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Estado de Minas SALTO PARA SAIR DO ESCURO

Primeira hidrelétrica do país foi construída em Minas há mais de 100 anos

Há 124 anos as águas do Rio Paraibuna, na Zona da Mata, moviam as turbinas da primeira usina hidrelétrica do país, ponto de partida para o Brasil se tornar um gigante no setor


postado em 18/05/2013 07:00 / atualizado em 18/05/2013 06:54

Iniciativa da construção da pioneira geradora de energia do continente foi do industrial mineiro do setor têxtil Bernardo Mascarenhas(foto: Vaneska Dias/Arquivo EM - 22/9/00)
Iniciativa da construção da pioneira geradora de energia do continente foi do industrial mineiro do setor têxtil Bernardo Mascarenhas (foto: Vaneska Dias/Arquivo EM - 22/9/00)

 

Os primeiros watts/hora (W/h) de energia hidrelétrica gerados na América Latina foram possíveis graças às águas do Rio Paraibuna, que atravessa a Zona da Mata mineira e deságua no litoral fluminense. Há mais de 120 anos, quando as turbinas importadas dos Estados Unidos giravam pela primeira vez na Usina de Marmelos, em Juiz de Fora, ocorreu de forma inédita no país a transformação da energia mecânica em elétrica. Foi o salto inicial para que o Brasil se tornasse um dos maiores produtores de energia hidrelétrica do planeta. Cinco anos antes, as águas do Ribeirão do Inferno, em Diamantina, já tinham sido usadas para gerar energia, mas ela ficou restrita ao uso de mineração de diamantes, sem grandes registros. A usina levantada às margens do Paraibuna acelerou o processo de desenvolvimento da técnica no Brasil, que passou a olhar para seus rios como fonte de uma riqueza que iria além da pesca e mobilidade.

A iniciativa da construção da primeira usina hidrelétrica do continente partiu do industrial mineiro Bernardo Mascarenhas, que, com objetivo de ampliar sua produção de tecidos, buscou por vários anos uma forma mais moderna e prática de movimentar os teares de sua empresa têxtil. Em 1878, depois de visitar a Exposição Universal de Paris, onde se encontrou com empresários de outros países e ficou conhecendo pesquisas e novidades tecnológicas desenvolvidas no exterior, Mascarenhas resolveu apostar na energia dos rios com forma de gerar energia.

“Ele buscou informações para otimizar o método manual que era usado em suas fábricas. Já sabia que fora do país empresários economizavam mão de obra e conseguiam aumentar a produção”, conta José Roberto Tagliati, diretor acadêmico do Centro de Ciências da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Mas o industrial mineiro tinha pretensões que ultrapassavam as paredes de sua fábrica de tecidos e, assim que retornou da Europa, firmou contrato com a Prefeitura de Juiz de Fora para mudar o fornecimento de luz na cidade, passando da iluminação a gás para a elétrica.

Com a concessão garantida pela prefeitura, Mascarenhas criou a Companhia Mineira de Eletricidade (CME) de Juiz de Fora, que passou a fornecer energia elétrica para a cidade e lugarejos da região. Aos poucos a demanda pela nova invenção ganhou ruas e praças do lugar, até chegar às moradias nos primeiros anos do século 20. A companhia existiu até 1980, quando foi incorporada pela Cemig. Em 1983, a Usina de Marmelos se transformou em Espaço Cultural e Museu, após seu tombamento, no mesmo ano, pelo Patrimônio Histórico Artístico e Cultural.

Reação

Em 22 de agosto de 1889, foi realizada a primeira experiência com eletricidade às margens do Rio Paraibuna, garantindo que a força da água seria suficiente para a instalação de uma usina. A inauguração ocorreu em 5 de setembro de 1889, provocando grande atração e desconfiança da população. “Temos relatos de pessoas que não aprovavam a chegada da nova tecnologia. A reação do povo foi forte, com muitos considerando perigosa a nova usina. Foi espalhado inclusive o perigo com a alta voltagem da turbina instalada, que iria até soltar descargas de raios elétricos capazes de matar pessoas”, conta Tagliati.

