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Estado de Minas

Combatido por taxistas e criticado por especialistas, Uber ganha espaço em BH

Apesar de não ser legalizado e de não sofrer fiscalização, serviço oferecido pelo aplicativo é elogiado por usuários. Mesmo quem defende taxistas alerta: serviço precisa melhorar


postado em 08/07/2015 06:00 / atualizado em 08/07/2015 09:23

O consultor de negócios Guilherme Felipe ainda não experimentou a plataforma, mas pretende testar(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
O consultor de negócios Guilherme Felipe ainda não experimentou a plataforma, mas pretende testar (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Mesmo combatido pelos taxistas e contestado em várias partes do mundo, o serviço de transporte de passageiros oferecido pelo aplicativo Uber vem ganhando espaço entre usuários de Belo Horizonte, apesar de não ser legalizado, fiscalizado ou regulamentado. Para especialistas em tecnologia, toda inovação gera algum desconforto e os taxistas têm que se adaptar para não ficarem defasados, pois a concorrência está oferecendo um novo tipo de serviço, com diferenciais de qualidade e preço. Outras autoridades em transporte público, porém, alertam que o ponto a ser discutido é a legalidade do aplicativo, considerado por elas um serviço paralelo, clandestino e predatório.

Enquanto as opiniões se dividem entre estudiosos, enquete feita pelo portal em.com.br sobre a opinião dos internautas computou 3.110 votos de domingo às 17h de ontem – 2.325 (74%) favoráveis à nova plataforma e 785 (26%) contrários. O consultor de negócios Guilherme W. Felipe, de 37 anos, ainda não andou nos carros vinculados ao Uber, mas, diante da propaganda feita pela mulher, que aderiu ao serviço, está disposto a testar. “Minha mulher só tem elogios. Disse que chama o carro pelo aplicativo e nunca há atraso. São carros novos e os motoristas são educados”, diz ele, queixando-se do atendimento nas centrais de táxi.

Mas há usuários do transporte individual que defendem os taxistas. “Sou a favor dos taxistas, desde que eles melhorem a qualidade do atendimento. É injusto o Uber não pagar impostos, quando os condutores de táxis pagam. E deveriam abrir mais concessões para o taxista trabalhar”, disse o professor de educação física André Luiz Alves, de 39. Mas ele defende a modernização do serviço convencional. “Os taxistas deveriam oferecer água e revistas para os passageiros. Já seria um começo”, completa.

A cortesia é uma referência a um dos diferenciais ofertados pelos contratados do Uber, que oferecem água a seus passageiros, além de carros com ar-condicionado e bancos de couro. A estudante Lívia Nogueira, de 24, conta que testou o serviço no início do ano, quando estava sendo implantado na capital. “Fizeram uma oferta para uma amiga testar o serviço e eu fui como acompanhante. Ela se cadastrou no aplicativo e, se indicasse mais alguém, ganharia um bônus. Achei a qualidade do serviço muito boa: os motoristas são simpáticos e ainda oferecem água mineral para a gente”, contou a estudante.

Na polêmica, o professor de educação física André Luiz Alves está do lado dos taxistas, mas pede inovações(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Na polêmica, o professor de educação física André Luiz Alves está do lado dos taxistas, mas pede inovações (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
CARTÃO AMARELO Entre os que ainda não conhecem a plataforma, há muita gente disposta a experimentar, mesmo com o clima de insegurança provocado por enfrentamentos entre taxistas e contratados do Uber nas ruas. A estudante Laura Volponi, de 19, já sabe como funciona o aplicativo e está disposta testá-lo. “A vantagem é que você não precisa de dinheiro para andar de Uber: a cobrança é feita no cartão de crédito. A maior dificuldade em Belo Horizonte é conseguir um táxi que aceite cartão”, reclama Laura.

A professora aposentada Eduiges Oliveira, de 63, conta que quase perdeu um casamento por causa da demora do táxi. “Tivemos que pegar um outro táxi que apareceu na rua para deixar passageiro. Minha amiga já me explicou como funciona o Uber e pretendo conhecer o serviço. Os táxis estão deixando muito a desejar.” diz ela, que também critica a dificuldade de pagar pelo serviço com cartão.

