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Estado de Minas

Mineiras relatam assédio de gringos em festas da Copa

Grupo de mulheres que frequenta a Savassi reclama de estrangeiros que apelam para beijos forçados e outros abusos na hora da conquista. PM diz que age se houver denúncia


postado em 26/06/2014 06:00 / atualizado em 26/06/2014 07:46

'Ele quase me arrastou. Por sorte, consegui escapar. Eles estão achando que estão onde? Nos sentimos invadidas e desrespeitadas', Fernanda Carvalho, 32 anos, consultora(foto: EM/D.A.Press)
'Ele quase me arrastou. Por sorte, consegui escapar. Eles estão achando que estão onde? Nos sentimos invadidas e desrespeitadas', Fernanda Carvalho, 32 anos, consultora (foto: EM/D.A.Press)
É no ponto de encontro entre brasileiros e estrangeiros, na Savassi, na Região Centro-Sul, que o limite entre a paquera e o assédio está, a cada noite, mais tênue. Mulheres que frequentam a região reclamam de abusos de alguns turistas na tentativa de conquistá-las. Há desde beijos forçados a apalpadas sem consentimento. Garotas entrevistadas pelo EM acreditam que casos do tipo ocorrem porque muitos estrangeiros consideram as brasileiras “fáceis” e “sempre disponíveis”. A Polícia Militar alerta que, se houver denúncia, investigará casos e poderá punir os responsáveis.


Na noite de terça-feira, quando os ingleses invadiram a Savassi, depois da partida da Inglaterra contra a Costa Rica, no Mineirão, o Estado de Minas acompanhou o clima da festa e ouviu os relatos de algumas mineiras que discordam da forma como muitos homens de fora se aproximam. Enquanto algumas até assediavam os estrangeiros, outras se sentiam desrespeitadas.

É o caso da estudante Camila Peixoto, de 22 anos. Naquela terça-feira, por volta das 20h, Camila, que estava animada com o clima, foi ao banheiro de um bar, no quarteirão fechado da Rua Pernambuco, e, segundo ela, foi molestada por um inglês. “Ele estava com uma menina e quando ela entrou para o banheiro, ele apertou a minha bunda. Fiquei tão assustada que não quis brigar e comentei com uma outra garota que também estava na fila. Ela disse que o rapaz também havia passado a mão nela”, relatou Camila.

A indignação é a mesma para a consultora Fernanda Carvalho, de 32. Ela conta que, na semana passada, um polonês que ela conheceu durante a festa na Savassi quis levá-la para o hotel onde estava hospedado. “Ele quase me arrastou. Por sorte, consegui escapar. Eles estão achando que estão onde? Nos sentimos desrespeitadas”, contou. “Como muitas brasileiras estão assediando demais os estrangeiros, talvez eles estejam se sentido livres para pensar o que quiserem de nós”, comentou.  A instrutora de autoescola Adriana Cristina reclamou: “No domingo, os argentinos estavam fotografando o nosso bumbum. É um absurdo, não somos objetos.”

Segundo a coronel Cláudia Romualdo, comandante do policiamento da capital, a Polícia Militar está preparada para agir nesses momentos, mas é preciso que queixas sejam formalizadas para que o acusado seja punido. “Há uma multidão, e não é fácil identificar qual ‘passada de mão’ é consentida ou não. Por isso, essas mulheres têm de vir até a polícia e relatar o que houve. Elas têm que nos indicar o autor do abuso e ir conosco para a delegacia”, explica Cláudia. Ela ressalta que a PM está orientada a prender estrangeiros ou brasileiros  flagrados assediando mulheres sexualmente.  “Todos vão à Savassi para se divertir. O limite, cada um impõe o seu, seja homem ou mulher”, disse.

No último dia 19, um argelino, de 17 anos, foi detido, na Região da Savassi, por esses motivos. O rapaz teria passado a mão nos seios de uma jovem de 23 anos quando ela descia do carro, na Rua Professor Morais, Bairro Funcionários. O garoto foi levado ao Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional (CIA), no Barro Preto,  e liberado horas depois.

NA VISÃO DELES
Estrangeiros ouvidos pela reportagem negaram faltar com o respeito, mas disseram achar as brasileiras mais liberais.  O peruano Jorge Arewalo, de 34, por exemplo, disse que está em BH desde o início da semana e só não “pegou ninguém” em um dos dias. “As peruanas são mais quietas. As brasileiras são belas e calientes. Acho que no Peru há um falso moralismo que aqui não há”, observou. Já o argentino Gonzalo Hallonnat, de 30, disse que há “facilidade para o beijo aqui.” “Mas temos respeito”, garantiu.

Em Curitiba, a prefeitura da cidade lançou uma campanha para conscientizar os homens sobre a importância de respeitar as mulheres do Brasil. O slogan “Não, significa não - Não importa de onde você é, respeite nossas mulheres” foi traduzido para cinco idiomas.

 

Palavra de especialista

Marisa Sanabria - psicóloga, mestre em filosofia e coordenadora do grupo de trabalho A Questão do Feminino

“É uma violência”

“Existe um estereótipo de que, em países tropicais, há exuberância e abundância, e o corpo da mulher entra nesse pacote. Há, nisso, um problema social, histórico. Há uma imagem transmitida ao mundo de que a mulher brasileira está disponível. De alguma maneira, essa imagem camufla algumas outras questões do Brasil e, assim, os estrangeiros vêm atrás da sensualidade e da possibilidade de vir e passar a mão em alguma delas sem ser punido, como se aqui fosse um país sem leis. É uma violência contra a mulher que nos leva a uma reflexão: por que o Brasil oferece essa imagem para o exterior? O futebol é um esporte que apela para a masculinidade, e o corpo feminino entra nessa proposta. Basta ver as propagandas. Mas esse tipo de atitude dos estrangeiros não é uma questão ingênua. Em casos extremos, pode gerar turismo sexual, abuso infantil e tantas outras coisas muito graves.”


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