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Estado de Minas

Parteira madrinha das 600 bênçãos em cidade do Vale do Rio Doce

Após virar parteira por acaso, funcionária de posto de saúde conta cerca de 100 nascimentos em cerca de três décadas e mais de seis centenas de afilhados em Fernandes Tourinho


postado em 20/10/2015 06:00 / atualizado em 20/10/2015 07:31

Dona Luzia com Tatiany (E), Daniela e Luana (D): três representantes de um incontável time de afilhados(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press)
Dona Luzia com Tatiany (E), Daniela e Luana (D): três representantes de um incontável time de afilhados (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press)

Fernandes Tourinho – A frase que Luzia Reis de Souza, de 62 anos, mais escuta no dia a dia faz bem aos seus ouvidos: “Sua bênção, madrinha”. Moradora da pacata Fernandes Tourinho, cidade do Vale do Rio Doce com pouco mais de 3 mil habitantes, a 300 quilômetros de Belo Horizonte, ela já batizou mais de 600 crianças. “Quando cheguei no afilhado de número 619, parei de contar”, explica. Tanto carinho das famílias do lugar não é sem motivo: deve-se à dedicação da mulher em ajudar o próximo. Por anos, dona Luzia foi a parteira do município: “Trouxe muita gente ao mundo. Acho que umas 100 pessoas”.

O primeiro parto ocorreu por acaso, há quase três décadas. Funcionária do posto de saúde, ela ia acompanhar uma gestante à maternidade de Governador Valadares, a 70 quilômetros de Fernandes Tourinho. Mas as contrações da mulher se aceleraram e a criança começou a nascer antes de as duas entrarem na ambulância. “A primeira parte do corpo que saiu foi um pezinho. Parto de altíssimo risco. Graças a Deus, deu tudo certo”, recorda-se.

Como resultado da façanha, a gestante convidou Luzia para ser madrinha de Lucinéia, hoje uma moça de 28 anos. O batismo ocorreu na matriz do município, a Igreja de Nosso Senhor do Bom Jesus. “Sou devota dele. Por coincidência, o primeiro parto ocorreu em 14 de setembro, dia do nosso padroeiro.”

Já o último parto ocorreu há seis meses. Também não estava nos planos, uma vez que o posto de saúde municipal já contava com uma ginecologista. “Fui buscar uma gestante em casa e ela estava em trabalho de parto. Não havia tempo de levá-la à maternidade. Taíse nasceu com 3,6 quilos. Então, virei madrinha de mais uma menina”, explica.

Luzia, casada há quase meio século com João Paulino, é mãe de Édson, de 43. Ela poderia ter mais três filhos, sendo dois gêmeos, mas as gestações não vingaram. Dedicada à área de saúde, concluiu o antigo segundo grau – hoje ensino médio – e foi aprovada em um concurso municipal. Também obteve, com suor, um diploma do curso técnico de enfermagem, em uma instituição em Juiz de Fora, na Zona da Mata.

Ninguém conhece o posto de saúde em Fernandes Tourinho como ela: “Lá se vão 32 anos. Tenho tempo para me aposentar, mas não quero. Já me chamaram no INSS para resolver a papelada e recusei. Vou continuar aqui enquanto tiver forças para ajudar”, afirma.
Luzia trabalha na companhia de cinco afilhadas. Uma delas é a agente de saúde Daniela Rodrigues, de 27. “A madrinha também fez o meu parto. É uma mãezona. Tanto na vida quanto no trabalho, pois está sempre disposta a me ensinar as coisas”, disse a jovem, logo depois de dar um beijo no rosto da funcionária pública.

A também agente de saúde Luciene Pereira é outra que, quando criança, foi levada à pia batismal por Luzia. “Tenho a sorte de ter, no dia a dia, uma madrinha atenciosa e companheira”, resume a moça. A fisioterapeuta Tatiany Morais, de 26, também trabalha no posto. E, assim como as colegas, faz questão de destacar o enorme coração da madrinha: “Ela nos ajuda no que pode e no que não pode”.

A fama de boa madrinha é tão grande que ultrapassou os limites da sede do município e Luzia foi convidada por várias famílias do interior a ser, como dizem, a segunda mãe de dezenas de crianças da área rural.

POLÍtica Com a popularidade em alta, dona Luzia acabou sendo convidada a disputar uma vaga na Câmara Municipal de Fernandes Tourinho. Pensou bastante antes de aceitar a proposta, mas hoje está em seu sexto mandato e, atualmente, é a presidente do Legislativo municipal. É também a única mulher entre os parlamentares.

O vencimento como vereadora é de aproximadamente R$ 2,6 mil, mas Luzia garante que a maior parte é usada para comprar remédios e pagar pequenas cirurgias para os moradores. “Não foi o povo que me elegeu? Então, nada mais justo”, afirma. Ela, porém, garante que disputar uma eleição para a prefeitura não faz parte de seus planos.


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