A agilidade é outra questão que pode fazer a diferença na hora de optar por um serviço ou outro, segundo alguns usuários. A artista plástica Viviana Ferreira, de 43, conta que chega a ficar 15 minutos esperando um táxi no ponto e até uma hora quando chama um à sua casa. “Telefono para as cooperativas e muitas vezes não encontram um taxista que atenda a bandeira do meu cartão de crédito. Já cansei de pegar táxi e parar no meio do caminho para sacar dinheiro”, reclama.

Mas há também quem defenda que há espaço para as duas formas de transporte na praça. A esteticista Mariene Aparecida Ferreira, de 52, é a favor do táxi e do Uber trabalhando juntos. “Cada um tem que ganhar o seu. Os dois oferecem segurança. Pego Uber, táxi, táxi-lotação e todos me levam onde eu quero. Uso o que for mais prático. Depende da necessidade”, disse Mariene.

Análise da notícia - O exemplo que vem da história

Belo Horizonte ainda tem fresco na memória o preço de adiar decisões sobre a regulamentação do transporte de passageiros. Em outro patamar e com público distinto, a discussão aberta agora pelo Uber foi enfrentada pela cidade entre o fim da década de 1990 e o início dos anos 2000, com o fenômeno dos perueiros. Na época, o transporte por vans – alternativo para uns, clandestino para outros – proliferou nas brechas de um sistema de ônibus caro, demorado e desconfortável. Como outras grandes cidades da América Latina e do próprio Brasil, a capital mineira e suas autoridades – não apenas do Executivo – demoraram a perceber e a reagir ao fenômeno que sucateava frotas de coletivos mundo afora, pela concorrência desleal de um serviço sem regulamentação nem cobrança de impostos ou outras exigências legais. O polêmico aplicativo que agora concorre com os táxis convencionais não lembra a crise dos perueiros apenas por funcionar à margem de regras do poder público e escancarar a insatisfação de usuários com a qualidade, o preço e a regularidade do serviço oficial. Se assemelha à batalha das vans também pela violência que começa a desencadear nas ruas. Não custa lembrar que, em BH, o fenômeno de década e meia atrás terminou com uma batalha campal entre polícia e perueiros no Centro da cidade. Principalmente porque o desafio só foi encarado quando já havia saído do controle. (Roney Garcia)

Ponto crítico

Você é a favor dos serviços do Uber?

Não - Paulo Rogério Monteiro especialista em trânsito

“Nesse debate, eu não acho que se deva discutir qualidade do serviço. Se a discussão for por esse caminho, vamos chegar a uma situação em que, diante de um sistema ruim, cada um vai poder criar um outro só para si. Nesse sentido, qualquer tipo de iniciativa deve ser regulamentada. Segundo a legislação, o serviço de táxi é público e precisa ser licitado. A regra é essa, e tem que ser cumprida. Ou você anda de táxi, que é uma permissão do poder público, ou usa um transporte fretado escolar, por exemplo. Todos têm uma regulamentação. Se o serviço é ruim, é preciso melhorá-lo, e não criar um novo, paralelo, clandestino e predatório, que não tem regulamento nenhum.”

Sim - Tomás Duarte Murta integrante da Comunidade de Tecnologia San Pedro Valley

“Sou totalmente a favor do Uber. Do ponto de vista do consumo, há uma evolução do serviço. Na verdade, foi criado um novo patamar, com muita qualidade e conforto, com recurso financeiro similar, pois o valor é parecido com o do táxi. O passageiro é mais bem-tratado, tem um carro com muito mais conforto e uma série de peculiaridades na experiência de consumo, muito diferenciada em relação à tradicional. Eu não quero ouvir xingamento de taxista, discutir com o motorista para ligar o ar-condicionado, quero água e um carregador de celular. Do ponto de vista do mercado, o Uber traz uma inovação e com ela se consegue elevar o nível do transporte como um todo.”


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