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Estado de Minas

Seca expõe alicerces da represa Vargem das Flores e gera novo alerta para economia de água

Por trás da seca que pela primeira vez expõe esqueletos inundados pelas águas de Vargem das Flores está misto de degradação e estiagem históricas e previsão desanimadora de chuva


postado em 16/10/2015 06:00 / atualizado em 16/10/2015 11:37

Ver galeria . 9 Fotos Estrutura sobre a qual se erguia uma das moradias da área desapropriada vem à tona pela primeira vez desde a década de 1970 e deixa antigos moradores assustados com a proporção do problema Leandro Couri/EM/DA Press
Estrutura sobre a qual se erguia uma das moradias da área desapropriada vem à tona pela primeira vez desde a década de 1970 e deixa antigos moradores assustados com a proporção do problema (foto: Leandro Couri/EM/DA Press )

O surgimento de estruturas de concreto submersas desde a década de 1970 deu novo tom de alarme à seca que assola a Região Metropolitana de Belo Horizonte. Pela primeira vez desde a construção da represa Vargem das Flores, em 1972, alicerces de moradias inundadas à época podem ser vistos na barragem entre as cidades de Contagem e Betim. O retrato do passado traz à tona histórias de quem viveu nas fazendas desapropriadas para dar lugar à água, mas soa também como alerta para um futuro crítico. Por trás do quadro sombrio, além de uma estiagem histórica, estão o volume perto de zero da chuva neste mês e perspectivas ruins para a próxima estação chuvosa. A combinação aumenta a

preocupação com os níveis das represas do Sistema Paraopeba – que ontem voltaram a bater a marca mais baixa da história, em seu conjunto (24,2%) e em Vargem das Flores (22,3%) e no Rio Manso (34%). Em Serra Azul, o volume chegou a 8,4% da capacidade. Além de chamar a atenção sobre a necessidade de investimentos na captação e no controle de perdas de água, especialista ouvido pelo Estado de Minas alerta: os reservatórios devem levar pelo menos dois anos para se recuperar e a população precisa racionalizar o consumo.

Em Vargem das Flores – sistema responsável por 15% do abastecimento da Grande BH –, o cenário inédito assusta moradores e comerciantes. Mesmo alheia aos números que dão a dimensão da crise hídrica na Grande BH, a pensionista Vilma Diniz, de 64 anos, entende que a situação é preocupante. Há 43 anos ela e a família deixaram a casa grande onde moravam, em uma fazenda, para ceder espaço à barragem. Hoje, Vilma vive com os dois filhos em novo endereço, em frente ao reservatório, mas os poucos metros que separavam o portão de casa da água aumentaram e mudaram bruscamente a paisagem. “Já vi essa represa seca, mas nunca tanto assim. Tenho medo do que possa acontecer, medo de vir a faltar água. Fico triste. Não queria ver uma coisa dessas, a água acabando assim”, diz, desolada.

Um dos alicerces visíveis à margem do reservatório um dia foi parte da casa do lavrador Geraldo Justino, funcionário do fazendeiro Ormindo Silvino Diniz. Ambos já faleceram, mas quem ainda vive no entorno da represa lembra dos bons tempos de fartura. “Era muita água e a represa era muito bonita. Ano a ano, ela veio se degradando, mas nunca esteve deste jeito”, conta o irmão de Geraldo, o comerciante Sidmar de Lima, de 86. “Desde que vi a barragem encher, nunca tinha visto nenhum vestígio da casa do Geraldo”, contou.

Ao analisar os níveis das barragens do Sistema Paraopeba, o professor Carlos Barreira Martinez, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG, chama a atenção para a gravidade do problema. “Apesar de os reservatórios estarem cumprindo a função, que é a de operar em épocas de baixa afluência, a situação é preocupante, porque eles estão, ano a ano, cada vez mais secos”, afirma, destacando outro complicador: a previsão de pouca chuva. “Há um temor de que em 2016 e 2017 a situação se agrave. Os reservatórios com certeza vão voltar a se encher, mas, com os baixos índices pluviométricos, há possibilidade de que não se recuperem nos próximos anos.”

Diante desse panorama, o especialista faz duas ressalvas. Ele garante que, por um lado, a Copasa vai ter que melhorar o gerenciamento dos recursos hídricos, com obras de captação e redução das perdas de água potável, que ainda ultrapassam 30% do produzido. Em contrapartida, a população precisa economizar. “Ninguém precisa passar necessidade, mas as pessoas devem usar o necessário, além de evitar gastos para lavar o carro ou o passeio. Não é hora disso”, aconselha. Ele lembra ainda que parte do problema em Vargem das Flores tem relação direta com a ação do homem. Por não ser uma área cercada, o manancial é usado para pesca, piqueniques e navegação.

Chuva zero

Segundo o meteorologista Cléber Souza, do Instituto Nacional de Meteorologia, ainda não houve chuvas significativas para contar no registro de outubro, que deve ficar bem abaixo da média histórica (123 milímetros). Em mais um dia de recorde, BH teve ontem a temperatura mais alta do mês (máxima de 36°C, com 29°C à noite). A umidade relativa do ar chegou a 14%. O clima considerado “de deserto” deverá continuar na próxima semana. Com predomínio de massa de ar quente sobre o Sudeste do país, chuvas significativas devem ocorrer no estado só na última semana do mês.

A Copasa informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o risco de desabastecimento na Grande Belo Horizonte está afastado, com as obras para nova captação no Rio Paraopeba. A companhia esclarece que a água armazenada nos reservatórios do Sistema Paraopeba é suficiente para garantir o abastecimento de toda a população atendida por ele na Grande BH, considerando-se o pior cenário, que seria o de não chover a partir do fim do período de estiagem.

 


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