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Estado de Minas

Usar celular enquanto dirige é tão perigoso quanto beber

Uso de celular ao volante se transformou em epidemia que leva cada vez mais acidentados para hospitais, alertam especialistas. Fenômeno se agravou com aplicativos de mensagens


postado em 03/12/2017 06:00 / atualizado em 03/12/2017 09:17

(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press - 6/5/16)
(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press - 6/5/16)
Um “oi”, uma mensagem de texto, a gravação de um áudio. Alguns vão mais longe: atendem ao telefone, travam conversas, fazem fotos e vídeos para postar em redes sociais e até respondem a mensagens de texto. Tudo isso com o carro em movimento, mas, nem sempre, com as duas mãos no volante ou com os olhos no trânsito. Até outubro, as infrações de trânsito relacionadas ao uso de celular em Belo Horizonte somaram quase 25 mil, segundo números do Detran. A cada hora, três motoristas foram flagrados por esse tipo de irregularidade. Médicos alertam: a mistura de telefone e direção é tão perigosa quanto álcool e volante e tem se configurado, cada dia mais, como verdadeira epidemia.

Na lista das infrações cometidas por motoristas, a soma das infrações dirigir veículo segurando telefone e manuseando o aparelho aparece na quinta posição. Fica atrás apenas de conduzir em velocidade acima do limite permitido (148.073), avançar o sinal vermelho (89.548), trafegar na faixa ou via exclusiva dos ônibus (67.824) – todas infrações registradas primordialmente por fiscalização eletrônica – e estacionar em desacordo com a regulamentação do Rotativo (61.704). Em Minas Gerais, as infrações relacionadas ao mau uso do telefone somaram 75.518 – média de quase 252 motoristas infratores por dia, ou 10 por hora.

"Em três segundos de desatenção mexendo no aparelho o carro anda alguns metros e atropela uma pessoa, por exemplo"

Egídio Santana Júnior, ortopedista, especializado em trauma ortopédico, do Hospital Felício Rocho


Dirigir com uma das mãos só é permitido pela lei nos casos em que o motorista deve fazer sinais regulamentares de braço, mudar a marcha do veículo ou acionar equipamentos e acessórios do veículo. Fora isso, está sujeito a multa e perda de pontos na carteira de habilitação. Desde novembro do ano passado, a infração é considerada gravíssima no caso específico de condutor flagrado segurando ou manuseando o telefone. A punição é a perda de sete pontos mais multa de R$ 293,47.

Diretora científica da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego de São Paulo (Abramet/SP), a médica do tráfego e oftalmologista Rita Moura ressalta que, além de ser uma distração, falar ao celular no trânsito divide a atenção que deveria estar concentrada no volante. “O fato de digitar e ler mensagem é ainda pior. Além de desviar a atenção, desvia o foco de visão. A pessoa deixa de olhar e se esquece de que está dirigindo uma máquina, em movimento, olhando para os lados”, ressalta.

 

Fora de área

Confira o número de infrações relacionadas ao mau uso do celular (janeiro a outubro de 2017)

BH

  • Dirigir veículo segurando telefone 13.179
  • Dirigir veículo manuseando telefone 11.767
  • Total 24.946

Minas
  • Dirigir veículo segurando telefone 37.358
  • Dirigir veículo manuseando telefone 38.160
  • Total 75.518

Fonte: Detran/MG

(foto: Lelis/Arte EM)
(foto: Lelis/Arte EM)


Uma mistura que não combina


As urgências de hospitais, já acostumadas ao atendimento de traumas causados em acidentes no trânsito, vivem agora um fenômeno novo. É intensa a quantidade de pacientes que dão entrada nas unidades de saúde pela mistura de telefone celular e direção. Com as mãos no aparelho em vez de no volante para dar aquela espiadinha na mensagem recém-chegada, motoristas provocam acidentes em questões de segundos, vitimando a si mesmos ou outras pessoas. A nova epidemia tem preocupado especialistas.

Integrante da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – Regional Minas Gerais (Sbot/MG), Egídio Santana Júnior diz que o mau uso do celular no trânsito pode ser constatado não somente entre condutores de carros, mas até de motocicletas. O resultado é um número cada vez maior nos pronto-socorros de acidentados que estavam com a mão no celular. “Em três segundos de desatenção mexendo no aparelho o carro anda alguns metros e atropela uma pessoa, por exemplo”, alerta o ortopedista, especializado em trauma ortopédico, do Hospital Felício Rocho, na capital.

Entre os casos concretos já atendidos, estão o de uma pessoa que se envolveu em acidente grave enquanto respondia a uma mensagem de WhatsApp. O carro descia uma via de alto fluxo em BH quando o condutor perdeu o controle e atropelou uma menina, que teve sérias sequelas. “É o mesmo efeito de quando o motorista ingere álcool. Se observarmos, a cada 10 veículos, metade dos motoristas está respondendo ao WhatsApp. Tem multa prevista, mas não há fiscalização suficiente”, afirma o integrante da Sbot/MG.

“É uma epidemia. As pessoas hoje não podem ficar um minuto sem celular, sem responder a mensagens. Elas precisam entender que devem ter as duas mãos no volante, ter a parte auditiva e visual com toda a atenção. Se não tivermos todos os nossos sentidos voltados para a direção, podemos causar acidentes”, ressalta. Para Egídio Santana Júnior, mais que fiscalização, é preciso educação e conscientização. “Mexer no aparelho, só em local seguro e na hora certa. Espere desligar o carro. E não tem condições sair com a moto mexendo no celular.”

‘TELEDEPENDÊNCIA’
Segundo a médica do tráfego e oftalmologista Rita Moura, diretora científica da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego de São Paulo (Abramet/SP), a chance de se envolver em acidente se multiplica quando se mistura telefone e direção. A especialista destaca o comportamento dos jovens: “Além de todos esses problemas, no caso deles pesa ainda a inexperiência na direção e a necessidade que a cabeça deles tem do celular. As meninas têm ainda mais urgência em atender, por questões de pertencimento ao grupo. Ou seja, nessas situações, as mulheres têm mais chance de se envolver em acidente”. “A partir do momento em que tirou o foco para olhar o celular é um risco. Pode aparecer um animal repentinamente, uma criança correndo e, principalmente à noite, quando o campo de visão diminui, o perigo é ainda maior.”

A médica da Abramet informa que campanhas dos Estados Unidos têm sido difundidas na tentativa de diminuir essa ansiedade do celular. “Algo que não pode esperar se tornou um vício. O que é mais importante: a vida ou a mensagem que você nem sabe do que se trata?. Saber o que chegou não é mais importante do que sua vida. Ou a dos outros.”

 


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