
Esta não é a primeira luta que esse pai trava pela família. Há cinco anos, Álvaro e os parentes se uniram pela recuperação da esposa, que batalhava contra um câncer, mas ela acabou morrendo e ele ficou com os dois filhos para criar. A busca agora é por justiça e começou cedo, nesta segunda-feira, entre reuniões com o ouvidor de polícia, Paulo Alkmin, e o delegado do caso, Alexandre Oliveira, em Contagem. O rosto abatido e a respiração ofegante do corretor dão a impressão de que se trata de um homem cansado, mas sua determinação ao atender telefonemas seguidos e se deslocar pela Grande BH para cobrar atitude das autoridades mostra sua obstinação. O único momento em que o homem se permitiu emocionar foi quando entrou no quarto do filho, todo decorado com as cores azul e branca do Cruzeiro, o time do coração. “Ligaram para mim da boate, às 4h45, dizendo que meu filho tinha se machucado num acidente e era para eu ir até lá. Respondi que era melhor encaminhá-lo a um hospital, que eu o encontraria lá. Mas disseram que o Cristiano só iria se fosse comigo”, lembra Álvaro. O corretor de seguros achou estranho. Quando chegou ao estabelecimento e viu os amigos do filho consternados ao lado da viatura do Instituto Médico-Legal, soube que algo gravíssimo tinha ocorrido. “Perguntei para eles se o Cristiano estava lá dentro do rabecão e me disseram que sim”, conta.
Os dois militares presos em batalhões da PM, Jonathas Elvis do Carmo, de 27, e Jonas Moreira Matias, de 28, foram reconhecidos por testemunhas e também pelo fato de um deles ter deixado que sua arma de fogo registrada na corporação caísse no chão durante a briga. Eles foram detidos na sexta-feira mesmo, enquanto faziam educação física na sede do Batalhão Rotam. Segundo apurou a reportagem, os dois são homens altos, fortes e tinham escoriações nas mãos que podem ter sido resultado dos socos desferidos durante a briga. A reportagem apurou também que os dois grupos estavam em uma festa em que foi intenso o consumo de álcool, e que a briga começou dentro do estabelecimento, com uma troca de empurrões e tapas. Cristiano teria pedido ajuda a um segurança do estabelecimento, mas não recebeu nenhum auxílio, segundo informações da polícia. A reportagem tentou entrar em contato com a casa noturna, mas ninguém quis se pronunciar. O delegado que apura o caso, Alexandre Oliveira, analisa a filmagem dos circuitos interno e externo de segurança do estabelecimento, que teriam registrado todo o tumulto.

O pai de Cristiano, Álvaro Nascimento, disse que só vai sossegar quando os responsáveis forem julgados e condenados. “Se alguém me perguntar, hoje, se eu perdoo os soldados, digo que não consigo. Somos humanos e o tempo nos afeta demais. Por isso, não sei se os perdoaria com o tempo. Só sei que são dois bandidos, que foram treinados para proteger a sociedade, não para matar os filhos que saem para se divertir e terminam mortos”, afirma.
A casa noturna Clube Havanna se limitou a informar que os dois soldados eram clientes e pagaram normalmente suas contas. Informou, ainda, que disponibilizou espontaneamente as imagens de segurança e todas as informações requisitadas pela polícia. (Com João Henrique do Vale)
