Conhecido como Jairo do Recreio, Jairo Rueda de Oliveira Guimarães, de 69 anos, era apaixonado pelo Botafogo e pela Portela e compositor de sambas-enredo. Era a grande alegria da família, sempre de alto-astral, muitas brincadeiras e um amor especial pelos seis netos. Para celebrar duas datas especiais, ele programou um dia inesquecível para sábado no Mineirão. Mais do que um jogo da Seleção na Copa, ele realizaria o sonho de assistir à partida Brasil x Chile, que coincidia com a comemoração de seu aniversário. O ingresso foi o presente do filho Carlos Alexandre Guimarães. Mas o resultado foi outro. Jairo não resistiu a uma parada cardiorrespiratória em um hospital de BH depois da partida.
Diabético, ele contou à equipe médica do estádio, durante atendimento no posto de urgência, que havia sete dias não tomava o medicamento para controle da glicose e que sentia dor no peito, segundo o sobrinho dele, João Marcello Rangel Barreto, que o acompanhava no estádio. Além do sobrinho, estavam com o aposentado, o filho dele, Carlos, e a mulher de João Marcello.
O grupo saiu do Rio de Janeiro de carro às 23h de sexta e chegou às 6h à casa de um amigo de João, no Bairro Buritis, Oeste de BH. Os quatro descansaram por três horas, tomaram café e seguiram para o estádio às 10h, em uma van. “Sentamos nas cadeiras ao meio-dia, uma hora antes da partida”, conta o sobrinho. Jairo estava emocionado com aquele momento único, segundo João, e vibrou com muita alegria nos momentos mais marcantes do primeiro tempo, como o hino nacional e o gol de David Luiz.
No intervalo, João e a mulher permaneceram nas cadeiras, Jairo foi ao banheiro e Carlos Alexandre procurou um local para fumar. Na volta, o filho chegou antes do pai e a bola rolou novamente sem que o aposentado voltasse. “Às 14h05, um voluntário da Fifa nos perguntou se alguém acompanhava meu tio, pois ele estava com nossos ingressos no bolso e por isso foi fácil saber a localização”, acrescenta o sobrinho.
RISCO Especialistas alertam para os cuidados que pessoas que sofrem de doenças cardíacas devem ter quando vão a eventos que despertam grandes emoções. São muitas alterações pelas quais o corpo humano e o nível de tensão emocional pode ser alto. Para evitar desgaste físico e problemas mais graves, como hipertensão, infarto e até paradas cardiorrespiratórias, eles recomendam respeito ao uso correto de medicamentos e refeição e hidratação adequadas.
O coordenador estadual de Urgência e Emergência e Gestor de Saúde na Copa, Rasivel dos Reis, lembra que pacientes com saúde delicada precisam manter, no dia da partida, costumes semelhantes aos do dia a dia. “Se a pessoa faz uso controlado de medicamentos, não pode suspendê-lo porque vai ao jogo ou se esquecer de levá-lo, caso tenha que tomar outra dose horas depois. Existem medicações que, se suspensas, podem causar efeito rebote, que significa a piora dos sintomas”, explica o médico.
Ele alerta ainda que a pessoa deve se alimentar bem e beber muita água. “É preciso levar em conta que o tempo fora de casa e da rotina é grande. O jogo não são só os 90 minutos. Tem o deslocamento, o tempo que se chega antes, a partida e a volta para casa. Isso sem pensar na possibilidade da prorrogação e nos pênaltis”, afirma. Além desses fatores, Rasivel diz ainda que a tensão do jogo eleva o nível de adrenalina, que consequentemente leva ao aumento da pressão arterial e a um estresse maior no corpo.
ATENDIMENTO Segundo o Comitê Organizador da Copa do Mundo, o atendimento médico de urgência montado no Mineirão tem estrutura adequada e suficiente e não sofrerá alterações para a próxima partida. “Os postos médicos são montados de acordo com as diretrizes internacionais de emergência e as legislações nacionais das autoridades de saúde federais, estaduais e municipais, além de contar com ambulâncias UTI e básicas, equipes de socorristas com material de primeiros socorros, desfibriladores externos automáticos e pranchas rígidas”, informa a nota.
A partir da classificação de risco e da necessidade do caso, o coordenador médico do estádio decide pela transferência do paciente para hospitais credenciados à Fifa. Os procedimentos de cuidado com a saúde, segundo o comitê, são repassados nos telões do estádio durante os jogos e fazem parte da campanha "11 para a saúde". O goleiro Buffon, da Seleção Italiana, é o representante dessa mensagem.
