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Estado de Minas

Pacientes que estiveram em estado vegetativo comemoram alegria de voltar à vida

O grafiteiro Rafael Martins ficou em estado vegetativo por três meses, conseguiu despertar e não ficou com sequelas. "Renasci material e espiritualmente", afirma


postado em 22/04/2014 00:12 / atualizado em 22/04/2014 07:18

Sandra Kiefer

 

Depois de sofrer acidente de moto na Bahia, em 2010, Rafael ficou em coma por três meses. Hoje, está totalmente recuperado (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Depois de sofrer acidente de moto na Bahia, em 2010, Rafael ficou em coma por três meses. Hoje, está totalmente recuperado (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

De forma romantizada, o quadro de pessoas em coma é mostrado no filme Fale com ela (Hable con ella), do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. A história é criticada por especialistas da área por retratar uma jovem bonita, que, depois de anos em coma, acorda bronzeada e sem sequelas. Fora das telas, não é tão bela a vida dos pacientes que despertaram do estado vegetativo persistente. “Durante cinco minutos e meio, eu estive clinicamente morto. Segundo os médicos, minhas chances de sobreviver eram de apenas 2%. Depois de permanecer por três meses em coma e voltar a acordar, considero que renasci, material e espiritualmente”, revela o grafiteiro e artista plástico natural de Belo Horizonte Rafael Martins Costa, de 30 anos.

A transformação interna vivida por Rafael foi tão intensa que, depois do longo processo de recuperação, ele decidiu se mudar para a Bahia, onde considera ter nascido de novo. Em 8 de outubro de 2011, o grafiteiro sofreu um acidente de moto na BR-151, naquele estado, ao ser ultrapassado por um caminhão. O deslocamento de ar jogou a moto longe e arremessou Rafael no asfalto. Apesar do capacete, ele teve parte do crânio esmagado, sendo transferido para o Hospital de Pronto-socorro João XXIII, referência em traumas no país.

“Um colega me contou que eu estava na maca e tinha clarões de consciência. Implorava por Deus, pedindo socorro. Logo eu, que jurava não acreditar nele”, desabafa Rafael. Ele considera que estava atravessando uma fase de revolta, expressa em grafites raivosos nos muros da cidade, que haviam substituído as pichações da adolescência. Estava desiludido com a religião e com o ser humano. “Não me lembro de quase nada na fase do coma. Só da minha tia, perguntando se o acidente tinha sido culpa minha ou do caminhão. Para mim, estava claro que se tratava de um sonho. Mais tarde, porém, parentes me relataram que esta cena havia ocorrido na realidade”, conta Rafael, que é muito próximo dessa tia, que ajudou a cuidar dele na infância, ao lado da mãe.

NOVE MESES O acidente ocorreu em um sábado. Três meses depois, em janeiro de 2011, Rafael acordaria pensando ser domingo. Ainda entubado, precisaria ser imobilizado para não se machucar, devido à enorme agitação em que ficou depois de saber o que havia acontecido com ele. Permaneceria mais três meses internado. Ao todo, passou nove meses no hospital. Saiu na cadeira de rodas. “Olhei bem para o médico e perguntei: ‘Vou precisar disso aqui minha vida inteira? Ele me deu a mão e me ajudou a ir andando até a ambulância’. Precisei fazer muita fisioterapia para fortalecer as pernas”, afirma ele, que deixou o hospital com a cabeça afundada. Mais tarde, fez a reconstituição do crânio por meio de uma cranioplastia no Sistema Único de Saúde (SUS).

 

Dois dias depois de receber alta do HPS, Rafael recebeu um inusitado convite do padre da Paróquia dos Sagrados Corações, no Bairro Padre Eustáquio. Ele sugeriu que Rafael grafitasse o céu com Cristo ressuscitado no altar da igreja, que tem como lema exatamente “Saúde e Paz”. “Nem eu, nem nenhum grafiteiro que trabalha com arte popular espera receber uma proposta dessas. O trabalho para a igreja me salvou, porque me avisou que estava bem de saúde e me ajudou financeiramente. Estava precisando das duas coisas”, completa, lembrando que levou os fiéis às lágrimas com a inauguração da pintura, na Páscoa daquele ano. “Precisei passar por tudo isso para voltar a acreditar em Deus. Sou um exemplo vivo de que estava sendo imprudente na estrada e na minha vida”, afirma, emocionado.

