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Estado de Minas

Assassinatos com facas aumentaram quase 25% em Belo Horizonte

Mortes de médico e doméstica evidenciam um crime que tira uma vida a cada seis dias


postado em 15/12/2017 06:00 / atualizado em 15/12/2017 07:30

Comoção no enterro do médico e professor da UFMG Antônio Leite Alves Radicchi: brutalidade do crime, com 10 facadas, chocou toda a cidade(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press - 14/11/2017)
Comoção no enterro do médico e professor da UFMG Antônio Leite Alves Radicchi: brutalidade do crime, com 10 facadas, chocou toda a cidade (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press - 14/11/2017)

Assassinatos brutais, cometidos com uso de facas e por motivos fúteis, chocaram a população de Belo Horizonte no último mês. O mais recente, cuja acusada teve imagens divulgadas ontem pela Polícia Civil (leia abaixo), vitimou a doméstica Valdete Lopes Queiroz, de 49 anos, na segunda-feira. Vinte e sete dias antes, em 13 de novembro, a vítima havia sido o médico Antônio Leite Alves Radicchi, de 63, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os dois casos, porém, são apenas a face mais visível de um tipo de crime que avança de forma silenciosa na capital. Os homicídios cometidos com o uso de arma branca – como são definidos objetos como facas, facões, canivetes e estiletes – vêm crescendo de forma significativa na cidade em 2017 em comparação com o ano anterior. Dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) mostram um salto de 24,3% nesse tipo de ocorrência entre janeiro e agosto, última estatística disponível.


Casos de lesões corporais com uso de arma branca também tiveram alta na capital, subindo 5,8% na comparação entre os dois períodos. Para a Polícia Militar a tendência está relacionada ao aumento da apreensão de armas de fogo, e também ligada a motivações fúteis dos autores dos delitos. Uma lei estadual proíbe a posse de lâminas que tenham mais de 10 centímetros de comprimento, mas a fiscalização é difícil não apenas por brechas legais como pelo fácil acesso de qualquer pessoa a objetos de uso cotidiano que podem ser usados como armas.


Entre janeiro e agosto, houve 46 assassinatos com uso de arma branca em Belo Horizonte, média de um a cada seis dias. No mesmo período de 2016, foram 37 ocorrências. Já os registros de lesão corporal foram 652 em 2017, contra 616 do período anterior. O fato de os crimes consumados estarem aumentando, enquanto tentativas de homicídio com facas e semelhantes têm ligeira queda (de 107 no ano passado para 94 nos primeiros oito meses de 2017, ou menos 1%) pode ser interpretado como indicativo de maior violência nos ataques. BH apresenta tendência inversa à observada em todo o estado quando se considera esse tipo de ocorrência. Em Minas, crimes com uso de armas brancas diminuíram. Os homicídios diminuíram 1%, as tentativas recuaram 9,1% e as lesões corporais, 6,3%.

"O que a PM tem feito é o aumento da verificação, principalmente em pontos quentes, como bares e locais com aglomeração de pessoas. Claro que a lei deixa algumas brechas, e nesses casos não dá para fazer a apreensão"

Major Flávio Santiago, chefe da Sala de Imprensa da PM


Câmera flagrou passageira que esfaqueou doméstica por entrar no ônibus falando alto(foto: Polícia Civil/Divulgação)
Câmera flagrou passageira que esfaqueou doméstica por entrar no ônibus falando alto (foto: Polícia Civil/Divulgação)
Embora agosto seja o último mês computado nas estatísticas, depois daquele mês, várias ocorrências com uso de armas brancas foram registradas em Belo Horizonte. Um deles foi exatamente a morte do professor Antônio Radicchi, esfaqueado dentro de um ônibus da linha 9805 (Renascença/Santa Efigênia) em 13 de novembro, depois que Alexandre Siqueira de Freitas, de 26, tentou roubar sua mochila. Ele teria resistido em entregar o objeto e acabou golpeado com uma faca pelo menos 10 vezes, de acordo com a Polícia Militar. O acusado foi preso.


No dia 20 do mesmo mês, três pessoas, entre elas dois turistas de São Paulo, foram feridos a golpes de facas em duas ocorrências distintas na Região Centro-Sul da capital. Já no último dia 12, um homem teve um surto psicótico e esfaqueou três mulheres no Bairro Tirol, na Região do Barreiro. Duas delas morreram.

