Desde sábado os trabalhos estão parados. As escoras já haviam sido retiradas em uma extensão de pelo menos 38 metros, próximo à cabeceira da Rua Moacyr Froes, segundo constatou nessa segunda-feira, no canteiro de obras, a equipe do Estado de Minas. Dois pilares já haviam sido perfurados para colocação de dinamite e a intervenção em um terceiro ficou pela metade. Relatos de moradores vizinhos dão conta de que, depois que começou a remoção do escoramento, são ouvidos estalos na estrutura, que foi condenada pela própria construtora responsável. Segundo a empresa, a alça norte contém os mesmo problemas que levaram ao acidente que em julho matou duas pessoas e feriu 23.
O chefe substituto da Seção de Segurança do Trabalhador da SRTE/MG, Mário Parreiras de Faria, disse ter tomado a decisão com base em relatório de três engenheiros do Ministério do Trabalho. Em 14 de agosto, quatro perguntas sobre como seria a demolição com explosivos foram enviadas à Construtora Cowan. “A pergunta principal foi se o escoramento que está lá garantiria a estabilidade do tabuleiro da alça norte. Eles responderam que provavelmente sim. Pedimos, então, para que detalhassem as etapas da demolição e uma delas é a retirada da torre de escoramento do pilar 5. Se o escoramento é o que garante a estabilidade, e partindo do pressuposto de que o pilar 5 foi construído com o mesmo projeto do pilar que causou o desmoronamento da alça sul, como é que eles vão retirar as escoras para depois o pessoal entrar lá embaixo para colocar explosivos?”, questionou Mário Parreiras.
Outra informação passada pela Cowan, segundo ele, é de que as escoras do pilar 5 seriam amarradas com um cabo de aço e puxadas com a ajuda de uma carregadeira. “Queremos que nos apresentem um projeto técnico elaborado por um profissional legalmente habilitado, que diga quais são as estruturas de apoio que serão feitas para garantir a estabilidade do tabuleiro durante a colocação dos explosivos”, acrescentou.
Medo de madrugada
Na madrugada de ontem, moradores de prédios vizinhos foram acordados com o barulho de um estalo vindo da alça norte do viaduto. “Estão todos apavorados. Começaram a retirar as escoras na quarta-feira e um vão inteiro do viaduto está sem proteção”, alerta a advogada Ana Cristina Drumond, contratada pelas famílias que foram transferidas para um hotel, por questão de segurança. “O estalo ocorreu às 5h da manhã, ao ponto de acordar as pessoas. Um vigia dos prédios também se assustou com o barulho”, disse. Lojistas de um edifício comercial também estão se sentindo ameaçados. Hoje, a advogada pretende recorrer à Justiça e ao Ministério Público para que as escoras sejam recolocadas na estrutura.
Do outro lado da Avenida Pedro I, as peças de metal com roscas que são presas às escoras também já haviam sido abaixadas. “Não podemos ser levianos e liberar a implosão desse viaduto enquanto não tivermos certeza absoluta de que estarão protegendo a vida dos trabalhadores”, disse o superintendente-geral da SRTE/MG, Heli Siqueira de Azevedo.
Moradores vizinhos estão apavorados com a possibilidade de a alça norte cair antes da implosão. “Estou contando os minutos para esse pesadelo acabar e a gente voltar para casa”, disse a auxiliar de enfermagem Arminda Policarpo, de 55, que está hospedada em hotel. Ela mora no térreo do Edifício Antares e acha que seu apartamento será o primeiro a ser atingido, se a alça norte do viaduto desabar. “Disseram que vão abrir uma vala ao lado do viaduto para diminuir o impacto da implosão e proteger os prédios, mas eles nem começaram a cavar ainda. Pelo jeito, vão atrasar tudo”, reclamou. Uma tela de proteção também será colocada, com objetivo de conter os estilhaços.
A Construtora Cowan informou que vem mantendo reuniões com o setor de fiscalização da SRTE/MG e que vai detalhar ainda mais o plano para atender às exigências do Ministério do Trabalho. A construtora informou que a sua expectativa é esclarecer tudo o quanto antes, para garantir a implosão no próximo domingo, como previsto inicialmente.
Impasse na Pedro I
O vaivém em uma avenida parada
3 de julho
A alça sul do Viaduto Batalha dos Guararapes desaba sobre quatro veículos na Avenida Pedro I sobre, matando duas pessoas e ferindo 23. A alça norte permanece de pé.
6 de julho
Depois de delegado recorrer à Justiça para evitar demolição, para preservar provas, o Tribunal de Justiça de Minas autoriza a prefeitura a dar início aos trabalhos de demolição parcial. A PBH evita fazer previsão para liberar passagem de veículos e circulação de pessoas na Avenida Pedro I.
7 de julho
Alça do viaduto que desabou começa a ser removida. A previsão do coordenador da Defesa Civil, coronel Alexandre Lucas, era de que o trânsito deveria voltar à normalidade na Pedro I ainda naquela semana.
12 de julho
Empresa especializada em demolição, contratada pela Cowan, inicia teste com equipamento que corta o concreto em blocos sem causar grandes impactos à vizinhança. Apartamentos do entorno são vistoriados e o plano de liberar o trânsito é revisto. Defesa Civil afirma que empresa contratada para fazer o escoramento da estrutura que restou apresentou projeto com trazer mais segurança.
22 de Julho
Engenheiros e calculistas contratados pela Cowan para fazer estudos sobre a queda do elevado anunciam que houve erro no projeto executivo entregue pela Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), de responsabilidade da Consol. Dizem que um dos pilares da estrutura foi construído com um décimo da ferragem necessária e que a alça que permanece de pé corre risco de desabar e não caiu “por milagre”.
23 de julho
Defesa Civil anuncia a remoção de famílias que moram no residencial vizinho ao viaduto Batalha dos Guararapes.
11 de agosto
Justiça veta demolição de alça norte de viaduto. Decisão ainda determina que a população deve ser informada das providências que serão tomadas, para que os moradores e usuários afetados possam programar a sua vida e que a segurança de todos fossem resguardadas. A determinação da 4ª Vara da Fazenda Municipal de Belo Horizonte atende a pedido de liminar do Ministério Público.
2 de setembro
Depois de audiência de conciliação no 1º Tribunal do Júri do Fórum Lafayette, o juiz Renato Dresch autoriza a demolição e marca a data para 14 de setembro.
5 de setembro
Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Minas Gerais (SRTE/MG) embarga a demolição marcada para o próximo domingo, por entender que há risco iminente de acidente de trabalho. Novo projeto de engenharia é requerido à Construtora Cowan.