
Nos prédios em que hoje funciona a Escola Estadual Reverendo Cícero Siqueira, na qual estudam Lara T., 13 anos, e Jéssica A., 14, flagradas trocando sopapos motivadas por ciúme, funcionou, até 1967, o Colégio Evangélico.
Fundada em 1908, antes mesmo do município de 61 anos e 8318 habitantes que a abriga, a instituição de ensino era um internato bem conhecido na região. E, muito antes da internet, foi berço de algumas personalidades políticas como, por exemplo, Ibrahim Abi-Ackel, ex-ministro da Justiça entre 1980 e 1985.
Profundamente deteriorado, o edifício em que se educam alunos entre o 7º ano do Ensino Fundamental e o 3º ano do Ensino Médio é o retrato de quem levou uma boa surra do tempo e do descaso e mal se aguenta de pé.
A comunidade escolar relata que a estrutura danificada da instituição oferece, inclusive, riscos à saúde dos 900 alunos ali acolhidos. "Pombos se aninham debaixo do forro do teto dos dois prédios e os dejetos deles estão corroendo a madeira. O contato com isso faz mal à saúde dos estudantes", conta um morador da cidade, que frequentou o educandário na infância, tem filhos que estudam nele, mas não quis se identificar.
Os discentes também reclamam bastante. "Quando chove, cai àgua em cima da nossa cabeça. O teto é cheio de goteiras", afirma um jovem. Outro descreve a situação dos banheiros. "Está tudo caindo aos pedaços. A descarga não funciona direito, torneira, nada. Até as portas são velhas".
A reportagem do Estado de Minas pediu autorização para entrar na escola — numa tentativa de verificar não só suas instalações, como também a rotina escolar após a repercussão do meme "Já acabou, Jéssica?". A diretora Elizabeth Sathler, contudo, informou que a Secretaria de Estado de Educação deu ordens para que o acesso à imprensa fosse negado para evitar a exposição das crianças e adolescentes na mídia. O Estado deu outra versão: caberia à direção da escola abrir ou não as portas para o EM.
Do lado de fora, todavia, as câmeras da reportagem puderam captar uma boa amostra da decadência física da instituição. Com o beiral estourado, o telhado precisa de reparos. Na parte de trás da escola, vários pedaços da parede estão sem reboco e já mostram os tijolos. Observam-se vidros de janelas quebrados.
Impasse
A Reverendo Cícero Siqueira funciona em dois prédios. Um deles, onde funcionam a biblioteca, cozinha, secretaria e outros espaços, foi doado ao Estado pela Primeira Igreja Presbiteriana de Alto Jequitibá no fim da década de 1960. Já o outro, em que estão as salas de aula, ainda pertence aos religiosos, que o alugam para o poder público.
De acordo com o pastor Paulo Martins, presidente do Conselho da Igreja, pela lei do inquilinato, a obrigação de reformar os edifícios é do Governo. A organização evangélica, entretanto, recentemente teria ajudado com algumas melhorias. "Trocamos o forro do prédio que nos pertence. A escola também fez algumas reformas, trocando parte do beiral", revela.
m nota, a Secretaria de Estado de Educação informou que aluga um dos imóveis em que funciona a Cícero Siqueira ao custo de R$ 3.736,25 mensais. “A estrutura deve ser adquirida pelo Governo: a secretaria já autorizou a compra, faltando agora a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) tomar as devidas providências para finalizar o processo. O valor para aquisição está fixado em R$ 999.399,85. Findo este processo, o colégio deverá passar por reformas”.
