
A dispersão das famílias dificulta e encarece a administração do município, afirma o chefe de gabinete da prefeitura, Joaquim Magno Miranda. “Temos que investir muito na reforma e conservação dos 500 quilômetros de estradas vicinais, que atendem em torno de 25 localidades rurais”, explica. Em algumas, o isolamento chega a ser completo no período de chuvas, quando estradas de terra se tornam intransitáveis, como ocorre em Macaúbas, às margens do rio homônimo, distante 34 quilômetros da área urbana de Itacambira e sem acesso a linhas de ônibus.
A energia elétrica é o único conforto da vida moderna ao alcance das cerca de 20 famílias de Macaúbas. Para telefonar, os moradores precisam se deslocar pelo menos 10 quilômetros até o “ponto” mais perto, onde o sinal de celular “pega”. Ali, internet é desconhecida. Apesar do acesso à televisão – viabilizado pela chegada da energia elétrica há apenas sete anos, o velho radinho de pilha continua sendo o único meio de contato de muitos com o “mundo externo”.

Cercados de utensílios antigos, como um jirau – estrutura de madeira usada para escorrer vasilhas –, os agricultores João Batista Oliveira, de 55 anos, e Maria Dalva Soares de Oliveira, de 53, ficam mais de um mês sem visitar a área urbana. A mulher garante não sentir falta da cidade, mas reclama da escassez de assistência à saúde, problema agravado pela dificuldade de acesso à sede. “A gente só vai à cidade para comprar as coisas necessárias, como sal, arroz e açúcar”, afirma João Batista, que usa uma moto nos seus deslocamentos.
Para o casal José Pereira da Silva, de 62, e Alaíde Pereira da Silva, de 52, a aquisição desses produtos e serviços é “a maior dificuldade” para quem vive na localidade. Os dois passam até dois meses sem ir à área urbana, mas Alaíde diz preferir a roça. “Na cidade, é muito difícil, tudo a gente tem que comprar. Na roça, a gente produz alguma coisa”, comenta a mulher, acrescentando que apenas aprendeu a “assinar o nome” e a “ler um pouquinho” com o pai, que não permitiu que ela saísse de casa para estudar na cidade. Hoje, as crianças de Macaúbas são levadas para a escola em Itacambira e o carro do transporte escolar é um dos poucos veículos que transitam frequentemente entre a localidade e a área urbana. Questionado se conhece internet, José Pereira respondeu: “Já ouvi outros falarem. Dizem que é uma coisa muito importante, mas eu não entendo nada disso”.
Além da aposentadoria e do trabalho como agricultor, José Pereira da Silva tenta a sorte com garimpo, à procura de diamantes, no Rio Macaúbas, no fundo do seu terreno. Ele conta que a pedra mais valiosa que encontrou foi um diamante de quatro quilates, vendido por R$ 2,4 mil, divididos com um colega de trabalho. “Quem sabe um dia Deus olha pra gente e manda a sorte grande?”, sonha o agricultor garimpeiro.
