A Copa ainda melhorou o Mineirão, que, em número de eventos, só perde para o Allianz Park, em São Paulo”, considera.

Essa avaliação positiva também foi feita por Odair Cunha, diretor do Baiana do Acarajé, localizado na Praça da Savassi. Mesmo reconhecendo que a crise impossibilitou um crescimento maior, ele avalia que os pontos positivos se sobrepõem. Especificamente sobre o negócio que administra, Odair vê reflexos até hoje no serviço prestado. Como exemplo, cita o cardápio mais elaborado e a qualificação dos funcionários no momento de lidar com o cliente. Ele comemora os investimentos em infraestrutura e afirma que a região em que o Baiana está localizado acabou tendo mais movimento, tanto de pessoas da cidade quanto de turistas que vêm a BH.

Torcedores do Brasil e de vários países ocupavam a Savassi para acompanhar os jogos do torneio em 2014(foto: Jair Amaral/EM/D.A.Press)
Torcedores do Brasil e de vários países ocupavam a Savassi para acompanhar os jogos do torneio em 2014 (foto: Jair Amaral/EM/D.A.Press)


PONTO DE ENCONTRO Se o Mineirão é lembrado pela triste derrota brasileira por 7 a 1 para o time alemão, para o comerciante Rodrigo Cioletti, de 32 anos, que fica no “quarteirão da Copa”, na Rua Antônio de Albuquerque, a Savassi foi o palco da alegria da capital naqueles dias. “Foi um momento único, que dificilmente teremos aqui. Ficou a cultura de ser ponto de encontro de torcedores. Nos dias de jogos do Brasil na Rússia, a expectativa é de recebermos muita gente, mas nada que se compare àqueles dias”, prevê Cioletti. Na época, ele era dono de uma loja de açaí e sorvetes. No ano seguinte, investiu na compra do restaurante mexicano Takos, ao lado de sua loja, mas desconversa sobre os ganhos no período.

A servidora pública Natália Mendes, de 48, deixa o saudosismo fluir. “Não foi apenas algo lucrativo para os comerciantes. A Savassi se tornou o ponto de encontro das torcidas de vários países e a possibilidade do convívio com pessoas de outras culturas. O local é um marco desses dias de festa que sempre serão lembrados por quem esteve na cidade durante o Mundial de 2014. E acho que isso explica o público relevante aqui nos happy hours e em dias de jogos.”

Para algumas pessoas, aqueles dias parecem tê-las prendido na Savassi. É o caso do gerente de restaurante Luís Henrique Freitas, de 24, que, ao saber de uma vaga num estabelecimento no quarteirão da Pernambuco, entre a praça e a Rua Tomé de Souza, candidatou-se à vaga. “Trabalhei de garçom na Status Livraria, que tinha serviço de bar. Depois da Copa fechou, mas quando fiquei sabendo que abriria um restaurante no local quis voltar para esse quarteirão. Dá saudades daqueles dias, em que se trabalhava muito e se ganhava boas gorjetas dos estrangeiros.”

Luís acredita que o público atual no quarteirão representa 20% da clientela dos dias de Mundial de 2014. “Não há como comparar. Mas temos um bom movimento. O curioso é que sempre aparecem clientes estrangeiros, da Inglaterra, Chile, Colômbia, entre outros, procurando pela Status Livraria para rememorar aqueles dias de festa”, conta o gerente.

O comerciante Adílson Bernardes, de 57, alugou o espaço onde abriu o restaurante Silvinho’s e brinca que Luís é a única herança da Copa em BH. “Depois do Mundial de futebol, houve uma corrida dos proprietários de imóveis para aumentar os aluguéis, acreditando que a reforma da praça aumentaria o público. Muitos fecharam as portas, e o quarteirão teve uma mudança de perfil, deixando de ser ponto de encontro em bares para uma oferta gastronômica e de lanches rápidos. O que precisamos é do apoio da PBH para tocar os negócios. Uma nova Copa nem pensar pois com esses políticos, o povo paga uma conta alta.”

John Pablo, de 23, gerente do Braga Pão de Queijo, no quarteirão da Pernambuco, caminha tranquilo para atender os clientes. Ele nem sequer imagina que, nos dias do Mundial de 2014, no local funcionava o Buana, bar que servia pizza em pedaços para os torcedores que se aglomeravam em frente ao balcão improvisado na entrada. “Várias pessoas já estiveram aqui procurando pizza em pedaço. Mas há seis meses trabalho aqui, com um novo dono, e nem imagino como foi o atendimento durante a Copa. Ao que parece, temos um ambiente bem tranquilo, sem filas para a cerveja”, brinca.


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