Mais de 600 casais trocaram alianças na manhã desta sexta-feira no ginásio Mineirinho, na Pampulha, em Belo Horizonte. O casamento comunitário, promovido pela Defensoria Pública do Estado de Minas teve a participação de centenas de familiares e autoridades de Minas. A cerimônia ecumênica, realizada com toda pompa e circunstância que a tradição exige, emocionou os casais.
O casamento começou por volta das 11h, mas desde cedo era grande a movimentação na entrada. Os casais, vestidos a caráter, e os convidados trajados com elegância chamavam a atenção de quem passava pela Avenida Abrahão Caram. Eram pessoas de todas as idades, noivas gestantes, algumas amamentando, ou acompanhadas dos filhos maiores, desfilando em diferentes estilos de vestido.
Os noivos passaram por um tapete vermelho, receberam a benção, trocaram alianças e receberam a certidão de casamento
O casal de aposentados Paulo Ferreira Vidal e Maria Gonçalves Vidal transbordava de felicidade com o matrimônio que se aproximava. Juntos há quase meio século – da união, nasceram três filhos, três netos e um bisneto -, marido e mulher não esconderam a emoção da troca de alianças. "Estou muito emocionada de estar casando e realizando um sonho", disse dona Maria. Com o sorriso no rosto, o companheiro disse que a relação que já dura 47 anos foi amor à primeira vista. "Acredite se quiser, mas é verdade".
Paulo Vidal vê a cerimônia com uma oportunidade de formalizar a união e afirmou que não enfrentou burocracia para conseguir os documentos.
O casal se conheceu no Bairro Palmeiras, Região Oeste da capital, onde começaram a namorar e decidiram morar juntos. O casamento representa uma vitória na vida de dona Maria. Em novembro de 2013, a aposentada sofreu um infarto e foi parar o Centro de Terapia Intensiva (CTI).
Maria Vidal foi submetida a uma cirurgia e esteve à beira da morte, mas não perdeu a esperança de viver. "Os médicos não davam nada para mim e hoje estou casando. Graças a Deus", contou.
Na entrada, Lucas Samuel Versiani Barbosa, de 18 anos, não escondia a ansiedade. “(O coração), tá meio acelerado”, comentou rindo. De vestido curto e sapatos de salto vermelhos, a noiva, a estudante Michele Alves dos Santos, de 28 anos, estava bem segura e posava para as fotos, sob os olhares de admiração das amigas e familiares. “É uma emoção muito grande, ainda mais do jeito que está acontecendo aqui”, disse. Moradores do Bairro Madre Gertrudes, Região Oeste de BH, eles estão juntos há um ano.
“Somos amigos de infância. Depois de nove anos juntos a gente resolveu casar”, conta a comerciária Karen Kelly da Silva Souza, 25 anos, ao lado do comerciante Samuel Felipe, da mesma idade. Eles são do Bairro Nova Esperança, Região Noroeste da cidade. “Nove anos de enrolação, de namoro. É muita felicidade”, brincou Samuel. “Casar pra nós vai ser um prazer e estamos muito gratos por isso, por esse casamento comunitário ajudar a gente em tudo”.
As inscrições para o casamento comunitário começaram em outubro. Ao todo, 619 pessoas se candidataram ao “sim” na sede da Defensoria Pública de Minas Gerais. Todos os procedimentos foram realizados de graça para quem não possuía condições financeiras de arcar com as taxas nos cartórios, que podem chegar a até R$ 500.
“A gente estava com planos de um casamento e surgiu a oportunidade do casamento comunitário Ajudou bastante”, explica a auxiliar administrativa Michelle Diana Ramos, de 28 anos. “Não foram nem 10 dias para fazer toda a organização. Foram uns cinco”. Ao lado dela, o encarregado de expedição Fernando Pereira, de 27 anos, estava “com o coração batendo a mil, trêmulo”. Eles estão juntos há quase dois anos. O pequeno Wallace, de 10 anos, mostrou que quer ver o padrasto fazer a mãe feliz. “Linda”, resumiu ao falar do visual de Michelle.
CIDADANIA A defensora pública geral do Estado, Christiane Neves Procópio Malard, disse que o objetivo da atuação extrajudicial da Defensoria busca promover a estruturação dos vínculos familiares, prevenindo a criminalidade e a dependência química. “Não só a estruturação dos vínculos familiares, mas também criar o efeito psicológico do casal, que a partir do momento que formaliza a união se compromete perante a sociedade com mútua assistência, cooperação e também com esse compartilhamento da educação e criação dos filhos”, explica. “Direitos patrimoniais, direitos de herança, direitos de convivência familiar que são assegurados com o casamento”.
O casamento comunitário marcou a inauguração do Centro de Mediação Familiar, novo serviço oferecido pela Defensoria Pública de Minas Gerais. “Quando o casal procurar a Defensoria Pública, até mesmo para um divórcio, envolvendo questões de guarda, alimentos, antes de judicializarmos a demanda, iremos promover um processo de mediação desse casal, evitando levar ações para o poder judiciário. E isso gera um efeito muito positivo”.
O Centro vai promover encontros com os casais para resolver os problemas em sua origem. “Promovemos o diálogo e, com isso, o casal sai mais estruturado, com inúmeras questões mediadas, inúmeras questões resolvidas. Familiares, guarda, alimentos, visitas, e o mais importante: que esses casais dificilmente voltam, porque as questões ficam resolvidas na sua origem”. Os atendimentos do serviço começam em 7 de janeiro.