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Estado de Minas

Santuário da Serra da Piedade ganha reconhecimento do Vaticano e vira Basílica

Ermida do século 18 e Igreja Nova das Romarias, que integram o santuário da Serra da Piedade, ganham reconhecimento da Santa Sé e se tornam espaços ligados diretamente ao Vaticano


postado em 18/11/2017 06:00 / atualizado em 18/11/2017 08:42

(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

Presente à altura de dois espaços sagrados de Minas, agora ligados diretamente ao Vaticano. Nas comemorações dos 250 anos de peregrinação à Serra da Piedade, em Caeté, na Grande BH, vem de Roma o reconhecimento maior para os templos católicos existentes no topo do maciço – a ermida do século 18, que guarda a imagem da padroeira do estado, Nossa Senhora da Piedade, e a Igreja Nova das Romarias, erguida na década de 1970. O papa Francisco elevou ambos à condição de basílica, título que será anunciado oficialmente amanhã, Dia Mundial dos Pobres, às 8h, pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, durante a visita de moradores de rua ao espaço. Em 2016, o complexo do Santuário de Nossa Senhora da Piedade recebeu cerca de 500 mil pessoas, entre brasileiros e estrangeiros, e a expectativa é de fechar este ano com 700 mil.

A ermida, que ganhou há uma semana novo sistema de iluminação externa, passa a se chamar Basílica Ermida da Padroeira de Minas Gerais – Nossa Senhora da Piedade, e a Igreja das Romarias, Basílica Estadual Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais. No país, só há mais uma localidade com duas igrejas nessa condição, sendo pioneira Aparecida (SP), onde fica a imagem da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. “A Serra é o coração de Minas, pois reúne a fé católica, a riqueza ambiental, o solo rico em ouro e o conjunto do santuário”, disse o arcebispo dom Walmor na tarde de ontem, mostrando a carta com a autorização do chefe da Igreja Católica e avaliação da Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos, da Santa Sé.

“Estou muito feliz, porque é o reconhecimento do papa Francisco para um lugar de grande singularidade e expressividade, que une a história de dois séculos e meio, a força espiritual do povo. As duas igrejas agora estão ligadas à missão do papa. É importante destacar que as basílicas são espaços especiais, já que os católicos podem receber indulgências, a graça de purificar o peso que os pecados têm sobre nós”, afirmou. Dom Walmor lembra ainda que o título não tem nada a ver com “ostentação, triunfo”, mas com a dignidade humana, proximidade de Cristo, acolhimento e simplicidade.

CONSAGRAÇÃO
A festa para comemorar o título, seguindo os ritos litúrgicos, está marcada para 15 de dezembro, às 15h, com participação de fiéis, e vai ocorrer em dois momentos. “Nesse dia, será feita a dedicação da Basílica Ermida da Padroeira de Minas Gerais – Nossa Senhora da Piedade e consagração do altar, que guarda a imagem da padroeira dos mineiros, esculpida por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho”, informou dom Walmor, adiantando que, na data, será iniciada a novena para dedicação da Basílica Estadual Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais (Igreja Nova das Romarias) e consagração do altar, o que ocorrerá em 15 de setembro de 2018, dia de Nossa Senhora da Piedade.

A determinação do papa veio a partir de um pedido de dom Walmor e dos bispos mineiros. E o processo foi bem rápido. Em junho, o arcebispo esteve em Roma levando um documento com as assinaturas dos religiosos e solicitando que, neste ano jubilar, as duas igrejas fossem elevadas à condição de basílicas. O pedido foi acolhido por Francisco, “que conhece a história do santuário e, no início do ano, havia concedido a sua bênção apostólica a todos os peregrinos que visitam o território sagrado”. Assim como as catedrais estão ligadas aos bispos e arcebispos, as basílicas têm vínculo direto com o ministério do papa. Por isso, são consideradas pela Igreja como território internacional, com grande influência nas regiões onde estão inseridas.

Com os novos títulos, Minas tem agora 16 basílicas, sendo duas no território da Arquidiocese de BH – a de Nossa Senhora de Lourdes, no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul, e a de Santo Cura D’Ars, no Bairro Prado, na Região Oeste da capital.

