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Estado de Minas

Reabilitação depois de acidente de trânsito é demorada e muda a vida das vítimas

HPS João XXIII atendeu 13,6 mil vítimas em 2014. Médicos alertam para a prevenção, como uso do cinto, para evitar sequelas mais graves e uma longa e sofrida recuperação


postado em 26/02/2015 06:00 / atualizado em 26/02/2015 07:21

'Fiquei afastado do trabalho e tive inúmeros prejuízos na vida pessoal', Eduardo Gonçalves da Costa, professor de educação física que sofreu acidente de moto(foto: JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS)
'Fiquei afastado do trabalho e tive inúmeros prejuízos na vida pessoal', Eduardo Gonçalves da Costa, professor de educação física que sofreu acidente de moto (foto: JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS)
O uso do celular ao volante, a displicência com o cinto de segurança ou a ultrapassagem em faixa contínua podem parecer ações sem consequências. No entanto, são as causas de grande parte dos acidentes de trânsito que deixam vítimas incapacitadas. A má conduta no trânsito pode gerar transtornos e sofrimento por longos períodos, quando não deixa sequelas para toda a vida. A reabilitação se torna um calvário para muitos pacientes e pode demorar de seis meses a um ano.

A dificuldade para voltar à vida normal foi constatada pelo professor de educação física Eduardo Gonçalves da Costa, de 36 anos. A moto que ele conduzia deslizou na areia na pista e ele caiu. Levado às pressas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ao pronto-socorro, ele recebeu cinco pontos no joelho atingido, mas o problema se agravou. Uma infecção o deixou 20 dias internado no Hospital Galba Veloso, referência em reabilitação de vítimas do trânsito. “Fiquei afastado do trabalho e tive inúmeros prejuízos na vida pessoal. Ficar tanto tempo internado é muito ruim. Fiquei com uma leve atrofia em uma das pernas”, lembra.

No longo processo para voltar ao prumo, a prática de exercícios físicos o ajudou a se recuperar. Quando olha para trás, Eduardo se lembra que o acidente foi um alerta. “A moto é um veículo bom e versátil, ideal para o deslocamento urbano. Mas, muitas vezes, o motoqueiro fica exposto. No meu caso, foi uma questão de piso. Mas vemos tanta gente se acidentar por imprudência”, diz. Ele lembra que o seu problema era menos grave do que muitos que chegavam com pernas e braços esmagados ou até mesmo amputados.

Somente no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, referência em Minas Gerais no atendimento a traumas do trânsito, 13.627 vítimas foram atendidas no ano passado em decorrência de atropelamentos, batidas e outros acidentes envolvendo carros, ônibus e bicicletas. Outro dado que demonstra a violência é o aumento em 160% no número de indenizações por invalidez permanente pagas pelo DPvat (Seguro de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Via Terrestre), em quatro anos. De janeiro a setembro de 2011, foram 165,6 mil pagamentos. No mesmo período de 2014, o número chegou a 430,3 mil.

A percepção de Eduardo Costa, de que é preciso redobrar os cuidados ao pilotar uma moto, se confirma com os dados do DPvat, que demonstraram que a moto foi o veículo com o maior número de indenizações de janeiro a setembro de 2014. Apesar de representar apenas 27% da frota nacional, o veículo concentrou 79% das indenizações por invalidez. Muitos pacientes com sequelas mais graves seguem para a reabilitação no Hospital Sarah Kubitschek - a metade dos pacientes foi vítima do trânsito. Em 2014, 564 pacientes foram internados devido a traumas. Desse total, 301 (53,4%) acidentaram-se no trânsito e, destes, 164 foram internados com lesão medular.

Nas estatísticas do hospital, os motociclistas lideram o ranking, com 43%, seguido por acidentes com automóveis, com 35%). Por causa da gravidade dos traumas, a reabilitação implica a ação de diversos profissionais. “Somos uma equipe multidisciplinar de médicos, psicólogos, professores de educação física. Trabalhamos juntos para a reabilitação”, afirma o clínico Cláudio Martins Machado.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)
PREJUÍZOS

Os traumas retiram homens e mulheres do mercado de trabalho, muitas vezes, quando estão no auge da carreira. “A saída precoce do trabalho levará a pessoa a uma dependência de alguém da família e da Previdência Social”, adverte o clínico João Gabriel Ramos Ribas.

As sequelas deixadas por uma batida podem ser desde uma perna ou braço quebrado até consequências mais graves, como trauma craniano e lesões medulares. “As lesões no cérebro causam dificuldades motoras e cognitivas que, em algum grau, podem ser permanentes”, diz Cláudio Machado. A internação é a primeira fase do processo de reabilitação, mas o propósito é que o acidentado volte à rotina o mais rápido possível.


Em alguns casos, são necessárias seções de fisioterapia para retomar um movimento. Mas, em casos de sequelas mais graves, como uma paraplegia ou tetraplegia, a reabilitação envolve reaprender ações básicas. Alimentar-se, urinar e até mesmo se comunicar viram desafios. “Algumas reabilitações são mais rápidas, mas muitos pacientes terão que ter um vínculo eterno conosco”, afirma Cláudio.

É preciso aprender a viver com as sequelas e com as limitações. “A maioria dos nossos pacientes tem que se afastar do trabalho, precisa se aposentar. Muitos vão exigir que tenha alguém da família que o ajude no dia a dia, que também terá que deixar as atividades para ser cuidador. O impacto para a família e a sociedade é muito alto.” Cláudio considera que maior que o custo do tratamento são os danos sociais, o fato de muitos homens e mulheres ficarem com a qualidade de vida comprometida para o resto da vida. “A cada dia, aumenta o número de pessoas vitimadas por acidentes com moto.”

Os médicos são unânimes em dizer que o uso do cinto de segurança pode impedir traumas mais graves. Dos pacientes em reabilitação no Hospital Sarah Kubitschek, 66% declararam que não usavam o equipamento de segurança no momento do acidente. “É um escândalo o número de pessoas que estavam sem cinto”, afirma João Gabriel. O médico alerta para o fato de que os passageiros no banco de trás costumam não usar o cinto, o que é um agravante. Muitos casos de lesões de medula foram causados por quem estava no banco de trás sem cinto e foi projetado com velocidade de até 120km/h. Ao ver como a gravidade dos traumas de quem não estava com o cinto no momento do choque, Cláudio alerta que é importante que as pessoas tenha consciência de que uma ação simples pode evitar um problema maior.

Mesmo com limitações nos membros, paraplégicos voltam a trabalhar, praticar esportes e até dirigir. “Aqui o orientamos como entrar e sair de um carro, como voltar a dirigir e até como tirar a primeira habilitação. Às vezes, a pessoa não dirigia, mas guiar passar ser necessário”, afirma Cláudio. A reabilitação envolve a prática de esportes como basquete, natação, tênis de mesa, musculação e esgrima.

Entendendo que a prevenção é fundamental, o hospital desenvolve um programa de educação para o trânsito para crianças. Semanalmente, são realizadas palestras no hospital. “Buscamos as crianças de ônibus. Aqui elas escutam o testemunho de pacientes. Não é nada chocante, mas é educativo”, diz João Gabriel.


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