MOTIVAÇÕES Para o major Flávio Santiago, chefe da Sala de Imprensa da Polícia Militar, dois fatores podem ajudar a explicar a alta nesse tipo de ocorrência. “Na verdade são duas vertentes: aumento da apreensão de armas de fogo, que inclusive são mais letais que as armas brancas, e a questão dos motivos que envolvem o criminoso, como ações motivadas por surtos psicóticos, crimes passionais ou brigas em bares, onde há consumo de bebidas alcoólicas”, afirmou.


Em Minas, lei sancionada em 28 de julho de 2016 pelo governador Fernando Pimentel (PT)  proíbe a posse de lâminas que tenham mais de 10 centímetros de comprimento. Pessoas flagradas com esse tipo de objeto estão sujeitas a multas de R$ 2,7 mil. Contudo, a infração só fica configurada, pelos termos da legislação, se a pessoa estiver com a lâmina na mão, na cintura ou no carro, já que o próprio texto legal considera que “não configura porte de arma branca o transporte do artefato na embalagem original; em bolsas, malas, sacolas ou similares; em veículos, desde que acondicionados em mala ou caixa de ferramentas; em razão de atividade econômica desempenhada pelo transportador”.


“O que a PM tem feito é o aumento da verificação, principalmente em pontos quentes, como bares e locais com aglomeração de pessoas. Claro que a lei deixa algumas brechas, e nesses casos não dá para fazer a apreensão”, comentou o chefe da Sala de Imprensa da PM. “Vale ressaltar que denúncias da população são bastante importantes para coibir esse tipo de crime. Ao observarem alguém com uma faca, as pessoas devem ligar para os telefones 190 ou 181 (Disque Denúncia), para os militares fazerem a abordagem e a triagem. Essa denúncia pode salvar vidas”, completou.

Gravação identifica assassina do Move


A mulher que matou a facadas a empregada doméstica Valdete Lopes Queiroz, de 49 anos, por supostamente ter entrado falando alto em um ônibus do Move, em Belo Horizonte, é procurada pela Polícia Civil, que ontem divulgou imagens da assassina captadas pelas câmeras de segurança do veículo e do Olho Vivo. Depoimentos de testemunhas também ajudaram a identificá-la visualmente, embora sua identidade ainda seja desconhecida. As apurações continuam para tentar encontrá-la. A investigação aponta que a passageira esfaqueou a vítima por ter sido acordada por ela, de quem levou um esbarrão.

 

As investigações estão sendo conduzidas pelo delegado César Duarte Mattoso, da Delegacia de Homicídios Centro-Sul. Imagens e depoimentos de testemunhas, entre elas o condutor do ônibus da linha 61 (Centro/Venda Nova), indicam que o crime foi cometido por motivo fútil. “A autora, quando entra, ocupa parte de duas cadeiras de modo reclinado, para descansar. Em seguida, inicia um cochilo. A vítima entra no ônibus de forma atabalhoada e falando. Ao se sentar, parece empurrar a perna da autora, que estava cochilando. A partir daí, as duas iniciam a discussão, de modo ríspido, como é noticiado pelas testemunhas”, contou o delegado.


Quando o veículo se aproximava da Avenida Paraná, no Centro de Belo Horizonte, segundo Mattoso, a autora pede que o motorista pare o veículo fora do ponto regular. “Ele abre as portas e neste momento a autora agride a vítima com uma facada no peito, de forma surpreendente, descarregando sua raiva. Em seguida, foge do ônibus”, conta a policial. Segundo o delegado, imagens do veículo flagram a vítima ainda com a lâmina cravada no peito e retirando o objeto. Valdete chegou a ser socorrida, mas morreu antes de chegar ao hospital.


A assassina, segundo os primeiros levantamentos, seria de Ribeirão das Neves. “Temos a identificação visual da autora, que compartilhamos para que a população possa identificá-la, ligar para o 181 e fazer uma denúncia anônima que nos permita chegar a essa pessoa”, pediu. A mulher será indiciada por homicídio duplamente qualificado. Se condenada, pode pegar de 12 a 30 anos de prisão.


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