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Estado de Minas

Corte de árvores abre caminho para reabilitação da Praça da Liberdade

Projeto de Reabilitação Paisagística da praça da Região Centro-Sul de BH incluirá restauração de fontes e troca de piso e do mobiliário


postado em 15/03/2018 06:00 / atualizado em 15/03/2018 08:10

O corte de árvores degradas e que põem em risco a segurança na praça deu início aos trabalhos, ainda não anunciados oficialmente(foto: Túlio Santos/EM/D.A PRESS)
O corte de árvores degradas e que põem em risco a segurança na praça deu início aos trabalhos, ainda não anunciados oficialmente (foto: Túlio Santos/EM/D.A PRESS)
Caminhão carregado de toras de madeira, barulho de motosserra, fita zebrada para isolar áreas e movimentação de operários. A Praça da Liberdade, um dos espaços mais nobres de Belo Horizonte, está sendo preparada para receber o projeto de Reabilitação Paisagística, fruto da parceria entre o governo estadual e a prefeitura (PBH). A iniciativa vai contemplar, após supressão de árvores e poda de galhos – alguns exemplares, como ciprestes, datam de 1920 –, uma série de serviços: recomposição dos canteiros, restauração das fontes, troca do piso e do mobiliário urbano, além de outros aspectos que, há anos, demandam uma intervenção drástica. “A praça chegou no osso”, lamenta o arquiteto Ricardo Lana, contratado para elaboração do projeto.


Na tarde de ontem, Lana, que trabalhou no grande projeto de restauração do espaço público, em 1991, comandado pela arquiteta Jô Vasconcelos, acompanhava os trabalhos e explicou que muitas árvores estão degradadas pela ação dos cupins, havendo outros fatores de risco para a segurança das pessoas que transitam no local e para a vida dos vegetais. A recuperação da Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul da capital, foi anunciada com exclusividade pelo Estado de Minas em 5 de fevereiro.

Uma frondosa buganvília, por exemplo, tombou ao longo dos anos sobre plantas de um canteiro impedindo a entrada dos raios solares e, por consequência, matando as plantas menores. Diante de dois ciprestes, no lado esquerdo de quem olha para o Palácio da Liberdade, o arquiteto explicou que fará somente podas em ambos. “Vamos retirar apenas os galhos velhos, pois são árvores que fazem parte da história da praça”.

O movimento na Liberdade atraiu os olhares de moradores. Inconformada, uma mulher criticou o corte na base. Lana informou que não há motivo para preocupação dos moradores e visitantes que buscam o espaço para caminhadas, corridas, leitura ou contemplação. “Para cada árvore suprimida, será plantada outra da mesma espécie”, afirmou. Por enquanto, contou um funcionário terceirizado, o serviço de supressão e corte está ocorrendo no lado esquerdo. Nessa área, foram retiradas uma tipuana, de 20 metros, e sete ciprestes, com altura média de 15m. Em alguns ciprestes, era possível ver o tronco completamente oco por meio de grande buraco na madeira.

O poder público ainda mantém silêncio sobre o projeto. A PBH, via assessoria de imprensa, informa que se trata de uma poda para melhorar a iluminação pública. Já o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) informa que não há licitação para as obras. E a Vale adianta que sua equipe trata da recuperação com a prefeitura e o Iepha, embora sem algo concreto.

POSTES HISTÓRICOS
Conhecedor da Praça da Liberdade, que considera de importância para BH, principalmente pela história, Ricardo Lana disse que a Reabilitação Paisagística vai promover a transferência dos postes centenários de ferro que estão nas laterais, como na calçada do Centro Cultural do Banco do Brasil, para o interior da praça, favorecendo a iluminação e a harmonia com o espaço inaugurado em 1897 e tombado há 40 anos pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG).

Nos últimos meses, a Praça da Liberdade, que sofre os impactos do tempo, do uso constante e de atos de vandalismo, está no foco das atenções urbanas. Em fevereiro, o coreto foi pichado. No ato, os agressores sujaram a fachada do equipamento com tinta spray preta. Em 2013, ele foi reinaugurado depois de dois anos interditado. Voltando no tempo, há mais episódios lamentáveis, que entristecem os frequentadores: em 2010, foi furtada a placa de bronze medindo 60cm de altura por 40cm de largura que identificava o busto do imperador dom Pedro II (1825-1891).
O arquiteto Ricardo Lana acompanhou ontem a ação nos jardins: 'A praça chegou no osso', lamentou(foto: Túlio Santos/EM/D.A PRESS)
O arquiteto Ricardo Lana acompanhou ontem a ação nos jardins: 'A praça chegou no osso', lamentou (foto: Túlio Santos/EM/D.A PRESS)


No âmbito político, o governador Fernando Pimentel desativou o Palácio Tiradentes, na Cidade Administrativa, no Bairro Serra Verde, em Venda Nova, e consolidou o Palácio da Liberdade, em estilo eclético com influência neoclássica, como sede do Executivo estadual – desde 2015, o governador petista despacha no prédio centenário, em estilo eclético, que data da época da fundação da capital. O local foi adotado e totalmente recuperado pela Vale em 1991, seguindo o estilo paisagístico de sua primeira reforma, datada da década de 1920, ano da visita dos reis da Bélgica a BH. O pioneirismo na adoção virou referência e sedimentou o Programa Adote o Verde, uma iniciativa municipal que permite a empresas, instituições e indivíduos adotar e revitalizar espaços públicos municipais.

