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Estado de Minas

Pobreza facilitava abusos cometidos por ex-prefeito de Taiobeiras, diz polícia

A pobreza da região, castigada pela seca, contribuiu para a exploração sexual das menores e para a passividade das famílias


05/04/2016 06:00 - atualizado 05/04/2016 07:47

Joel Cruz Santos foi detido no Pará. Defesa fala em 'perseguição política'(foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Joel Cruz Santos foi detido no Pará. Defesa fala em 'perseguição política' (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Crianças e adolescentes de Taiobeiras (Norte de Minas) eram levadas pelas próprias mães para práticas sexuais com o ex-prefeito da cidade, Joel Cruz Santos, de 76 anos, em troca de pagamentos que variavam de R$ 10 a R$ 200. A pobreza da região, castigada pela seca, contribuiu para a exploração sexual das menores e para a passividade das famílias. Segundo a polícia, uma das mães chegava a drogar a filha para que suportasse os abusos de vários homens.

A informação foi dada ontem pelo delegado de Taiobeiras, Alessandro Lopes, durante a apresentação de Joel Cruz à imprensa, em Montes Claros, também no Norte do estado. O ex-prefeito foi preso em uma fazenda no Pará, após longa caçada policial. O trabalho contou com o apoio da organização não governamental (ONG) “Menina Dança”, sediada em Belo Horizonte, responsável por uma campanha de mobilização internacional, que resultou no envio à Polícia Civil de Taiobeiras de mais de 800 cartas, encaminhadas por pessoas de diversos países como Inglaterra, Canadá e Austrália. Cruz estava foragido desde 2015, quando teve prisão preventiva decretada pela Justiça devido às denúncias de pedofilia. A defesa dele alega inocência e diz que ele é vítima de “perseguição política”.

O ex-prefeito foi preso na Fazenda Três Irmãos, no município de Curionópolis, a 672 quilômetros de Belém, após trabalho de investigação feito em parceria entre policiais civis mineiros e paraenses. O delegado Alessandro Lopes justificou que “por questão de segurança”, o ex-prefeito não foi levado para Taiobeiras, lembrando que a prisão do acusado provocou comoção na cidade, onde Cruz já comandou o Executivo por quatro mandatos e ainda exerce influência.

Duas mulheres estão presas em Taiobeiras, suspeitas de obrigar as filhas, além de outras parentes e conhecidas, a manter relações sexuais com Cruz e outros homens, em troca de dinheiro. O delegado Alessandro Lopes informou também que há mais cinco investigados por envolvimento no esquema de prostituição de crianças e adolescentes na cidade, que também poderão ser detidos. Já foram identificadas seis vítimas do esquema, com idades entre 5 e 15 anos, mas as investigações prosseguem.

As denúncias de exploração sexual contra Joel Cruz, feitas inicialmente pelo Conselho Tutelar de Taiobeiras, vêm de mais de 15 anos. Em 2005, devido às acusações de aliciar menores, depois de também permanecer um tempo foragido no Pará, o ex-prefeito chegou a ser preso temporariamente e respondeu a inquérito, mas a defesa alegou falta de provas e ele foi absolvido pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

De acordo com o delegado Alessandro Lopes, mesmo depois do inquérito de 11 anos atrás, o ex-prefeito prosseguiu na prática de abusos sexuais contra menores. “Acredito que, como foi absolvido, pensava que nunca seria punido”, disse o delegado. Segundo ele, agora Joel Cruz vai responder pelos crimes de estupro de vulnerável e exploração sexual de crianças e adolescentes, podendo ser condenado a mais de 30 anos de prisão.

O advogado Heberth Alcântara, que defende o ex-prefeito Joel Cruz, disse seu cliente é inocente, vítima de perseguição. “Todas as acusações têm motivação política e isso será mostrado nos autos”, assegurou. Ele afirmou ainda que vai tentar habeas corpus junto ao Tribunal de Justiça de Minas.

CAÇADA “A prisão foi resultado do esforço e da insistência policial”, disse uma fonte da Polícia Civil de Minas, ao comentar a ação na zona rural de Curionópolis, no interior do Pará, com apoio de agentes daquele estado. A região conta com matas e fazendas de criação de gado de grande extensão e, para complicar, moradores evitam fornecer informações. “Tenho certeza de que ele se sentia seguro e achava que nunca seria localizado”, comenta a mesma fonte.


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