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Estado de Minas

Resultados de testes da água do Rio Doce fazem MP cobrar transparência

Análises do Serviço Geológico do Brasil e do Igam são conflitantes sobre aumento de metais pesados na água do Rio Doce após desastre. MP cobra informações precisas


postado em 27/11/2015 06:00 / atualizado em 27/11/2015 07:37

Encontro das águas do Rio Doce com o Manhuaçu: Igam sustenta que passagem da mancha coincide com aumento de níveis de metais pesados (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Encontro das águas do Rio Doce com o Manhuaçu: Igam sustenta que passagem da mancha coincide com aumento de níveis de metais pesados (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Órgãos da União e do estado incumbidos de monitorar a qualidade das águas do Rio Doce após o desastre com a barragem da Samarco em Mariana não se entendem sobre o nível de contaminação provocado pela tragédia. O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) divulgou ontem resultado da comparação de amostras coletadas entre os dias 14 e 18 de novembro e exames feitos em 2010. O trabalho indica aumento da turbidez e a redução do oxigênio dissolvido, mas nega haver contaminação por metais pesados. Já o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), que também detectou turbidez em níveis elevadíssimos, sustenta que o aumento da concentração de metais pesados, em medições feitas entre 7 e 13 de novembro, coincide com o deslocamento da mancha de rejeitos pelo leito.

Segundo o CPRM, as amostras de água e sedimentos coletadas no Rio Doce após o acidente apontam grande concentração de material em suspensão (turbidez) e diminuição significativa na quantidade de oxigênio dissolvido na água, que pode estar relacionada com a mortandade de peixes. Os resultados obtidos em mais de 40 coletas foram comparados com análises feitas pelo mesmo órgão em 2010. O CPRM atesta que não foi detectado aumento na presença de metais pesados na água e nos sedimentos em relação aos dados de cinco anos atrás. Portanto, não haveria indicações, segundo a análise, de que a lama seja tóxica em relação a metais pesados.

Já o Igam, em relatório do dia 17, de caráter preliminar, divulgou resultados das análises feitas neste mês em 12 pontos do rio. A turbidez, provocada pela presença do rejeito de minério, era um dos problemas apontados, e chegava a 6 mil vezes o valor aceitável. A cor avermelhada apresentava queda ao longo dos dias, devido à capacidade de depuração do próprio Rio Doce, à medida que a vazão aumentava. Com relação aos metais pesados, o instituto verificou que arsênio, cádmio, chumbo, cromo e níquel nos pontos de monitoramento se comportaram de maneira semelhante: apresentaram valores mais elevados na data em que o rejeito alcançava os municípios, com diminuição nos dias seguintes. Cobre e mercúrio extrapolaram os limites legais em alguns pontos do rio, entre Rio Casca e Belo Oriente, de acordo com as amostras do Igam.

Foi o único relatório técnico de acompanhamento da qualidade das águas do rio publicado até agora pelo órgão responsável por planejar as ações de preservação dos recursos hídricos do estado, o que motivou reação do Ministério Público. O MP cobrou do instituto a disponibilização aberta, acessível e atualizada da situação do Doce e seus afluentes. Segundo o instituto, a periodicidade da divulgação à população será semanal, exceto quando for detectada alguma alteração substancial nas análises.

Segundo o coordenador regional das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente da Bacia do Rio Doce, Leonardo Castro Maia, o fato de as informações não estarem disponíveis do site do instituto e nem no portal Infohidro limita o acesso da população, que anseia por informações precisas sobre o manancial. A promotoria se baseou no artigo 5º da Constituição Federal que diz que “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral.”

LAUDO ENCOMENDADO
A Samarco também divulgou ontem resultados de análises encomendadas à SGSGeosol Laboratórios, especializada em análises ambientais e geoquímicas de solos. Segundo a mineradora, os resultados indicam que o rejeito proveniente da Barragem do Fundão não oferece perigo às pessoas.

As amostras foram coletadas em 8 de novembro próximo a Bento Rodrigues, Monsenhor Horta, Pedras, Barretos e Barra Longa, em Minas Gerais, e analisadas segundo a norma brasileira ABNT NBR 10004:2004. Os locais foram definidos para a coleta por serem os mais próximos ao acidente e porque representariam melhor o material que estava depositado na barragem, segundo a Samarco.

Ainda de acordo com a Samarco, o material foi analisado para medir índice de acidez, neutralidade ou alcalinidade (pH), corrosividade e a possibilidade de gerar reação violenta. Além disso, foi verificado se há presença de alumínio, arsênio, bário, cádmio, chumbo, cianeto, cloreto, cobre, cromo, ferro, fluoretos, manganês, mercúrio, nitrato, prata, selênio, sódio, sulfato, zinco, fenóis, coagulantes e floculantes. A empresa sustenta que o rejeito presente em Bento Rodrigues, Monsenhor Horta, Pedras, Barretos e Barra Longa foi classificado como não perigoso às pessoas e ao meio ambiente.

Os resultados também indicam que o rejeito coletado em Bento Rodrigues possui ferro e manganês acima dos valores de referência, mas abaixo dos valores considerados perigosos. Já nas amostras retiradas próximo a Monsenhor Horta, Pedras, Barretos e Barra Longa, foi detectada a presença de manganês fora dos parâmetros, mas abaixo de valores perigosos, sempre de acordo com a mineradora.

Enquanto isso...Abastecimento está comprometido no ES

O Ministério Público do Espírito Santo analisa laudos sobre a qualidade da água do Rio Doce enviados pelo Serviço Colatinense de Meio Ambiente e Saneamento Ambiental (Sanear). Conforme o entendimento do MP, pode ser novamente suspenso o serviço de captação e tratamento de água do rio para abastecimento de Colatina (ES). A captação e o tratamento de água foram interrompidos assim que a onda de lama chegou à cidade, em 18 de novembro. Foram restabelecidos na última segunda-feira, voltaram a ser interrompidos na terça e restabelecidos na quarta. Em Linhares, embora o abastecimento seja feito pelo Rio Pequeno, afluente que também banha a cidade, esta semana a prefeitura divulgou os primeiros resultados de análises da água, com a constatação de que está imprópria para consumo e abastecimento animal.


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