Para convencer os desconfiados de que o novo empreendimento era seguro para a cidade, Bernardo Mascarenhas chegou até a mostrar dados estatísticos de que o perigo causado pelos atropelamentos por carroças era muito maior do que a morte por acidentes elétricos. “Com o tempo foi ficando cada vez mais claro que a energia elétrica tinha chegado para ficar e que o uso de rios para a geração de energia seria a melhor forma a ser adotada no Brasil”, lembra Tagliati. Depois da primeira unidade, foram montadas outras usinas no mesmo local e os primeiros equipamentos foram substituídos.

CAFÉ Assim como na implantação da usina hidrelétrica em Juiz de Fora, outras usinas começaram a ser construídas no final do século 19, motivadas principalmente pela iniciativa de grandes empresários brasileiros. “Nesse período os capitais provenientes do café estavam em alta e os grandes produtores tinham interesse em reinvestir em outras áreas. A energia elétrica então se encaixou bem nesse cenário, já que além de negócio rentável trazia uma novidade tecnologia que envolvia muito charme e atraía a curiosidade das pessoas”, explica Renato de Oliveira Diniz, doutor em história da energia elétrica pela Universidade de São Paulo (USP).

Aproveitando as características naturais do país, com muitos rios e cachoeiras, o desenvolvimento se deu rapidamente nas primeiras décadas do século 20, e atraiu novos investimentos de grupos internacionais. “Principalmente nos estados de Minas e São Paulo, a construção de usinas se encaixou muito bem e iam se espalhando pelas cidades. Capitalistas locais assinavam contratos de concessão com as prefeituras e depois seguiam para os municípios vizinhos”, diz o historiador.


SAIBA MAIS: INCENTIVO REAL
Ao contrário de muitos avanços tecnológicos que levaram tempo para ser disseminados aos países subdesenvolvidos, a energia elétrica avançou rapidamente no Brasil, acompanhando as melhorias feitas no exterior. O grande responsável por manter a chegada de novas invenções foi o próprio dom Pedro II, monarca entre 1840 e 1889. “De fato o Brasil foi um dos países pioneiros na implantação da energia elétrica como negócio e isso se deveu a dom Pedro II, que era um grande incentivador das novas descobertas. Em 1872, ele instalou um cabo telegráfico ligando o Brasil à Europa, e desde então ficava cada vez mais ligado no que acontecia pelo mundo”, explica Renato Diniz, pesquisador da história da energia elétrica. Segundo o historiador, em 1879, no mesmo ano que o norte-americano Thomas Edison finalizava o desenvolvimento da lâmpada elétrica incandescente, uma de suas mais famosas invenções, o governo brasileiro já programava a instalação da tecnologia em estações ferroviárias fluminenses.


LINHA DO TEMPO
1879 – O imperador dom Pedro II concede à empresa do norte-americano Thomas Edison, a Edison Eletric Light Co. a instalação de iluminação elétrica na estação da Estrada de Ferro Pedro II.
1888  – Princesa Isabel assina a Lei Áurea, que proíbe a escravidão no Brasil.
1889 – Início da operação da primeira hidrelétrica do continente. A Usina de Marmelos foi idealizada pelo industrial mineiro Bernardo Mascarenhas.
1889 – Proclamação da República.
1899  – Criação da São Paulo Light, entrada do capital estrangeiro no setor elétrico.
1903 – Aprovação, pelo Congresso Nacional, do primeiro texto de lei disciplinando o uso de energia elétrica no país.
1905  – Criação da Rio Ligth, do mesmo grupo financeiro da São Paulo Light.
1940 – Regulamentação da situação das usinas termelétricas do país, mediante integração às disposições do Código de Águas.
1952  – Fundação da Cemig, com o nome de Centrais Elétricas de Minas Gerais.
1960 – Criação do Ministério das Minas e Energia.
FONTES: Ministério de Minas e Energia (MME), Centro de Ciências da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)


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