Exemplo de degradação na Liberdade: A escultura 'Moça mirando o espelho d'água' está com o braço quebrado e o vaso faltando um pedaço(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS - 01/02/2018)
Exemplo de degradação na Liberdade: A escultura 'Moça mirando o espelho d'água' está com o braço quebrado e o vaso faltando um pedaço (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS - 01/02/2018)


DEGRADAÇÃO
Basta caminhar pela praça, cercada de 15 equipamentos culturais, para ver a necessidade urgente do projeto de reabilitação. Enquanto observa a sebe de buxinho, circundando o espelho d’água, Lana destaca a necessidade de recuperação das plantas. “É preciso fazer a manutenção constante”, afirma. Conforme constatou o EM, há locais em pedaços. A escultura Moça mirando o espelho d’água está com o braço quebrado e o vaso faltando um pedaço. Uma rachadura na base impede que o monumento, sobre um espelho d’água no meio de um gramado, traduza toda a beleza da arte em mármore.

No gramado, há extensões pisoteadas, exigindo a recomposição. Mesmo com os problemas visíveis, a população não se afasta da Praça, procurando a sombra das árvores para ler um livro, namorar, tocar um instrumento ou apenas curtir um dia no sossego.

 

ESPAÇO NOBRE

1894
Palácio da Liberdade, em estilo eclético com influência neoclássica e marco da Praça da Liberdade, sai da prancheta de José de Magalhães em 1894

1920
Visita dos reis da Bélgica a Belo Horizonte. Praça da Liberdade passa pela primeira grande reforma

1942
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Praça da Liberdade se torna palco de grandes manifestações contra a Alemanha, Itália e Japão. O estopim ocorre quando mais de 50 navios brasileiros, em águas nacionais, são torpeados por submarinos alemães

1955
Depois de nomeado prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek se elege governador de Minas. No dia da posse, ele desfila em carro aberto pela Alameda das Palmeiras

1960
Em 31 de julho, multidão festeja a consagração de Nossa Senhora da Piedade como padroeira de Minas Gerais no local. A proclamação ocorrera dois anos antes, em Roma, pelo papa João XXIII

1969
Criada a Feira de Artesanato da Praça da Liberdade, que ficou conhecida como Feira Hippie

1979
Em 29 de maio, professores que reivindicavam aumento salarial e melhores condições de trabalho são expulsos pela pela polícia, que usa jatos d’água e bombas de gás lacrimogêneo

1985
Falecido em 21 de abril, o presidente Tancredo Neves é velado no Palácio da Liberdade. Na época, a grade do palácio arrebentou devido à multidão que se comprimia às portas da sede do governo. Houve gente pisoteada e sete mortos

1991
Começa o projeto de restauro do espaço a cargo da arquiteta Jô Vasconcelos. Avenida Afonso Pena se torna endereço dos expositores

1997
Em 24 de junho, o cabo da PM Valério dos Santos Oliveira, de 36 anos, é assassinado, com uma bala na cabeça. Ele liderava passeata por melhores salários

2010
Sede do governo de Minas é transferida para a Cidade Administrativa, no Bairro Serra Verde, na Região de Venda Nova

2018
Governador Fernando Pimentel volta a despachar oficialmente no Palácio da Liberdade

 

PALCO HISTÓRICO 

Praça de histórias, lutas, conquistas e lazer. A história de Minas passa necessariamente pela Liberdade. Ao longo de décadas, o espaço foi palco de todos os tipos de manifestação: políticas, sociais, religiosas, culturais e cívicas. Durante a Segunda Guerra Mundial, depois que navios brasileiros foram torpedeados pelos nazistas em águas nacionais, milhares de belo-horizontinos cerraram fileiras para protestar contra os ataques do Eixo: Alemanha, Itália e Japão (foto). Mas a praça de 120 anos também abrigou cerimônias fúnebres e festivas e não perde o posto de marco estratégico no município: especialistas explicam que, ao projetar a nova capital, a comissão construtora chefiada pelo engenheiro Aarão Reis não escolheu o ponto mais alto para receber a sede do poder estadual. Não custa lembrar que, além de lugar charmoso, a praça é síntese de vários estilos arquitetônicos, como os prédios das antigas secretarias de Fazenda e Educação e Obras e Vias Públicas, da época da construção; ou o Edifício Niemeyer e a Biblioteca Pública, projetados pelo arquiteto modernista Oscar Niemeyer (1906-2012). Da lavra contemporânea, pontifica o Rainha da Sucata, da década de 1980, do arquiteto Éolo Maia (1942-2002).


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