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Estado de Minas

Festival de tatuagens movimenta a Serraria Souza Pinto, em BH

Evento reúne artistas do país e estrangeiros, e apaixonados pelos desenhos sem nenhum tipo de distinção. Programação também inclui atrações musicais


postado em 05/05/2018 06:00 / atualizado em 22/05/2018 15:48

Os amigos Laurine Novas e Marcelo Ribeiro exibem o corpo coberto de tatuagens e piercings(foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
Os amigos Laurine Novas e Marcelo Ribeiro exibem o corpo coberto de tatuagens e piercings (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)

Pode ser old school, geométrica, aquarela ou tribal. Pode ser também um retrato, um desenho botânico ou uma mensagem feminista. Pode ainda ser a primeira tatuagem ou a 100ª. Pode ter recém-completados os 18 anos – quando a lei dá aos insaciáveis a permissão para rabiscar a pele – ou já ter comemorado os 70. Não tem distinção de gênero, de cor, de idade ou de estilo: tem para todos os gostos. Não é novidade que a tatuagem abandonou o estigma de estar à margem da sociedade e está cada vez mais presente na pele. Se há alguns anos ter um desenho definitivo no corpo era algo subversivo, hoje, a tatuagem virou um detalhe na pele corriqueiro.

Os amantes da arte do corpo terão muitas opções de desenhos na 8ª edição do BH Tattoo Festival, que começou ontem e irá até domingo, com um leque de atrações musicais, ao lado de estandes ocupados por aproximadamente 400 tatuadores nacionais e estrangeiros, incluindo profissionais vindos da Rússia, Holanda, Peru e Chile. O evento ainda conta com concursos, intervenções, workshops e shows de bandas de diversos gêneros.

“Minha intenção é não deixar pele limpa do pescoço para baixo”, contou Laurine Pontes Novas, de 34 anos, que trabalha como manicure e body piercer. A jovem, que tem 70% do corpo tatuado, conta que fez o seu primeiro rabisco aos 21, mas retomou os desenhos aos 26. “Eu vejo fotos antigas e eu não me reconheço. Não me importo com o que as pessoas dizem, me importo com o meu caráter”, completou. O Paulo Roberto, de 27, concorda. Inclusive, decidiu aumentar o número de desenhos durante o evento. Desta vez, resolveu homenagear o pai e escolheu um profissional para fazer uma imagem detalhista do ente querido. “É aniversário dele, decidi fazer. Ele não sabe ainda, vou mostrar de surpresa”, pontuou.

Entre tantas pessoas expondo suas tatuagens pelos corredores do evento, Marcelo de Souza Ribeiro, de 35, mais conhecido como Marcelo B’boy, se destaca. Com o corpo totalmente tomado por desenhos coloridos e piercings, Marcelo falou sobre sua relação com a tattoo: “Eu era professor de hip-hop e fiz minha primeira tatuagem com 15 anos para ressaltar minha paixão pela dança. Depois disso, foi desenho atrás de outro desenho”, explicou ele. Após alguns anos, decidiu comprar um kit de tatuador e começou a fazer as tattoos, inclusive, em seu próprio corpo – que já é 96% colorido: “Sou o primeiro homem mais tatuado de Minas Gerais e o segundo do Brasil”, contou, orgulhoso do título. Com tanta experiência de desenhos sob a pele, a dor já não é mais um problema. Ele já coloriu até o branco dos olhos. Mas, para os inciantes, ele pontuou: “O lugar mais difícil foi a costela”. Hoje, o apaixonado pela arte na pele se profissionalizou e vive de tatuagem, viajando para várias cidades do Brasil e do mundo para participar de convenções e festivais.

