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Estado de Minas

Mães se unem para ajudar pessoas a superar perdas e para cobrar ações contra a violência

Recém-criado em BH, Movimento Mães Mudando o Brasil mobiliza mulheres em busca de solidariedade


postado em 15/02/2014 06:00 / atualizado em 15/02/2014 01:14

Magda, Elaine e Ana Flávia, do movimento fundado depois da missa de sétimo dia de Matheus Salviano, morto por ladrões no Gutierrez(foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS)
Magda, Elaine e Ana Flávia, do movimento fundado depois da missa de sétimo dia de Matheus Salviano, morto por ladrões no Gutierrez (foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS)

Em 2001, Rose do Vale, de 50 anos, perdeu o marido, as filhas de 16 e 14 e o filho de 9 em acidente de automóvel, em Linhares (ES). Como se não bastasse, ela ainda perdeu a mãe ao saber da notícia – vítima de infarto. “O carinho dos meus irmãos e a força dos jovens amigos dos meus filhos trouxeram grande consolo ao meu coração. Tive uma família maravilhosa”, diz. As palavras de superação de Rose estão ajudando mães que ela nem conhece. Na quinta-feira, durante a missa de sétimo dia do jovem Matheus Salviano, assassinado no Bairro Gutierrez, foram muitas as mães reunidas tocadas pelo depoimento da mãe fortaleza.

“Disseram que o Brasil havia despertado e voltou a dormir. Agora é com a mãe do gigante.” A frase é de uma das muitas mulheres do movimento Mães Mudando o Brasil (MMB), nascido na missa de Matheus, que só nas últimas 72 horas conseguiu mobilizar centenas de senhoras preocupadas com o futuro dos filhos. Já são 50 em ação. Elaine Barra Romanelli, de 50 anos, assombrada com a violência “desenfreada” no país e sensibilizada com o drama das famílias de Matheus e de Leandro Trindade do Nascimento, morto e atropelado há uma semana na Avenida Raja Gabaglia, está à frente do MMB, que, no momento, se mobiliza por “mudanças efetivas da lei, como o Código Penal, contra a impunidade e por medidas urgentes”.

O grupo busca aconselhamento de advogados e cidadãos com conhecimento das leis para documento de ação pública. Elaine ressalta que os últimos crimes  foram a gota d’água “desesperadora”. A empresária e suas aliadas acreditam no movimento de mães como ferramenta eficiente e continuada para atitudes concretas para melhorar “a paisagem de perigo e de pouca esperança” que tomou o horizonte do país. “Estamos ouvindo amigos, pessoas próximas, dizendo que a solução é mudar de país, porque aqui ninguém está a salvo. Nossos filhos saem de casa e não sabemos se eles vão voltar. Temos que mudar isso”, diz.

Ana Flávia Velloso Costa Ferreira, de 44, do MMB, teve uma faca no pescoço numa manhã de domingo na Savassi. Mãe de jovem amigo de Matheus, assassinado, ela está assustada com a insegurança e o medo das famílias. “Vivemos um período de barbaridade. Estamos todos na fila da morte pelos criminosos. Os bandidos estão matando por prazer. Porque não têm futuro. Para nós é assustador, já para os bandidos, assassinar tem se tornado rotina. Isso não pode continuar assim”, desabafa. Mãe de cinco filhos, Ana Flávia diz não ter mais sossego com os que ama quando estão nas ruas.

O filho mais novo de Magda Freire, de 63, ameaçado com um revólver na cabeça, teve o carro roubado recentemente no Bairro Prado, na Região Oeste de Belo Horizonte. Com três filhos e seis netos, a empresária de Diamantina mostra-se indignada com a impunidade e com a falta de respeito à vida. Integrante do recém-criado MMB, Magda cobra do poder público medidas urgentes contra a falta de segurança. “O governo não pode continuar tão omisso. Hoje, no Brasil, estão morrendo mais pessoas do que nas guerras de que temos notícias mundo afora”, considera.

"Você não imagina como o sofrimento vem vivo quando vejo o sofrimento dessas mães", Jocélia Brandão, mãe de Míriam, que foi assassinada em 1992 (foto: JAIR GONTIJO/EM/D.A PRESS 1/9/2011 )
FERIDAS ETERNAS

Em 1992, uma mãe recolheu os restos mortais da filha de 5 anos, sequestrada, assassinada, esquartejada e queimada. De lá para cá, nada mudou quando o assunto é a violência que mata e diminui famílias. Jocélia Brandão, mãe da pequena Míriam Brandão, vítima de um crime que estarreceu o Brasil, não consegue deixar de pensar sobre como seria a filha, que teria hoje 26 anos. “O tempo nos faz aprender a conviver com a dor, com a ausência, com a saudade, mas não é capaz de me tirar o pensamento de como seria a minha filha hoje, 21 anos depois”, emociona-se.

As notícias de impunidade e de mortes bárbaras, como o assassinato de Matheus, segundo Jocélia, fazem seu “coração de mãe sangrar com o drama de tantas famílias”. “Você não imagina como todo o sofrimento vem vivo quando vejo o sofrimento dessas mães. Imagino o tamanho da dor, neste momento, que está no coração da mãe de Matheus”, lamenta.

Jocélia acaba de perder o pai, de 84 anos. Diz-se triste e comenta a caminhada bonita, feliz, do velho. Com a voz embargada, mãe para toda a vida, não deixa de trazer a filha para o contexto. “Perder uma filha é lembrança sofrida para toda a vida”.

FÉ E AMOR Há uma semana, Anete Trindade do Nascimento, de 59, enterrou o filho Leandro Trindade, aos 28, em atropelamento na Avenida Raja Gabaglia. No coração, “muita fé e amor” para lidar com a dor da perda. Kardecista, Anete diz que o filho parecia estar preparando-a para partir. “Ele, do nada, no ano passado, chegou perto de mim e agradeceu: ‘Obrigado, mãe, por ter cuidado de mim’. Dos 7 aos 18 anos ele fez uso de remédio por causa de uma espécie de reumatismo”, conta. A agente de saúde diz que não tem ódio no coração. Diz não alimentar nenhum sentimento ruim contra o motorista que atropelou o filho. “Coloco-me no lugar da mãe dele. No lugar dela, eu estaria sofrendo muito mais. Meu filho está bem, nos braços de Deus. Só deixou alegria e bondade. O dela vive o sentimento de culpa e deve estar sofrendo muito. Espero, de coração que a justiça de Deus possa fazer desse rapaz uma pessoa melhor”, desabafa.

 

 Enquanto isso...


...Nenhum assassino foi preso até agora

Dois crimes e nenhum assassino preso até agora. A Divisão Especializada de Operações Especiais (Deoesp) aguarda o laudo da perícia feita pelo Instituto de Criminalística para saber se os assaltantes que mataram o estudante de engenharia de produção Matheus Salviano Botelho de Morais, de 21 anos, deixaram impressão digital no carro da vítima. O crime ocorreu na noite de sexta-feira da semana passada, no Bairro Gutierrez, Região Oeste. O Punto foi encontrado na madrugada de terça-feira no Barreiro. “As investigações estão andando”, disse o chefe do Deoesp, delegado Wanderson Gomes. Outro desafio da polícia é chegar ao homem que matou o advogado e fisioterapeuta Christiano D’Assunção Costa, de 34, na noite de 28 de janeiro. Ele deixava uma academia da qual era sócio, no Bairro Buritis, Região Oeste da capital. “Temos informações que podem nos levar ao autor do crime”, informou o delegado Alexandre Oliveira da Fonseca, da Homicídios Barreiro.


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