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Estado de Minas

Morre professor emérito da UFMG, Edson Durão Júdice

Primeiro chefe de departamento do Instituto de Ciências Exatas (ICEx) faleceu aos 92 anos, dos quais 65 dedicados ao ensino


postado em 27/03/2018 06:00 / atualizado em 27/03/2018 10:43

O professor Edson Júdice tinha 92 anos, lecionou até os 88 e foi responsável pela estruturação do Instituto de Ciências Exatas da UFMG(foto: Cristina Horta/EM/D.A PRESS 3/12/2004)
O professor Edson Júdice tinha 92 anos, lecionou até os 88 e foi responsável pela estruturação do Instituto de Ciências Exatas da UFMG (foto: Cristina Horta/EM/D.A PRESS 3/12/2004)
“Meus amigos, vocês não vibram com isso?”, dizia ele depois de demonstrar o teorema à plateia vidrada. Após solucionar as equações em terceiro grau, ele sorria: “Como podem ver é de uma simplicidade franciscana”. Com paixão, ministrava as aulas. “Tive alunos fantásticos. Nunca tive discussão com nenhum que pudesse deixá-lo magoado ou sentido. Colecionei amigos”, costumava dizer. No ensino da matemática, alcançava a felicidade, uma das dimensões espirituais que, por paradoxal que seja, brincava: “Esta não se mede em números”. Não à toa, bordava a arte de ensinar em livros, destinados a facilitar a vida dos estudantes. Assim escreveu Elementos de geometria analítica (1971), Elementos de álgebra vetorial (1976) e O teorema de Sard e suas aplicações (2011).

Este foi Edson Durão Júdice, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), professor da PUC Minas, um homem que por 65 anos dedicou a vida ao ensino. Faleceu aos 92 anos, no domingo. “Ser professor é pura vocação, tem que juntar gosto e dedicação, adquirir conhecimento e transmiti-lo. O mais importante, no entanto, é saber estimular a turma, fazer o aluno vibrar com o assunto. Se não for assim, o aprendizado se torna impossível”, declarou em dezembro de 2014 ao Estado de Minas, após ser homenageado com o título de Engenheiro do Ano 2014 e a Medalha Sociedade Mineira de Engenheiros (SME).

“Ele foi o maior professor de engenharia do estado, fundamental na formação dos engenheiros mais eminentes de Minas Gerais”, afirmou o diretor-presidente do Estado de Minas, Álvaro Teixeira da Costa.

Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) onde se graduou em engenharia civil e ministrou aulas por 39 anos – entre 1948 e 1987 – o sentimento é de pesar. “Ele foi extremamente dedicado, generoso e íntegro. A ele devemos a estruturação do Instituto de Ciências Exatas (ICEx), declara a professora do Departamento de Matemática da UFMG Maria Cristina Costa Ferreira, pesquisadora no campo da formação de professores de matemática e desenvolvendo, atualmente trabalhando sobre “Memórias do Departamento de Matemática”. Edson Durão Júdice foi o primeiro chefe de departamento do ICEx. “Estamos hoje fazendo 50 anos da reforma universitária, que criou todos os institutos, inclusive o ICEx. O professor Edson era catedrático da Escola de Engenharia e foi convidado. Estruturou todo o departamento, fez os primeiros contatos para a implantação do mestrado e para a formação dos professores em nível de pós-graduação”, afirma Maria Cristina.

Edson Durão Júdice graduou-se em engenharia civil pela UFMG em 1948 e especializou-se em matemática no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro, em 1953. Dois anos mais tarde, concluiu estudos de doutoramento em economia na UFMG; tornou-se doutor em matemática também pela UFMG. Ingressou no quadro docente da universidade em 1949. Ministrou aulas nos cursos de arquitetura, economia, engenharia civil e administração e no Programa de Pós-graduação em Economia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais (Cedeplar). Também foi professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), onde lecionou entre 1968 e 2013, nos cursos de administração, engenharia e arquitetura e urbanismo. Na PUC, também coordenou o curso de engenharia civil e foi diretor do Instituto Politécnico. Entrou pela última vez em sala de aula aos 88 anos.

Nascido à Rua Tupinambás, a um quarteirão da Praça Sete, esse belo-horizontino foi casado por 63 anos com a professora de português Maria Helena, pai de cinco filhas e avô. Fez dos números não apenas a disciplina em sala de aula, mas também muitas das brincadeiras com que declarava o seu afeto à esposa e à família. “Amo-te”, foi a mensagem que certa vez ofereceu à esposa, por meio de sucessivas equações. “Matemática não é difícil, mas exigente. Trata-se de matéria sequencial, tudo está encadeado, é método dedutivo. Não se pode saber o conteúdo de um ano letivo se não tiver aprendido o do ano anterior”, explicava.

Profissionais liberais que passaram por sua sala, tristes com a perda, se manifestaram nas redes sociais. “Grande perda! Professor Edson Durão Judice, um dos meus gurus em minha formação profissional. Descanse em paz”, registrou Castro Júnior, graduado em Administração e Engenharia Metalúrgica na UFMG. “Gratidão por ter tido a oportunidade de aprender um pouco com ele. Pessoa linda, sábia, humilde, elegante e gentil. Uma vez o encontrei com sua esposa e elogiei a beleza de vê-los juntos. Casal ternura. E eu o chamava de Nelson Gonçalves quando o encontrava nos ensaios do coral da PUC. Descanse em paz”, escreveu a arquiteta e urbanista Lúcia Karine Almeida, professora da PUC. “Morreu um dos maiores matemáticos da UFMG.  Fica aqui a minha gratidão pelo grande mestre que lotava a sala de aula como num show, que falava com intimidade da geometria não euclidiana. Que o infinito te acolha, você foi grande!”, assinalou a professora Laudieme Horta Nassif.


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