CADA VEZ MAIOR
A maior aceitação social da tatuagem e a melhoria na qualidade dos produtos e técnicas foram importantes pela expansão do setor e, consequentemente, explicar o crescimento na movimentação no evento. Segundo a produção, o número pulou de 3 mil para 15 mil participantes em seis anos. Um dos tatuadores mais antigos da capital mineira e presidente da Associação dos Tatuadores e Piercer de Minas Gerais (Atap-MG), contou que a mídia colaborou para essa propagação. É possível ver tatuagens em jogadores de futebol, em novelas e, até mesmo, em profissionais que trabalham em ambiantes mais tradicionais. Mas, não foi sempre assim. “As coisas eram difíceis. Tanto para você se tatuar e carregar um imagem marginalizada, quanto para um tatuador ter conhecimento e aprender a tatuar”, explicou. “Comecei com 18 anos. Eu não achei que isso ia render... Fiz a minha primeira para mostrar minha rebeldia. Mas, hoje, os jovens se renderam”, contou o tatuador, que tem 65% do corpo repleto de desenhos.

Nos três dias desta oitava edição, os expositores ficarão disponíveis para tatuar de 12h até 22h. O festival engloba diferentes estilos de tatuagem e tem também grande diversidade de preços, sendo R$ 100 o valor mínimo. A programação de concursos é extensa, com 23 categorias relacionadas e premiação prevista para o primeiro e o segundo colocados em cada uma. Miss Tattoo’18, Melhor Tatuagem e Melhor Cosplay estão entre as eleições previstas. A promoção #QueroSerTela dará oportunidade de ser tatuado ao vivo, no palco, por uns dos tatuadores convidados: Anjelika Kartasheva (Rússia), Ganso Galvão (RJ) e Clayton Dias (RS). O ingresso diário custa R$ 25 e o passaporte que dá acesso aos três dias sai por R$ 70. Também é obrigatória a entrega de 1 quilo de alimento não perecível ou a apresentação da carteirinha de estudante.

Mulheres ganham espaço


O mercado de tatuagem está em alta. Estudo do Sebrae identificou que o setor teve crescimento de 24,1% relativo ao número de estúdios regularizados, sendo que esse índice foi apurado entre janeiro de 2016 e de 2017. Este aumento também se reflete no número de mulheres que entraram no ramo. Segundo o diretor de comunicação do evento, Bruno Ferrão, tanto nos stands, quanto nas macas onde as pessoas se submetem à agulha, a presença feminina aumentou: “As mulheres estão com a presença considerável”, pontuou.

Camila Mesquita venceu a resistência, principalmente dos homens(foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
Camila Mesquita venceu a resistência, principalmente dos homens (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)


“Eu sempre gostei de desenhar e comecei a tatuar há quatro anos. Posteriormente, abri um estúdio com outras duas tatuadoras. O mercado feminino está crescendo”, contou Camila Mesquita, de 28 anos, que faz parte do espaço A Senhorita Tattoo. Porém, conquistar o seu espaço não foi nada fácil – tanto por parte de colegas de profissão quanto por parte de clientes, que não depositavam a confiança no trabalho de uma mulher. Ela contou que por diversas vezes homens duvidaram da sua capacidade: “Sofri com muita resistência. Muitos homens não acreditavam que foi uma mulher que fez tal desenho. Hoje, a maioria dos meus clientes são homens.”

Gilmara Oliveira, de 41, é artista visual, trabalha com mulheres e atua em diversos segmentos culturais, com o intuito de enaltecer o universo feminino. “Eu entendo o corpo como extensão do meu trabalho. Faço parte de um coletivo que trabalha com o universo da mulher”, explicou. Quem visita o estande dela pode perceber que clítoris, de todas as formas e tamanhos, chamaram a atenção. E, para ajudar outras mulheres, a artista abriu uma promoção para as duas primeiras meninas que quiserem apagar uma tatuagem com nome de ex-companheiro(a), ganharia um desenho de graça. Passeando pelos corredores, não é só o clítoris que reforça a onda feminista: é possível perceber ícones como a artista plástica mexicana Frida Kahlo estampados como opção de tatuagem, assim como desenhos de mulheres fora do padrão ou mensagens como ‘girls power’.”


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