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Estado de Minas

Movimento pede criação de delegacia especializada de mulheres em Ouro Preto

Libertação de homem acusado de matar jovem de 20 anos, sob alegação de legítima defesa, revolta grupos feministas e reforça reivindicação por atendimento especializado


postado em 14/07/2015 06:00 / atualizado em 14/07/2015 11:52

Cruzes em protesto realizado pelo coletivo Ninfeias representam as mulheres assassinadas em Ouro Preto(foto: Roberta Portela/Divulgação )
Cruzes em protesto realizado pelo coletivo Ninfeias representam as mulheres assassinadas em Ouro Preto (foto: Roberta Portela/Divulgação )
A libertação de um homem preso em flagrante, acusado de matar uma balconista em Ouro Preto e solto sob alegação de legítima defesa, causou revolta em grupos feministas. O assassinato intensificou a mobilização para a criação de uma delegacia especializada de mulheres, a fim de atender casos no município da Região Central.

Balconista de uma padaria, Débora das Dores de Souza, de 20 anos, foi morta a facadas, na manhã de 13 de junho, depois de sair de um bar com a amiga, a depiladora Joselaine dos Santos Cardoso, de 28. Além da dor, a mãe da vítima, a cozinheira Luzia Tomás de Souza, funcionária de uma padaria na Praça Tiradentes, no coração da cidade histórica, não esconde a indignação.

“Não desejo que ninguém faça nada ruim com ele, não. Mas a gente sofre quando sabe que não aconteceu nada. É Débora quem é culpada por ter morrido? Ninguém me chamou para dar satisfação nenhuma. Dá a sensação de que tudo é normal. Que aconteceu uma coisa que tinha que acontecer”, queixa-se Luzia, muito emocionada.

Lideradas pelo Núcleo de Investigações Feministas (Ninfeias), professoras e estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e mulheres de outros coletivos da cidade questionam a não tipificação desse crime dentro da lei do feminicídio. A jovem foi assassinada depois que ela e a amiga entraram em confronto com Roberto Francisco, de 49, quando estavam em um bar. De acordo com Joselaine, a confusão teve início quando ele teria “passado a mão em várias partes do corpo de Débora”, que não gostou e reagiu ao assédio. “Ela pediu para ele parar. Mas ele não parou. Então, ela foi para cima dele”, diz Joselaine. A confusão foi apartada e os três foram embora.

No entanto, Roberto teria parado em um supermercado na Rua Maciel, no Bairro Alto da Cruz, que fica a um quilômetro do bar e comprado uma faca. Minutos depois, as duas moças pegaram uma carona e desceram no local, onde reencontraram Roberto. Mais uma vez voltaram a se enfrentar. Imagens das câmeras de segurança do supermercado mostram quando as duas atravessam a rua, encontram com ele e o conflito começa. Pelas imagens, é possível ver o momento em que ele esfaqueia Débora, que cai no local. Também perfura o pulmão de Joselaine, que foge para o supermercado. Depois de prestar depoimento, Roberto foi liberado no mesmo dia, o que revoltou os familiares das jovens. Joselaine ficou internada seis dias e toma antibiótico devido à ferida.

“Em Ouro Preto, a mulher não tem local adequado que possa chegar e ser ouvida. Nas delegacias, é um entra e sai de homens, e muitas delas se sentem constrangidas de contar casos, principalmente de abuso sexual”, diz Deolinda Alice dos Santos, da Secretaria de Mulheres da Associação dos Aposentados, Pensionistas e Idosos de Ouro Preto, que encabeça abaixo-assinado para a criação de uma unidade especializada.

ATO
A morte da jovem desencadeou dois atos públicos promovido pelo Ninfeias. Um deles foi feito três dias depois do assassinato. A professora e performer Nina Caetano estendeu um lençol branco, onde colocou cruzes vermelhas representando Débora e outras mulheres mortas por homens,  crime tipificado como feminicídio. “Cada cruz recebeu uma lápide com o nome de uma mulher, a idade, onde foi morta, como morreu e quem a matou”, explicou Nina. O outro ato foi uma marcha silenciosa realizada por mulheres, principalmente da universidade,  e pelas famílias das duas jovens.

As mulheres saíram de Branco da Barra, um bairro da cidade, passaram pela Praça Tiradentes, local onde fica o estabelecimento onde a jovem trabalhava, e seguiram para a Rua Maciel, onde o crime ocorreu. “O caso fortalece a discussão. Foi preso em flagrante e solto. Mais uma vez, a mulher morta é tratada como nada. Elas foram assediadas e reagiram. Uma é morta e a outra esfaqueada, mas ainda assim muitas pessoas culpam as vítimas. Defendem a postura dele”, diz Nina.

Uma fonte, que pediu para não ser identificada, afirmou que foi feito o flagrante, mas que o delegado  não teria ratificado a prisão. O caso, então, foi encaminhado a uma delegada para dar prosseguimento às investigações.


Em Minas, são 55 delegacias especializadas no interior e três em BH. A assessoria de comunicação da Polícia Civil de Minas Gerais informa que a delegada responsável pela investigação está de férias e não teria como comentar o fato.

Professores da Ufop em greve

Os professores da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e Universidade Federal de Lavras (Ufla) aderiram à greve nacional iniciada em 28 de maio. De acordo com o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), em todo o país já são 40 instituições em greve. Eles revindicam a realização de concurso público e pedem a reestruturação da carreira. Segundo o professor André Rodrigues Guimarães, que integra o comando de greve, há uma distorção salarial entre quem entra e quem está no topo da carreira. Eles querem que o cálculo do vencimento básico incorpore o regime de trabalho (20 horas, 40 horas e dedicação exclusiva) e a titulação.


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