MOBILIDADE Tombada pelo estado, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo município de Caeté, a Serra da Piedade é ponto de partida e chegada do Caminho Religioso da Estrada Real (Crer), que liga o santuário da padroeira de Minas a Aparecida (SP). Agora, quem participa de algum retiro ou de algum evento noturno pode contemplar a nova iluminação da ermida, que realça sua arquitetura, com 100 lâmpadas de LED. “Estamos trabalhando para, em breve, abrir o santuário para visitas noturnas, mas é preciso segurança, principalmente no acesso”, explica dom Walmor.

A mobilidade é um dos obstáculos maiores à visitação, alerta o arcebispo: “Causa estranhamento que, até hoje, não se tenha concretizado o projeto de duplicação da rodovia BR-381. Da mesma forma, não houve melhoramentos na estrada que liga Sabará e Caeté, que poderia ser uma rota turística. Essa situação causa um colapso na organização do turismo”. Na sua avaliação, é urgente uma união de esforços dos governos federal, estadual e municipal para resolver a questão, que põe em risco a vida de milhares de brasileiros.

“O turismo religioso é o que mais cresce no mundo e, na Serra da Piedade, temos um grande potencial. É preciso que as autoridades sintam essa importância, já que o local é referência. Fico angustiado, sofrendo mesmo, diante da necessidade de ver resolvidos os problemas de mobilidade”, afirmou o arcebispo, que inúmeras vezes pediu às autoridades a duplicação da chamada Rodovia da Morte.

 

Saiba mais

 

Basílica: a origem

É um título concedido pelo papa, após análise da Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos, do Vaticano. De origem grega, a palavra deriva de basileus, que significa reis. “Para nós, portanto, é o espaço do Cristo Rei”, explica o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo. A partir do século 5, cresceu o número dos cristãos e, para receber os fiéis em orações ou celebrações, teve início a construção de grandes templos, aos quais se deu o nome de basílicas. No mundo, são quatro as maiores: as de São Pedro, São Paulo, Santa Maria Maior e São João de Latrão, em Roma, Itália. Todas as demais são chamadas basílicas menores. Hoje, conforme especialistas, o título tem um sentido peculiar, sendo dado a igrejas que preencham alguns requisitos: ter qualidades artísticas e ser centro de concentração religiosa e piedade do povo. Para merecer o reconhecimento, são necessários documento oficial do papa, sagração, coroação da imagem etc.

 

História e tradição

 

A qualquer momento, no alto da serra, impossível não ficar admirando a paisagem marcada pelas montanhas, rios, casario e estradas. Mas é na ermida ou capela dedicada a Nossa Senhora da Piedade, chamada de “magnífica arquitetura divina”, pelo segundo arcebispo de BH, dom João de Resende Costa (1910-2007). A fama do lugar teria começado entre 1765 e 1767, conforme a tradição oral, com a aparição de Nossa Senhora, com o Menino Jesus nos braços, a uma menina, muda de nascimento, cuja família vivia na comunidade de Penha, a seis quilômetros da serra. No momento, a menina teria recuperado a fala.

O episódio tocou o coração do português Antônio da Silva Bracarena, então na colônia para ganhar dinheiro. Ele se converteu e decidiu dedicar sua vida à construção de uma capela no lugar onde ocorrera o milagre. O singelo templo dedicado a Nossa Senhora da Piedade começou a ser erguido em 1767 e, mais tarde, ganhou a imagem esculpida por um jovem de Ouro Preto, depois reconhecido como mestre do Barroco mineiro – Aleijadinho.

Nessa história de 250 anos, dom Walmor faz questão de destacar personagens importantes, a exemplo de padre José Gonçalves, irmã Germana, frei Luís de Ravena, monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro, com suas religiosas auxiliares de Nossa Senhora da Piedade, cardeal Motta, frei Rosário Jofylly, frade dominicano que ficou 51 anos à frente do santuário, e o missionário italiano padre Virgílio Resi. A consagração de Minas a Nossa Senhora da Piedade ocorreu em 1960, após o papa João XXIII reconhecer que Maria é a padroeira do estado.


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