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Estado de Minas

Violência nos ônibus acelera ações da prefeitura de Belo Horizonte

Morte de passageira que pulou de coletivo durante assalto aumenta cobrança de ações para elevar a segurança nas viagens; Prefeitura promete ampliar linhas vigiadas por guardas


postado em 03/02/2017 06:00 / atualizado em 03/02/2017 10:18

Passageiros e profissionais da 4110, onde ocorreu o crime que levou à morte da advogada, temem novas ações de bandidos no corredor que liga o Belvedere ao Dom Cabral(foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
Passageiros e profissionais da 4110, onde ocorreu o crime que levou à morte da advogada, temem novas ações de bandidos no corredor que liga o Belvedere ao Dom Cabral (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
A morte da advogada que caiu de um ônibus em movimento enquanto passageiros eram assaltados, na Avenida Raja Gabaglia, na terça-feira, alimentou o debate sobre a violência no interior dos coletivos e apimentou a discussão de quando a Operação Viagem Segura será estendida para além da Antônio Carlos e da Nossa Senhora o Carmo. Só a linha 4110 (Belvedere/Dom Cabral), a mesma em que Luiza Drumond Reis viajava, foi alvo de três ocorrências em janeiro. Todas na Raja Gabaglia.


O número de roubos a motoristas, cobradores e passageiros saltou 59% no acumulado de janeiro a novembro de 2015 (1.555 ocorrências) para o mesmo período de 2016 (2.467 registros). Já o de furtos avançou 10% na mesma base de comparação, de 1.567 ocorrências para 1.721 registros. Os números são da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp).

O aumentou levou a Guarda Municipal a deflagrar, em 16 de janeiro, a Operação Viagem Segura, na qual agentes viajam armados e fardados em coletivos. Mas a medida se restringe à frota nas Avenidas Antônio Carlos e na Nossa Senhora do Carmo. À época, com base em estatística de 2015 e do primeiro semestre de 2016, a corporação justificou que as duas avenidas são as campeãs neste tipo de ranking da criminalidade, com 19,93% das ocorrências então apuradas pela Sesp.

Significa dizer, numa leitura ampliada, que 8 em cada 10 registros foram em outras rotas, como na Raja, onde a jovem advogada, que tinha 26 anos de idade, perdeu a vida. Ontem, a corporação disse que a operação não será restrita à Antônio Carlos e à Nossa Senhora do Carmo. Porém, não informou a data em que será implantada em outros corredores.

Até lá, passageiros e profissionais da 4110 temem a ação de bandidos no corredor. “Foram três ocorrências em janeiro. Acreditamos até que sejam os mesmos assaltantes que agiram no evento que terminou na morte da moça”, lamentou Luiz, um dos motoristas da 4110. Testemunhas contaram que dois rapazes entraram no coletivo pela porta do meio. Outro comparsa, na frente. O trio anunciou o assalto e proibiu o condutor de parar o veículo.

Desesperadas, pessoas caíram no asfalto. A Polícia Civil investiga se elas abriram a porta na tentativa de fugir dos marginais. Os assaltantes fugiram. “Foram rumo ao Aglomerado Morro das Pedras”, disse Aparecido, um dos cobradores da linha. Ele não estava naquele coletivo, mas contou como terminou uma ocorrência, em janeiro, em que foi testemunha.
Um dos trocadores da linha, Aparecido foi testemunha de tentativa de assalto em janeiro, quando houve três roubos no percurso(foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
Um dos trocadores da linha, Aparecido foi testemunha de tentativa de assalto em janeiro, quando houve três roubos no percurso (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)

ARTIMANHA


“Dois homens entraram armados e o motorista percebeu que o ônibus seria roubado. Daí, esperto, o chofer parou o veículo, desceu e, já no passeio, gritou para todos os passageiros saírem. Usou a desculpa de que o carro havia apresentado problema mecânico. Os suspeitos também desceram, sem assaltar ninguém, e foram embora, pois, acredito, não iriam nos roubar no passeio. Assim que eles se distanciaram, voltamos para o coletivo e prosseguimos viagem”, recordou o cobrador.

Usuários da 4110 também colecionam histórias. A diarista Marizete Gonçalves, de 55, tem na memória o dia em que um homem se sentou ao lado de uma moça que cochilava: “Ele abriu a bolsa dela e mexeu nos pertences. Coisa absurda. Cara de pau”. “Ficamos reféns da sorte”, emendou o bombeiro hidráulico André Luiz da Silva, de 41. Casos similares ocorrem em outras linhas. José Antônio, hoje fiscal da 4110, contou que trabalhou cinco dias na 4802 (Pindorama/Boa Vista) e teve conhecimento de três assaltos ou furtos. “Acredita? Três ocorrências em apenas cinco dias?”.

REGISTRO


O pesquisador Bráulio Figueiredo Alves da Silva, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, elogiou o Viagem Segura. “Evidentemente é preciso um pouco mais de tempo para avaliar o impacto.” E fez questão de ressaltar que o sucesso do combate à criminalidade depende de uma ferramenta indispensável: registro das ocorrências pelas vítimas.

“A PM e a Guarda Municipal trabalham em cima de estatística. Não adianta ser roubado e ignorar o registro”, explica Bráulio, acrescentando que os boletins de ocorrência são fontes para elaboração de uma espécie de mancha da criminalidade, onde, então, o poder público deve reforçar a segurança. “A operação da Guarda tem de ser estendida à medida que haja demanda. Se você perguntar aos usuários, claro que eles querem que seja ampliada. Mas há efetivo da Guarda para isso? Sabemos que o número de agentes é limitado”.

Já a corporação informou que “a Viagem Segura se pauta em dados estatísticos que retroalimentam o planejamento. Neste sentido o reforço da operação se dará mediante sinalização de estudo estratégico de análise criminal, o qual vem sendo realizado de forma permanente na atual gestão”. “Outros corredores serão incluídos na operação, sempre tendo como critério a análise da incidência de roubos consumados e tentados praticados nos ônibus que trantamm nas referidas vias”, finalizou.


história repetida


O assalto de terça-feira não foi o único em Belo Horizonte em que uma passageira caiu do coletivo, bateu a cabeça no asfalto e perdeu a vida. Em maio de 2016, quatro criminosos invadiram um coletivo na Região de Venda Nova. O grupo proibiu o condutor de parar o veículo e destravou uma das portas para facilitar a fuga. Na MG-010, em direção a Confins, próximo à estação do Bosque da Esperança, uma mulher caiu do coletivo. Sete passageiros tiveram os pertences levados. O ônibus só parou cerca de dois quilômetros após a queda da passageira.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)


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