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Estado de Minas

PM vai abrir sindicância para apurar conduta de policial que atirou em deficiente mental

Moradores ateiam fogo a ônibus em protesto contra ação de policial que atirou no peito de portador de transtorno mental. Rapaz portava objeto que foi confundido com arma


postado em 01/05/2014 06:00 / atualizado em 01/05/2014 12:55

Luan tem 18 anos, mas, segundo parentes, comportamento de uma criança de 5(foto: Arquivo pessoal)
Luan tem 18 anos, mas, segundo parentes, comportamento de uma criança de 5 (foto: Arquivo pessoal)
Luan Moreira Madeira, portador de deficiência mental com 18 anos, mas comportamento típico de uma criança de 5, foi baleado no peito ontem por um policial militar, na Avenida Washington Luiz, no Bairro São Bernardo, porque brincava com o que seria uma imitação de arma de fogo. Os próprios militares, da Rotam, o socorreram e o levaram para a emergência do Hospital Risoleta Neves, em Venda Nova. Menos de duas horas depois, um grupo de moradores cercou um ônibus na Praça da Solidariedade, também no bairro da Região Norte da capital, mandou passageiros, motorista e cobrador sairem do veículo e ateou fogo, destruindo-o. Uma forma de protesto cada dia mais comum no país quando alguém é morto ou ferido em ação policial.

“Uma fatalidade”, disse o tenente Sodré, do 13º Batalhão da Polícia Militar, que foi à Praça da Solidariedade acompanhar a ocorrência. “Uma covardia”, afirmou Marta Helena Moreira Madeira, de 54 anos, mãe do jovem, apoiada pelos vizinhos. Há, como em todos os fatos, no mínimo duas versões para o que houve no início da tarde de ontem no São Bernardo: a da polícia e a da família do jovem e vizinhos. As duas divergem em detalhes, mas são semelhantes na conclusão: Luan não é um bandido e foi baleado porque tinha nas mãos um brinquedo que os PMs confundiram com arma de fogo.

 De acordo com a versão de Marta Helena, corroborada pelos vizinhos, passava pouco do meio-dia e Luan brincava com outros meninos na Washington Luiz, perto da Praça da Solidariedade. “Ele tinha nas mãos um pedaço desses comandos de videogame (parte de uma manete). O carro da Rotam, com quatro PMs, chegou e ficou rondando meu filho. Pararam e mandaram o Luan botar as mãos na cabeça. Mas ele não entende muito bem as palavras e mal consegue pronunciar alguma coisa. Em vez de botar as mãos na cabeça, se abaixou para deixar o objeto no chão e o policial atirou, no peito dele.”

Na versão da PM, contata pelo tenente Sodré, Luan tinhas nas mãos uma imitação de arma de fogo, que achou no lixo. “Alguém, que ainda não identificamos, jogou um saco plástico cheio de armas de brinquedo em uma caçamba aqui perto. Acreditamos que os meninos tiveram acesso a esse material. Quando a nossa viatura passou perto dos meninos, esse jovem, que agora sabemos ser portador de deficiência mental, apontou o simulacro de arma e balbuciou palavras desconexas. Ao ver arma, a guarnição atirou. E imediatamente fizemos o socorro. Uma fatalidade.”

Os militares exibiram as imitações de armas – cerca de 40 – e, de acordo com o tenente Sodré, haverá investigação para descobrir quem as teria atirado na caçamba, ao alcance das crianças. O militar diz ainda que foram identificadas algumas das pessoas que incendiaram o ônibus. “Vamos esperar que o motorista e o trocador se recuperem do susto para nos ajudar no reconhecimento. Eles foram ameaçados e estão sob nossos cuidados.” A ação foi rápida. Os passageiros tiverem pouco tempo para deixar o veículo. Alguns, apavorados, saíram até pelas janelas.

Policiais dizem que ele portava réplica de arma, como as que teriam sido achadas em caçamba nas proximidades(foto: Arnaldo Viana/EM/DA Press)
Policiais dizem que ele portava réplica de arma, como as que teriam sido achadas em caçamba nas proximidades (foto: Arnaldo Viana/EM/DA Press)


SEM JEITO A Polícia Militar vai abrir sindicância para apurar em que circunstâncias o jovem deficiente foi baleado e o tipo de arma usado na ação. Marta diz que o filho já esteve sob os cuidados do Núcleo Assistencial Caminhos para Jesus e de outras instituições para crianças e jovens com deficiência mental. “Disseram para mim que não há jeito para o Luan. Eu cuido dele e nem tudo ele faz sozinho.” Os vizinhos o recomendam como um jovem dócil e que todos os dias sai para brincar com as crianças na Praça da Solidariedade. “Todos na comunidade gostam do Luan”, disse uma jovem, indignada com o que o tenente Sodré chamou de “fatalidade” e o que a mãe classifica como “covardia”.

De acordo com a assessoria de imprensa do Hospital Risoleta Neves, o estado de saúde de Luan é grave. Ele deu entrada na unidade às 12h15, passou por procedimentos de emergência para que o sangramento decorrente do tiro fosse controlado e, às 15h30, foi submetido a uma cirurgia para drenagem do sangue na parte interna do tórax. Até o fim da tarde de ontem, ele permanecia no bloco cirúrgico.


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