(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Nascente preservada abastece gratuitamente 20 famílias de Sabará

Defensora do meio ambiente, líder comunitária preserva nascente em sua propriedade e abastece, de graça, 20 famílias de Sabará com água potável


postado em 15/09/2016 06:00 / atualizado em 15/09/2016 08:30

Valéria Moreira vai regularmente à nascente para recolher folhas mortas e garantir a vazão da água, que chega às casas de moradores como Nilza e Geralda (abaixo)(foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
Valéria Moreira vai regularmente à nascente para recolher folhas mortas e garantir a vazão da água, que chega às casas de moradores como Nilza e Geralda (abaixo) (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
Para salvar a água, ela luta até contra o fogo. E faz muito mais: desce ribanceira, passa sob árvores tombadas e se agarra no arame farpado, sempre com uma lata a tiracolo. Guerreira do meio ambiente, a líder comunitária Valéria do Carmo Moreira, de 54 anos, divorciada, mãe de três filhos e avó de um menino, batalha com todas as armas para preservar uma nascente dentro da sua propriedade no Chacreamento Ipê Amarelo, em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte e a apenas 12 quilômetros da Praça da Estação, no Centro da capital. Desse manancial, sem cobrar nada, ela abastece 20 famílias. Ontem, quando o termômetro marcou 33,8°C, no dia mais quente do ano na cidade, e a umidade relativa do ar atingiu 18%, Valéria mostrou a nascente e bradou, no meio do mato, a plenos pulmões: “Água é vida, temos que conservar para não faltar. Aqui, enquanto eu puder, estará sempre jorrando”.


Moradora há 15 anos de Sabará, a empresária Valéria descobriu, há 12, a água brotando no meio das pedras. No início, viu que não seria fácil chegar constantemente ao local, que fica a 210 metros da estrada do chacreamento, num acesso com descidas fortes e pedras escorregadias, embora em meio a vegetação exuberante. Mesmo com o grau de dificuldade, ela passou a ir regularmente ao ponto, recolhendo na lata as folhas mortas, de forma a não impedir a vazão do precioso e cristalino líquido. “É potável, de ótima qualidade. Pode beber sem problemas, pois cuido muito dessa área”, conta a empresária, que “todo sábado e feriado”, conforme explica, segue até o seu “pequeno paraíso”.

Preocupada com a escassez de água em muitas regiões mineiras, e citando a seca do ano passado, Valéria explica – e mostra, com documento – que a nascente está cadastrada no Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). “Tenho feito esse trabalho de preservação, sozinha. Uma vez, puseram fogo no mata, por causa de um enxame, e muitas árvores foram destruídas. Tive que replantar várias espécies”, conta, mostrando ipês-amarelos ainda com um restinho de floração, jatobás, coqueiros e outras, a exemplo das samambaias enormes, margeando o riacho que se forma no alto.

INVESTIMENTO Para abastecer sua casa e das 20 famílias, Valéria instalou um cano de PVC e 200 metros de mangueira que levam o recurso natural, por gravidade, até uma caixa-d’água de mil litros. Daí é bombeado para as residências. Para esse serviço, gastou cerca de R$ 17 mil, sem arrependimento. “Fico feliz de poder compartilhar a água que nasce no meu terreno com vizinhos. Estamos numa área rural, sem fornecimento da Copasa, e com muitos poços artesianos. Na época da chuva, o riacho, que faz parte da Bacia do Rio das Velhas, dobra de tamanho. Nunca tivemos falta de água, mesmo no período mais crítico em Minas”, afirma com orgulho.

Com mais de 500 propriedades, o Chacreamento Ipê Amarelo ocupa as terras antes pertencentes à Fazenda Bernardo Monteiro, revela a líder comunitária. Do alto do caminho que leva à estrada BH-Sabará, via Marzagão, ela mostra a mata, de verde mais vivo, encravada num vale – o panorama destoa do restante da vegetação que esturrica ao sol e à falta de chuva. “Para mim, a mina d’água sempre será um paraíso. Se pudesse, moraria ali no meio, longe de todos os problemas”, brinca a líder comunitária.

Quem se beneficia da água da propriedade de Valéria não tem do que se queixar. Só agradece. É o caso de Nilza Monteiro de Assis, que vive na companhia da mãe, Geralda, e da filha Jéssica. Na casa, a cisterna com 28 metros de profundidade, está seca. “Essa água é tão clara que dá pena até lavar roupa”, afirma Nilza, com um sorriso, enquanto mostra o líquido saindo da torneira. Dizendo-se muito satisfeita por não pagar pelo consumo, a dona de casa lembra que, num domingo, a mangueira arrebentou e ela foi até perto da nascente, com Valéria, para fazer o conserto.

Valéria fica feliz com a cena, e faz o alerta para que todos economizem água, mesmo quando há fartura. E sabe que nunca é demais lembrar. “Precisamos cuidar da natureza, do planeta. E o principal é não desmatar”, orienta.

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)