 

 

Torcida por Laurinha

No Brasil, um caso de coma atrai a atenção de 60,5 mil pessoas, conectadas por meio da campanha Acorda, Laurinha, no Facebook. Com a morte da mãe antes do parto, numa maternidade de Fortaleza (Ceará), a bebê Laura Praciano foi retirada com vida da barriga, pesando mais de 4 quilos e com as funções vitais intactas. No entanto, passados mais de 70 dias do nascimento, em 6 de fevereiro, a criança até hoje não acordou. Uma corrente mundial de oração e fé se formou-se em torno da incubadora.

O drama vivido por Laurinha, em coma há 70 dias, mobilizou milhares de pessoas
O drama vivido por Laurinha, em coma há 70 dias, mobilizou milhares de pessoas
“Se você não acredita em milagres talvez você tenha se esquecido de que é fruto de um”. Com esta frase premonitória, acompanhada da foto de pezinhos saudáveis de um bebê, Paula Praciano mãe de Laura, abria sua página no Facebook em dezembro, alguns dias antes de morrer. Ela teve um choque anafilático, depois de receber o antibiótico prescrito pelo obstetra, ao se internar para fazer a cesariana.

Segundo o relato de familiares, o parto estava marcado para as 10h. A grávida e a mãe dela, Julita Cruz, chegaram mais cedo para ajeitar as lembrancinhas e colocar uma boneca na porta do quarto. “Quando Paula começou a passar mal, você acredita que não havia um obstetra de plantão na maternidade? Ela foi atendida por um otorrino, que não conseguiu reverter o quadro”, denuncia o representante comercial Matheus Teixeira, de 35 anos, primo de Paula e fundador do grupo no Facebook.

 

 

Depois da tragédia, a página da campanha criada em prol do bebê também seria ilustrada, por extrema coincidência, com fotos dos pés de um recém-nascido. Desta vez, porém, não pertencem a um bebê anônimo, mas sim à própria Laura, a pedido do pai, que evita expor o rosto da filha. Atualmente, Laura usa apenas 6% do respirador. “Ela sofreu um edema cerebral no parto, por falta de oxigênio. Os médicos dizem que depende apenas dela despertar. Para nós, Laura representa a sobrevida da minha irmã”, define o tio Romeu Praciano, de 37.

A campanha Acorda, Laurinha já recebeu a adesão de simpatizantes de países como Alemanha, Japão e França. No Vaticano, em Roma, há um grupo de religiosos orando diariamente pelo despertar da criança. “Ninguém até agora entrou para criticar. O que mais impressiona são os mais de 100 testemunhos de pessoas dizendo que já estavam descrentes da religião e voltaram a rezar pela Laurinha, outras que estavam no fundo do poço e passaram a dar mais valor à vida, além daquelas que relativizaram o tamanho dos próprios problemas. Tudo isso nos ajuda e nos conforta”, completa o primo.

DEDICADO À FILHA Desde a morte da mulher e o nascimento da filha, o marido e pai, o representante comercial de Fortaleza, Ádamo Cruz, ainda não se manifestouna imprensa. Concentra todas as energias na recuperação da Laurinha. “No início, ele conseguiu uma licença de 60 dias. Como ultrapassou este período, ele teve de voltar a trabalhar. Antes de ir para o serviço, ele dá uma passada no CTI para ver a filha. Depois, almoça com a sogra (mãe da Paula) no hospital e retorna à noite, onde fica até por volta de 20h segurando a mãozinha da Laura e conversando com ela”, conta o tio.

Quando acontece o problema, primeiro vem o luto imediato, ensina a fisioterapeuta especializada em neurologia Marília Borges, há nove anos no exercício da profissão. No primeiro mês da doença, aparecem familiares e amigos querendo apoiar e dar suporte, inclusive financeiro. “Passado o primeiro semestre, porém, as coisas tendem a se acalmar e, depois do primeiro ano do coma, a família cai em si. Percebe que o paciente irá limitar não só a própria vida, mas a de todos a sua volta”, diz. Algumas famílias criam um laço forte com o paciente em coma, especialmente se ele for criança ou adolescente. “É uma forma diferente de afeto, quase um apego”, explica.


PALAVRA DE ESPECIALISTA: cláudio Dornas, Coordenador médico do CTI DA SANTA CASA DE Misericórdia de Belo HorizonteBH
Cérebro fica inativo
“Não é correto dizer que a pessoa em estado de coma está dormindo, porque o cérebro do paciente nesta situação deixa de apresentar atividade cerebral. No sono, as ondas cerebrais permanecem atuantes. Ao contrário do que parece, é imenso o gasto de energia para manter o corpo funcionando. Trata-se, na verdade, de um quadro de estresse, pois o organismo se esforça para tentar resgatar as funções do cérebro. O fluxo de sangue vai todo para a cabeça”.


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