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Estado de Minas

Polícia desarticula quadrilha que vendia por até R$ 150 mil acesso a cursos em 8 faculdades

Golpistas negociavam gabarito ou vaga independentemente de desempenho


postado em 04/12/2013 06:00 / atualizado em 04/12/2013 08:09

Entre os 21 detidos na operação de ontem há várias mulheres. Depois de oito meses de investigação, polícia pretende concentrar atenções em funcionários de faculdades (foto: Fotos: Beto Novaes/Em/D.a Press)
Entre os 21 detidos na operação de ontem há várias mulheres. Depois de oito meses de investigação, polícia pretende concentrar atenções em funcionários de faculdades (foto: Fotos: Beto Novaes/Em/D.a Press)
Caratinga - Até R$ 150 mil para cursar medicina em uma universidade particular de Minas ou do Rio de Janeiro. Esse era o valor que candidatos chegavam a desembolsar para participar de um esquema fraudulento, desbaratado ontem pela Polícia Civil de Caratinga, no Vale do Rio Doce, que colocou na cadeia 21 homens e mulheres integrantes do bando. Resultado de oito meses de trabalho, a investigação mostrou que o grupo montou uma engenharia que garantiria a entrada de quem pagasse pela vaga de duas maneiras. Na mais simples, o candidato a médico recebia o gabarito via celular ou ponto eletrônico, enquanto fazia a prova. Na mais sofisticada, bastava fazer o exame. Independente do resultado, a quadrilha atestava que a vaga estaria assegurada. Pelo menos oito instituições mineiras aparecem no escândalo, sendo três na Grande BH: PUC Minas Câmpus Betim, Ciências Médicas e Faminas-BH.


Segundo a Polícia Civil, 21 golpistas foram identificados, desempenhando papéis diferentes no esquema. Os cabeças foram denominados coordenadores e, de acordo com a investigação, têm informações privilegiadas sobre os testes e faculdades. Sob sua influência estão os pilotos, extremamente inteligentes e especializados em resolver provas de vestibular. Esse grupo fazia os exames e fornecia o gabarito que a quadrilha repassaria aos compradores de vagas. Entre os presos aparecem ainda os designados para agenciar clientes. As buscas foram feitas em 32 endereços, onde agentes apreenderam R$ 500 mil em dinheiro e vasto material, como documentos, pontos eletrônicos, celulares, testes, um carro e até munição de uso restrito.

“A partir de agora a investigação vai apontar para os ‘insiders’, golpistas que atuariam dentro das faculdades. Vamos investigar qual é a participação deles”, diz o delegado Fernando Lima. O policial explica que o grupo é tão especializado que até os celulares eram preparados para que não fossem flagrados por detectores de metal. “Eles iam até lojas de celular para preparar o telefone. Em alguns casos tiravam o alto-falante, maior peça metálica, já que só precisariam ler as mensagens com o gabarito”, acrescenta Lima. O delegado explicou também que, para dar celeridade ao processo, os pilotos se dividiam por matérias. “Cada um fazia uma matéria e saía bem cedo da prova. De posse do gabarito, o coordenador disparava para os candidatos.”

Entre os presos há estudantes acusados de comprar vagas que, seduzidos pela rentabilidade da atividade que beneficiou mais de 50 pessoas apenas durante os oito meses da investigação, teriam migrado para o lado ativo da quadrilha. Também são suspeitos de participar do esquema médicos, estudantes de medicina, pais de estudantes, além de um funcionário público aposentado e um fazendeiro. Segundo a Polícia Civil, não há informação que ligue a fraude ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Só depois da conclusão do inquérito é que os policiais poderão afirmar se a prova nacional também foi alvo dos bandidos.

Foram presos Quintino Ribeiro Neto, de 63 anos; Maria Aparecida Calazani, de 37; José Cláudio de Oliveira, de 41; Rômulo de Abreu Neto, de 56; Mirela de Souza Faria, de 33; Samyra Sarah Marques, de 26; Talytta Cristine da Silva, de 26; Spencer Almeida de Oliveira, de 22; Azenclever Eduardo Rogério, de 39; Lorena Rocha Marques, de 22; Marcelo Alves Vasconcelos, de 25; Sergiane Rodrigues Calazani, de 32; Antônio Camillo de Souza Neto, de 39; Gláucia Adriana de Carvalho Peixoto, de 44; Nathalie Franco Savino, de 30; e Jorge Rodrigues de Oliveira, de 60. Na lista também figuram Micheline Vieira Ribeiro, Eduardo Carlos Pereira, Shirlene Teixeira Reis Vieira e Evanelle Franciane de Souza, que não tiveram as idades divulgadas. Todos os 21 envolvidos podem responder por associação criminosa, fraude de concursos de interesse público, estelionato, falsificação de documentos públicos e particulares, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

Em Minas, figuram como alvos de fraude no vestibular, além das três instituições de BH, a Faculdade de Medicina de Barbacena (Fame); o Centro Universitário de Caratinga (Unec); Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac), de Juiz de Fora; Universidade de Itaúna; e Universidade do Vale do Aço (Univaço) de Ipatinga. No Rio de Janeiro aparecem nas investigações a Universidade Iguaçu (Unig), de Itaperuna e de Nova Iguaçu; Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP); e Unifeso, de Teresópolis.

Memória

PF desbaratou bando em 2012

Em dezembro de 2012, uma operação da Polícia Federal (PF) prendeu 46 integrantes de uma quadrilha especializada em fraudar vestibulares de medicina no Distrito Federal e em 10 estados. Segundo a PF, entre 2011 e 2012, 54 diferentes provas de vestibular para medicina foram fraudadas. Quarenta e cinco instituições de ensino foram afetadas no país. Documentos falsos eram usados e os gabaritos, passados por meio de pontos eletrônicos. Em Minas, foram presas seis pessoas que tinham a função de fazer provas no lugar de candidatos. Em Montes Claros, no Norte do estado, um estudante de medicina de 27 anos foi detido em seu apartamento, onde foi encontrada grande quantidade de material usado para driblar a fiscalização. Entre os equipamentos estavam óculos especiais, com aparato eletrônico para o recebimento de respostas das provas pelos candidatos que compravam os serviços da quadrilha.


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