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Estado de Minas

BH teve quase três acidentes por dia envolvendo caminhões no ano passado

Caminhão desgovernado desce rua, atinge três carros e bate em escola no Gutierrez. BHTrans promete analisar pedido para proibir carga pesada na via, uma das mais íngremes do bairro


postado em 31/07/2015 06:00 / atualizado em 31/07/2015 07:18

Cena de destruição chama a atenção para perigo do transporte de carga: em 2014, caminhões se envolveram em mais de 1 mil acidentes na capital(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Cena de destruição chama a atenção para perigo do transporte de carga: em 2014, caminhões se envolveram em mais de 1 mil acidentes na capital (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Um acidente que quase terminou em tragédia no Bairro Gutierrez, Região Oeste de Belo Horizonte, voltou a chamar a atenção para o perigo envolvendo o transporte urbano de cargas, especialmente em vias íngremes da capital. Um caminhão de sete toneladas desceu sem freios a Rua Paula Cândido, bateu no muro da escola infantil Mundo Feliz e atingiu três carros de passeio que estavam estacionados. Na instituição, onde normalmente estudam cerca de 500 alunos, por sorte o movimento era menor com o período de férias escolares. Mas o berçário funcionava e havia circulação de pais, funcionários e pedestres. Por causa do susto, moradores da rua, pais de alunos e a direção da escola cobram que a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) impeça o tráfego de caminhões na rua. A BHTrans prometeu fazer vistoria no local e avaliar se uma restrição é necessária – a empresa garantiu que já elabora um projeto de revitalização da sinalização horizontal na região.

O acidente dessa quinta-feira engrossa as estatísticas de batidas envolvendo caminhões. No ano passado, houve 1.003 casos em vias urbanas de BH, quase três por dia, em média. Do total, 366 resultaram em morte – uma por dia. Em localidades com ruas íngremes, a preocupação de moradores é maior. Apesar de ainda não constar na lista de vias com restrição para tráfego pesado, a Rua Paula Cândido tem inclinação de 11,89 graus (ou 21,06%), considerada alta pela PBH e semelhante à da vizinha Martim de Carvalho, que é de 14,05 graus (ou 25,02%), onde há proibição. Atualmente, Belo Horizonte tem restrições para veículos com capacidade acima de cinco toneladas no Centro e nos grandes corredores. A capital conta ainda com dois pontos de fiscalização eletrônica para coibir a presença de caminhões pesados.

Moradora da Rua Paula Cândida e mãe de uma aluna da escola Mundo Feliz, a educadora Patrícia Cintra de Senna Valle, de 37 anos, é uma das que encabeçam o movimento para proibir caminhões na via. “Todos os dias a gente escuta freadas bruscas e já vimos outros acidentes aqui. O perigo é constante”, disse. Segundo ela, a proibição não atrapalharia a circulação dos veículos de carga, já que há outras vias alternativas, com inclinações menores, no entorno. “Durante a semana, é imenso o movimento na porta da escola. Alguém poderia ter morrido ou se ferido gravemente no acidente, mas o prejuízo poderia ter sido muito maior com o retorno das aulas”, lembra.

Veja como foi o acidente no Bairro Gutierrez (clique na imagem para ampliar)(foto: Arte EM)
Veja como foi o acidente no Bairro Gutierrez (clique na imagem para ampliar) (foto: Arte EM)


No caso de ontem, os três ocupantes do caminhão sofreram escoriações, mas o susto causado pelo caminhão desgovernado foi tão grande que o engenheiro Alexandre Pimentel, de 36, teve a sensação de ter nascido de novo. Ele é o dono do primeiro carro atingido pelo veículo de carga, um Citroen C4 que ficou completamente destruído. Ele tinha acabado de deixar a filha de um ano no berçário da escola, quando, na saída, viu o caminhão se aproximando. "Na hora que eu vi que ia bater, voltei correndo”, conta.

Segundo o motorista do caminhão, João Rodrigues Filho, de 67, que falou com a reportagem por telefone enquanto se recuperava de escoriações no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, ele prestava um serviço de recolhimento de lixo e entulho para a Prefeitura de BH no momento do acidente. "Estava estacionado na esquina de cima da rua que tem o morro e o rapaz me pediu para movimentar o caminhão 1 metro, para ficar mais fácil de carregar o caminhão. Quando pisei no freio, senti que ele endureceu. O caminhão começou a descer”, descreve. João disse que ainda conseguiu ligar o caminhão, mas, mesmo com ajuda do freio motor, não foi possível segurar as sete toneladas, pois o pedal do freio continuava sem funcionar. A pancada foi tão forte que ao bater no carro de Alexandre, o caminhão o empurrou em cima de outro carro e arrancou a proteção de uma das entradas da escola, danificando o muro, antes de acertar um terceiro veículo de passeio. A diretora da escola, Maria Lúcia Luz Dias, lembra que muitos motoristas descem a rua em alta velocidade. “Por sorte, o prejuízo foi só material", afirmou.

A Defesa Civil esteve no local e interditou o acesso da escola, condicionando a liberação à reforma do muro. A empresa KTM Engenharia, dona do caminhão, informou que começou trabalhos de reparo e que está tomando todas as providências para apurar causas do acidente. Além do motorista do caminhão, os ajudantes Robson Gomes da Silva, de 34, e Moisés dos Santos Oliveira, de 21, também foram atendidos no João XXIII com ferimentos leves. Os dois estavam no caminhão.

ENTREVISTA
Alexandre Pimentel, engenheiro,  testemunha do acidente


“Poderia ser uma tragédia”

O engenheiro Alexandre Pimentel, de 36 anos, tinha acabado de deixar a filha no berçário da escola Mundo Feliz. Ele conta que viu o caminhão descer a via e que voltou correndo para dentro da escola. “Foi aterrorizante”, disse.
O que você viu?
Tinha deixado minha filha de 1 ano na escola e estava saindo para trabalhar quando cheguei na mureta e vi o caminhão descendo. Na hora que eu vi que ia bater, voltei correndo para a escola, segurei na grade e vi ele pegando todos os carros que estavam parados por aqui.

A velocidade era muito alta?
Ele desceu muito rápido, a mais de 60 km/h, calculo. Foi aterrorizante. Ele bateu primeiro no meio do meu carro, empurrando os outros dois que também estavam estacionados.

Qual a sensação depois do acidente?
Se é na semana que vem, quando voltam as aulas, poderia ser uma tragédia. É uma sensação de ter nascido de novo. O que me dá mais medo é pensar no quanto estamos expostos.


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