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Estado de Minas

'Essa barragem é propensa ao rompimento', diz oficial dos bombeiros sobre Congonhas

Comandante de unidade admite apreensão com represa de rejeitos que se ergue 80 metros acima de Congonhas, especialmente com as chuvas. Plano de emergência será posto em prática no dia 26


postado em 10/11/2017 06:00 / atualizado em 10/11/2017 16:01

Congonhas – A preocupação com a estabilidade da Barragem Casa de Pedra, que passa por obras para prevenir a ameaça de um rompimento que afetaria milhares de pessoas, em uma catástrofe sem precedentes na cidade histórica de Congonhas, na Região Central de Minas, fez com que a prefeitura local organizasse um plano emergencial que será colocado em prática dentro de 16 dias, no próximo 26 de novembro. A situação não mobiliza apenas a administração municipal: ontem, o Estado de Minas mostrou que a apreensão com a estrutura operada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) é tão grande que levou o governo mineiro a criar, sigilosamente, um grupo de ação emergencial para tratar da questão.

Documentos obtidos pela reportagem mostram que esse gabinete é formado especialmente por Corpo de Bombeiros, Coordenadoria Estadual de Defesa Civil e Polícia Militar. A missão é intervir no salvamento de pessoas em caso extremo e capacitar a comunidade, independentemente de providências da empresa. O próprio comandante dos Bombeiros na região, capitão Ronaldo Rosa de Lima, classifica a represa de rejeitos como “propensa a rompimento”, o que tem levado a corporação a cobrar medidas da CSN e dos órgãos de defesa civil.

“Não há risco iminente, mas essa é uma barragem propensa ao rompimento. Sobretudo agora, com a chegada da estação de chuvas”, define o comandante dos Bombeiros, referindo-se a previsões climáticas como as do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que desenham um mês de novembro com chuvas intercaladas para a região, inclusive nesta semana. “Essa situação nos preocupa muito, pois a barragem está muito próxima da comunidade”, admite o oficial. O número de pessoas em risco, que inicialmente foi estimado em 1.500, mais que triplicou após levantamentos mais detalhados, chegando a 4.688, de acordo com a prefeitura local.

 

 

Obras no complexo Casa de Pedra: operários, preocupados com a segurança, chegaram a interromper serviços temporariamente ontem(foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
Obras no complexo Casa de Pedra: operários, preocupados com a segurança, chegaram a interromper serviços temporariamente ontem (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)

“Seria catastrófico um rompimento, sobretudo do Dique de Sela”, afirma o oficial, citando uma das estruturas da Barragem Casa de Pedra, que contém 9,2 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro e se eleva a cerca de 80 metros sobre o município de Congonhas (veja mapa). O dique a que o bombeiro se refere se apoia em estruturas montanhosas, e foi exatamente nesse ancoramento que o aparecimento de infiltrações ou “surgências”, como são definidas tecnicamente, obrigou a empresa a adotar obras de emergência. Por causa dessa situação, o MP e o Ministério do Trabalho cobram explicações e ações da mineradora, que chegou a ter as atividades no barramento interditadas, em 11 de outubro deste ano. Ontem, operários chegaram a suspender os trabalhos, apreensivos com a falta de informações sobre a segurança no canteiro de obras, mas foram convencidos por dirigentes da mineradora a retomar seus postos.

"Não há risco iminente, mas essa é uma barragem propensa ao rompimento. Sobretudo agora, com a chegada da estação de chuvas"

Capitão Ronaldo Rosa de Lima, comandante do Corpo de Bombeiros da região

De acordo com laudo do Centro de Apoio Técnico do MP, ao qual o EM teve acesso, as surgências são fortes indicadores de que o represamento “apresenta infiltrações ou fraturas”, que podem evoluir para um rompimento caso nada seja feito. Nesse mesmo relatório, o fator de estabilidade da barragem apresentado foi de 1,3, abaixo do nível exigido pela legislação, de 1,5, segundo o MP. A CSN afirmou, ontem, que a barragem não corre risco de rompimento e que esse fator já foi superado, chegando a 1,6 e a 1,7, levando-se em consideração os dois lados da barragem.

O relatório do Ministério Público também critica a falta de um plano emergencial satisfatório em caso de desastre. Devido à deficiência, um plano acabou sendo elaborado pela Prefeitura de Congonhas. Providência semelhante vinha sendo ensaiada pelo grupo de trabalho criado veladamente pelo estado. A CSN sustenta que tem aprimorado seu plano emergencial e que instalou duas das cinco sirenes que seriam necessárias segundo compromisso firmado com o MP. “No dia 26, vamos fazer um simulado, um exercício com a comunidade, que é necessário em todo tipo de empreendimento de risco, como a operação de uma barragem ou de um tanque de petróleo”, compara o gerente-geral de Sustentabilidade da CSN, Eduardo Sanches. De acordo com ele, as obras na barragem devem terminar ainda neste mês.

MAIS ALTURA Outro programa polêmico da empresa é o de alteamento da barragem, para mais 11 metros de altura, que foi licenciado e deve ser retomado em breve. “Os problemas de surgências que ocorreram no Dique de Sela da barragem se desenvolveram devido ao proprietário de um terreno vizinho ter barrado a água de um córrego e formado um lago”, argumentou o gerente Eduardo Sanches. O Ministério Público, que fiscaliza as condições no complexo da CSN, não tem tanta certeza. Ao EM, o promotor de Justiça Vinícius Alcântara Galvão disse anteontem que foi pedido à mineradora que apresente estudos, principalmente em relação à qualidade do solo. Até o próximo dia 30, os levantamentos geotécnicos e geológicos devem ser entregues para avaliação dos peritos da Central de Apoio Técnico do órgão. “Só então o MP terá condições de afirmar se a barragem é ou não segura”, pontuou.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)


Falhas na barragem da CSN, de acordo com o MP

  • Faltam sirenes para alertar sobre emergências e sinalização de campo

  • Famílias vulneráveis não receberam treinamento adequado

  • Mapas que simulam inundação não indicam pontos de fuga

  • Falta clareza nas rotas de fuga e pontos de encontro de eventuais desabrigados

  • Pessoas suscetíveis ao rompimento não haviam sido cadastradas

  • Deve ser encaminhado estudo completo com investigação geológico-geotécnica, para a compreensão global do comportamento da barragem principal e do Dique de Sela

  • Não constam dos estudos atuais relatórios sobre a estabilidade dos morros que sustentam os barramentos, que devem ser enviados ao fim da obra no Dique de Sela

  • O Plano de Ação de Emergência das Barragens de Mineração deve   envolver membros do Comitê de Gestão de Segurança, agentes externos e população suscetível


Pontos que a CSN afirma ter providenciado

  • Instalação de duas sirenes, nos bairros Lucas Monteiro e Barragem. Outras três devem ser instaladas até 15 de dezembro

  • Durante a atividade de recadastramento, treinamento dos moradores com noções básicas de abandono de área

  • Novos mapas, com resoluções melhores, foram entregues à Defesa Civil no dia 1º

  • Definidos três abrigos: CET, Escola Judith e Lar dos Idosos

  • Definidos oito pontos de encontro: lote vago no Bairro Residencial; Praça do Bairro Dom Oscar; em frente à Escola Pingo de Gente; Campo de Futebol Fonte dos Moinhos; Romaria; em frente ao Clube Recanto da Serra; lote vago no Bairro Eldorado; em frente ao Clube Astra

  • Cadastradas 1.367 casas

  • Pessoas com dificuldades motoras foram recadastradas, bem como animais domésticos


Fontes: MPMG e CSN


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