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Estado de Minas DOBRADOS PELA DOR

Efeitos da chikungunya comprometem trabalho e até a vida afetiva dos pacientes

Quase 9 mil pessoas padecem sob os efeitos incapacitantes da chikungunya em Governador Valadares, cidade mineira com o maior número de casos da doença. Em sua fase crônica, ela ataca músculos e articulações, comprometendo o trabalho e até a vida afetiva dos pacientes


postado em 14/05/2017 06:00 / atualizado em 14/05/2017 08:37

"Já estou há três dias sem tomar banho, me sentindo sujo, fedido. E eu não sou sozinho não, mas só de encostar em mim já dói. Tenho uma esposa e se ela encosta em mim dói tudo. É complicado demais amar uma pessoa e não poder encostar nela" Diones Cláudio Kleiter, de 37 anos, artista (foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS)

Governador Valadares
– O leve trepidar da cadeira de rodas na curta travessia da Rua Teófilo Otoni, entre o Pronto-Socorro de Governador Valadares e o Centro de Atendimento em Arboviroses, é suficiente para infligir intenso sofrimento ao artista Diones Cláudio Kleiter, de 37 anos. Nesse curto espaço de tempo, o homem se contorce em espasmos , que dão a impressão de ser aquela uma cadeira de tortura. Até a fisionomia dele muda a cada metro rodado. A expressão de Diones é o retrato da dor que pode afligir por até dois anos os doentes crônicos da febre chikungunya, um mal que se espalhou em Governador Valadares como em nenhum outro lugar de Minas.  Basta vê-los para compreender por que a febre foi batizada com o termo que significa “aqueles que se dobram” em swahili, um dos idiomas da Tanzânia, onde a doença surgiu na década de 1950.

Dos 13.342 registros contabilizados pela Secretaria de Estado da Saúde, 8.976 estão na cidade do Leste de Minas. A incidência é de um caso para cada grupo de 3.334,57 habitantes – Valadares tem cerca de 278 mil –, o que torna difícil encontrar um valadarense que não conheça alguém que  sofreu com a doença, sendo afastado do trabalho, da família e de seus afazeres. “Comecei a sentir a dor há 4 meses. Desta vez já tem três dias que sinto dores musculares e nas cartilagens. Minhas juntas parecem ser de gelatina. As cartilagens parecem que vão se descolar dos ossos. Meu pé parece um saco de ossos, não tem firmeza. Me dá uma tremedeira sem fim, uma dor no fundo dos olhos, de cabeça e febre alta”, conta Diones.


O artista é um dos pacientes que lotam o centro, montado pela prefeitura para dar assistência qualificada aos doentes da fase aguda da doença. Contudo, as recaídas são tão devastadoras que muitos pacientes crônicos voltam até de ambulância. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz, a fase aguda pode durar algumas semanas, enquanto a crônica se estende de seis meses a dois anos. Entre os sintomas mais comuns estão a febre alta, acompanhada de artrite, vômito, diarreia, comprometimento das articulações e até da coluna vertebral. “Tenho quatro parafusos no tornozelo. A dor de ter quebrado o tornozelo e de ter os parafusos é muito menor do que a da chikungunya”, afirma Diones.

Como ele, vários pacientes chegam ao centro se contorcendo em dores. Alguns não aguentam nem sequer o toque dos enfermeiros, sendo o processo de deitar nos leitos ou macas um suplício. Lá, os pacientes são hidratados e medidados para conter a dor e  a inflamação das articulações.

A prefeitura afirma que o grande número de casos da febre chikungunya em Governador Valadares se deve a falhas nas ações de controle aos vetores da doença em anos passados. A doença é transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus e o controle é o mesmo feito para a dengue, com foco na erradicação de criatórios do inseto. A proliferação se dá em locais de água limpa e parada. Um dos mais afetados é a ilha fluvial do Rio Doce, um local que sustenta muitos empoçamentos de água nas pedras das margens e também no lixo que é descartado de forma clandestina.


Percorrendo as margens do Rio Doce, a reportagem encontrou vários pontos de empoçamento de água próximos a áreas habitadas e em todos havia larvas que aparentavam ser do Aedes aegypti. “Aqui na ilha é um inferno de mosquitos. Eles são ferozes”, considera Diones, que é morador daquela localidade.

Deitado no leito do centro depois de muito sofrimento, o artista desabafou, emocionado. “Por causa dessas dores não consigo fazer nada. Não consigo ir ao banheiro sozinho, não posso nem tomar banho. Já estou há três dias sem tomar banho, me sentindo sujo, fedido. E eu não sou sozinho não, mas só de encostar em mim já dói. Tenho uma esposa e se ela encosta em mim dói tudo. É complicado demais amar uma pessoa e não poder encostar nela”.

De acordo com a Prefeitura de Governador Valadares, o município potencializou as ações da Atenção Básica, por meio das equipes de Saúde da Família; criou o Centro de Atendimento em Arboviroses, para facilitar ao máximo o acesso aos usuários 15 horas por dia, disponibilizando atendimento médico, de enfermagem e farmacêutico aos pacientes. Foi aberto ainda um serviço de Reabilitação Multiprofissional em Arbovirose, desenvolvido especialmente para pacientes de febre chikungunya e zika vírus.

“Ações de controle vetorial estão sendo intensificadas em toda a cidade, especialmente nos bairros onde a infestação é mais alta. São utilizados  o fumacê e ações de mobilização social como a “Operação Caça ao Mosquito”, que reúne cerca de 200 servidores para eliminar possíveis criadouros e para conscientização da população”, informou a prefeitura.


Chikungunya

O que é?


É uma doença infecciosa febril, causada pelo vírus chikungunya (CHIKV)

Transmissão


Pela picada dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus

O que significa Chikungunya?
Significa “aqueles que se dobram” em swahili, um dos idiomas da Tanzânia. Refere-se à aparência curvada dos pacientes, entre 1952 e 1953

>> A doença pode comprometer todas as articulações, sejam pequenas ou grandes, podendo acometer a coluna vertebral também. É importante destacar que as articulações previamente danificadas têm maior chance de dano viral

Transmissão

Pela picada dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus

Duração


A fase aguda dura de alguns dias a algumas semanas. O problema é a fase crônica, que começa na sexta semana, com sintomas que envolvem músculos e articulações como artrite. Os sintomas podem durar seis meses, um ano, dois ou mais

Tratamento


O tratamento da fase aguda é feito com controle dos sintomas. A partir da fase crônica há três alternativas gerais: anti-inflamatórios não hormonais (AINH), corticoides ou metotrexato (medicamento utilizado no tratamento de  artrites reumatoides)

Prevenção


Combater o mosquito Aedes aegypti. Usar repelentes e roupas compridas. Um detalhe de excepcional importância, que é esquecido com frequência, é passar repelente em quem está doente para que não contamine mais mosquitos


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